“Poder Além da Vida” (Peaceful Warrior)
“Poder Além da Vida” (Peaceful Warrior)
Sabe qual é a primeira realização do verdadeiro guerreiro? Não saber o que fazer.
O gênio das 1001 Utilidades da Comunicação, também conhecido por cinema, também se presta a retirar os pregadores do deserto e deixá-los na prateleira à sua escolha.
Escrito pelo ex-atleta olímpico Dan Millmam nos 80, somente em 2006 o cineasta Victor Salva trouxe à baila a epopéia vivida por Dan.
Nick Nolte e Scott Mechlowicz, respectivamente mestre e discípulo, mostram para espectadores e quiçá futuros noviços na senda, o manual prático da auto realização através de uma história verídica.
Fazendo uso de uma pequena metáfora, e de outra pequena imprecisão, podemos dizer que Scott era um atleta patrocinado pelas cervejarias Sanhaça&Carcaça, munido evidentemente do conjunto de valores pertinentes – tô nem aí, sô arrogante e prepotente – e numa tarde cinza o barraco cai pra valer. Teria conhecido a solidão como poucos, não fosse o mestre Nolte, que já estava na vida dele, fora descartado, mas, saibam, ninguém se descarta assim de um mestre. Mesmo porque, o caminho é inverso.
Ao longo do tempo o personagem vivido por Nick Nolte tem sido, aqui e ali, descrito veladamente por literaturas sérias como aquele que já atingiu a posse de si mesmo, e que circula entre nós com o único propósito de prestar serviço avançado aos que buscam avanço avançado. Esse personagem dirá para o discípulo que sempre tem alguma coisa acontecendo ao seu redor, que a vida não é um papel em branco esperando ser preenchido por algo grandioso, mas antes uma tela à espera do pontilhismo, ou seja, pequenos pontos, e que ao fim de tudo a famigerada morte não passa de uma transformação, algo pouco mais radical que a puberdade.
Victor Salva, um cineasta que faz o tatibitati sem deixar o feijão entornar nos deu um filme de palavras – a essência da pregação – você fala e eu escuto, sendo então nas falas entre Nick e Scott a morada do real valor desse entretenimento.
Scott não consegue dormir e sai para dar uma volta de moto, às 3 da manhã. No caminho há um posto de gasolina e um insone, misto de frentista e mecânico. Eles trocam olhares. Scott é um garoto na casa dos 20, se tanto, e a carranca de Nolte se presta com incrível conformidade ao personagem visado.
Com lugares comuns que são autênticos oásis para quem está de ressaca de eleições&previsões&selvageria urbana, “Peaceful...” entretém e obviamente ensina, cinema sempre ensina, seja para a esquerda ou para a direita.
Durante um período Scott se esforça em seguir os ditames do mestre, daí ele abandona tudo e volta pra gandaia, até se esborrachar de moto e constatar que sua popularidade era proporcional ao número de visitas que recebeu no quarto de hospital. Sem amigos, com 18 pinos na perna e um incômodo no peito, popularmente conhecido como “vazio”, ele vai de bengala em punho à casa do mestre e se diz disposto a fazer tudo o que ele mandar.
Nick arqueia a sobrancelha e emenda: é mesmo? Então eu quero que você volte a treinar. Scott blasfema e sapateia, argumentando que isso é impossível.
O autor do livro Way of Peacefull Warrior, que viveu na carne a experiência, nunca revelou o nome de seu mestre. Quando do lançamento do filme, em entrevista, ele disse que isso não reservava a menor importância.
Todavia, na época do ocorrido, o que ele ouviu desse misterioso professor, era que ser guerreiro não implica em vitória ou perfeição. Tampouco relaciona-se em conquistar algo ou alguma coisa. Trata-se apenas que um guerreiro não desiste daquilo que significa seu cerne em ação neste mundo, isso porque, ao agir na sua própria trilha, ele encontra naquilo que faz o mais nobre dos sentimentos.