“A Rede Social” (The Social Network)
“A Rede Social” (The Social Network)
Groucho Marx costumava dizer: não posso ser sócio de um clube que me aceite como sócio. Entre outras e por livre associação, digo que a pequena platéia não era seleta, já que eu fazia parte dela. No início de 2008 assisti um orador que assim dizia: você só é confiável para o Plano Espiritual quando se torna auto-sustentável.
E uma vez na associação livre conclui-se que Mark Zuckerberg deve ser uma das almas mais confiáveis do universo.
David Fincher dirige a direção com uma precisão digna de nota máxima, a trilha de Trent Reznor engrandece sobremaneira o trabalho e quem escreve o roteiro chama-se Aaron Sorkin – esse é Master.
Duvideodó que história do Facebook não tenha sido acertada nos bastidores seja com aval, encomenda não oficial, ou grana extra do próprio Zuckerberg, o mais jovem bilionário da esfera.
Pouco importa.
Enquanto cinema “A Rede...” é um acerto só, difícil dizer qual o prazo de validade, mas por hora tá valendo.
Em determinado local e hora de 2003 baixou o santo no jovem Zuckerberg. Estamos no início do filme. Enquanto muitas fortunas começaram a partir do medo, da vingança ou da ambição desmedida, “A Rede...” mostra que a raiz de tudo começou num lampejo de genialidade, as cenas do ator Jesse Eisenberg criando o dito Face Mash de madrugada, os termos que ele usa e que descrevem suas ações no computador – que para nós leigos significam patavina, a chegada do amigo dele, que se tornaria sócio e depois litígio, essa cenas ocorrem entrecortadas com a chegada de uma mulherada numa festa, antes elas estavam num ônibus, que isso tudo dure 5 ou 7 minutos irrigados por uma trilha nem te conto, nesse ponto você simplesmente rumina: aí tem filme.
A escolha do jovem ator Jesse Eisenberg para interpretar Zuckerberg foi um incontestável gol de placa. A ausência total de astros ou estrelas carimbadas descreve outro acerto. Tampouco estão lá aqueles tipos pretensiosos e fabricados a toque de caixa que estragaram nossa diversão, algumas vezes, na década passada.
Moderno sem a demência da modernidade, “The Social...” é um filme protagonizado por molecada, sobre a molecada no primeiro mundo, primeiro em Harvard, depois Califórnia. Quem toma as rédeas do espetáculo, porém, possui as barbas brancas do saber. Aparadas ou tingidas.
Naquela noite em 2003 o pseudo site de Mark teve 22.000 acessos num par de horas e derrubou o sistema de Harvard. Uma semana depois ou em torno disso os irmãos Winklevoss o procuram, pois eles tem uma idéia na cabeça – um site que contenha o seu perfil disponibilizado para todos os estudantes de Harvard. Mark diz “eu topo” e depois desaparece, para re-aparecer 2 meses depois com o The FaceBook. Seu incrível talento para lidar com programação levou-o ao projeto anterior, algo que estourou numa noite, mas não apresentava serventia futura. A princípio não passava de uma bravata com a ex-namorada. Com a idéia dos irmãos Winklevoss na cabeça e um algoritmo nas mãos nasce o pontapé inicial do milionário negócio.
Kevin Spacey figura entre os produtores.
A narrativa parte de uma técnica que os americanos são experts – durante 15 minutos são lançadas toneladas de informações, personagens e situações, bem ao estilo do Runaway Jury (“O Júri”). Passado algum tempo a mente passa a decodificar os signos sem maiores obstáculos.
O apelo publicitário da obra, exposto em cartazes nas salas de exibição, não faz jus ao novelo. Com muita boa vontade as figuras apresentadas podem ser inseridas no contexto de inimigas de Zuckerberg. Todo o filme tem como pano de frente os dois processos que ele enfrenta, quase simultâneos, um com os irmãos Winklevoss, outro com seu ex-sócio Eduardo Saverin, vivido pelo ator Andrew Garfield.
Conflitos emocionais, extremo dinamismo, inteligências super dotadas e arrogantes esbanjam e caem pelas tabelas nos diálogos pra lá de afiados de Aaron Sorkin.
Dada altura, Zuckerberg conhece Sean Parker, o cara que havia criado o Napster (leia-se baixar músicas pela web), ganhou milhões para em seguida perder quase tudo em processos. Todavia, Parker tinha o traquejo de conectar-se com as pessoas certas e deu ao Facebook dois grandes impulsos. Foi ele que elevou o site à categoria do milhão que viria ser bilhão. Também foi ele quem sugeriu: tire o The, deixe só Facebook.
Deu no que deu.