A ONDA

RESENHA FÍLMICA

“A ONDA” – MINHAS REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE O HOMEM E O FENÔMENO TOTALITÁRIO

A primeira coisa que me veio à mente quando foi nos dada a missão de escrever esta resenha foi a seguinte: Foi pedido que escrevêssemos de forma profunda, mas como fazê-lo numa resenha?

Esta modalidade textual não se destina a fazer exatamente o contrário? Uma chapinhada na superfície, uma abordagem ligeira, desprovida de maiores indagações filosóficas, este não é o objetivo de uma resenha? Assim, deixemos a profundidade aos tratados.

Nisso, o filme “A Onda”, experiência real de um professor maluco da Alemanha, impressiona pela capacidade que o ser humano possui para se submeter, para obedecer sem maiores questionamentos, tudo isso para simplesmente fazer parte de um grupo, um ridículo grupo de loucos fanáticos.

Ou seja, é do humano a necessidade de pertencer a algo, de fazer parte de uma turma, de alguma coisa maior do que ele mesmo, a tal da necessidade insana de transcendência.

Aproveito para discordar de uma fala do professor que, certa vez, disse que “ser ateu é como ter fome e se recusar a comer”.

O professor fala de sua experiência pessoal e no máximo do que tem visto nas pessoas que conhece, junto ao muito que leu; mas não tem ele acesso ao coração de cada homem e cada mulher para saber qual é a real necessidade de transcendência que alguém pode possuir.

Ainda na transcendência, esta talvez seja a maior mola da humanidade, ou uma das maiores, pois quem não quer vencer a morte? Quem não vai querer fazer parte de alguma coisa maior, maior do que ele mesmo na sua pequenez absurda frente à imensidão abissal do universo? O antropocentrismo faz mal à humanidade, muito mal.

Desdenhamos de nosso próprio corpo carnal para dar espaço a divagações improváveis que alguns filósofos pensaram há milênios. Devemos nossa miséria existencial, sexual, espiritual, corporal, e enfim, tudo o que for carente e minguado ao pensamento idealista platônico. Claro, reforçado e ampliado pela babaquice milenar cristã.

Antropocentrismo exacerbado, necessidade de transcendência, esperança num messias... Ora, não podíamos ser nós mesmos? Ou seja, não podíamos nos contentar em ser o nosso próprio corpo? O que há além do corpo? Em que espaço geográfico está localizada a tal quimera de fumaça chamada alma?

O totalitarismo não é nada mais do que o HOMEM, medida de todas as coisas, visto assim por si mesmo, é bom frisar, já bem definido por Protágoras, elevar o seu antropocentrismo à enésima potência, e fazer com que toda essa força, essa necessidade de poder, de domínio, de subjugar, de fazer com que toda sua bestialidade de animal domesticado à força se imponha sobre os menos afortunados que cruzarem o seu caminho.

Mandemos o ser humano para o divã. Ele precisa acertar ainda muitos detalhes mal resolvidos de sua psique.

Não aceita suas próprias limitações, cria heróis e deuses para projetar nestes todas as suas impossibilidades, isto é, tudo o que ele não pode ser está nos seus deuses e heróis. Deus tudo pode, Deus está em todos os lugares, Deus sabe tudo, ou seja, Deus é tudo o que queríamos ser, inclusive, imortal.

Temos a potencialidade totalitária em nós? Sim temos, e a qualquer momento ela pode surgir, emergir do fundo de nossa “alma”.

Não adianta muito estudar o que é o totalitarismo para conscientização dos seres humanos, pois o totalitarismo é um fenômeno eminentemente e intrinsecamente humano, demasiado humano.

Não vamos querer ser como o decadente Sócrates que pensava ser a ausência de conhecimento o fator que levava o homem a praticar o mal.

O mal é parte integrante do homem e a história nos mostra que a recorrência a expedientes cruéis e inescrupulosos são a regra. Querer uma ética universal, uma moral totalizadora, um imperativo categórico kantiano é, ao contrário do que os fatos mostram, apenas um ideal utópico.

Então, o que dá margem ao totalitarismo são esses ingredientes da cultura ocidental. O seu enorme antropocentrismo, a sua insana necessidade de transcendência e a tola vontade de ser tudo aquilo que efetivamente não é.

O totalitarismo foi um dos heróis, um deus, para aqueles que o seguiram. Em nome de uma sociedade ideal, que nunca existiu e nunca existirá, foram cometidas as maiores loucuras que o ser humano já foi capaz. Pois somente os inocentes esperam por uma sociedade ideal, por um ser humano ideal, porque o ideal é justamente o contrário do efetivo.

Se a humanidade persistir por alguns milênios, o que é muito pouco provável, talvez, quando se der conta de que é apenas um corpo que vaga num minúsculo planeta num universo infinito que não está em nada interessado nos destinos humanos; quando se aceitar a morte como fatalidade inerente à vida e fenômeno natural, físico; quando a necessidade de transcendência der espaço a uma conformação com a sua imanência, talvez o homem finalmente se livre da possibilidade de viver sob o jugo de Estados totalitários.

Quando se conformar em ser apenas aquilo que é, nada mais. O totalitarismo é fruto do próprio homem que não se aceita como tal e espera em quimeras e regimes governamentais ideais por um mundo melhor.

Bem, para uma simples resenha acredito que por aqui já está muito bom. O resto das ideias eu deixarei para o tratado filosófico sobre o poder que ainda escreverei.

Até lá!

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 09/12/2010
Código do texto: T2662391
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.