Resenha do documentário "O Processo de Tiradentes" , de Ricardo Tosto e Paulo Guilherme M. Lopes JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, O TIRADENTES
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QUEM FOI TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu em 12 de Novembro de 1746 na Fazenda do Pombal, Minas Gerais, e morreu enforcado no dia 21 de abril de 1792 no Rio de Janeiro. Tinha 45 anos. Seus pais eram Domingos da Silva Santos e Maria Antônia da Encarnação Xavier pequenos proprietários rurais.
Em 1755, após o falecimento de sua mãe, mudou-se com a família para a Vila de São José, hoje rebatizada com seu nome. Depois da morte do pai a família ficou sem recursos e os sete filhos do casal se dispersaram. Joaquim José foi morar com um padrinho, que era cirurgião, o qual lhe ensinou os ofícios de pratico farmacêutico e dentista.
Evidentemente não era formado em nenhuma dessas profissões, como a maioria dos práticos da época. A alcunha “Tiradentes” lhe veio dessa prática, pela qual ficou conhecido em toda a região das minas.
Foi na execução dessa tarefa que Joaquim José começou a perceber o quanto o país estava sendo dilapidado pela coroa portuguesa. Praticamente todo o ouro extraído ia parar na Metrópole, enquanto o governo português não devolvia absolutamente nada em forma de serviços públicos.
Nessa época, a população mineira já havia crescido bastante e as cidades da região aurífera haviam se tornado importantes centros populacionais. A insatisfação do povo com esse estado de coisas crescia dia a dia, mobilizando principalmente as pessoas mais importantes da região.
Joaquim José não conseguiu progredir muito na carreira militar. Em 1787 havia chegado apenas ao posto de alferes, patente correspondente ao posto de primeiro sargento na atualidade. Por isso pediu licença da cavalaria em 1787 e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde morou cerca de um ano, tentando vender para o governo projetos de saneamento básico, tais como a canalização de córregos e construção de aquedutos, os quais não foram aprovados pelas autoridades.
A irresponsabilidade e o descaso com que os portugueses administravam a colônia e tratavam as necessidades do povo brasileiro devem ter despertado em Joaquim José um desejo ardente de liberdade para a colônia. Assim, depois de um ano no Rio, ele volta às Minas Gerais e começa a sua pregação em favor da autonomia da província mineira.
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Na época já havia um grupo de eminentes cidadãos em Vila Rica e cidades da re-gião, trabalhando em favor da independência. Esse grupo era liderado por individuos influentes em Vila Rica, dele fazendo parte os poetas Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de governo, Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, um rico minerador. Dele também participavam vários religiosos e militares. Entre eles destacavam-se os padres Carlos Correia de Toledo e Melo, José da Silva e Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues da Costa, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante dos Dragões, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Joaquim Silvério dos Reis.
O movimento mineiro se inspirava na Revolução Americana e tinha planos para uma insurreição a nível nacional e uma constituição semelhante à dos americanos.
A insatisfação dos mineiros com o governo português já vinha de longa data. Por volta de 1780 as minas da região já davam sinais de esgotamento. As receitas provinciais começaram a cair vertiginosamente, o que desagradou a corte em Lisboa. Para garantir a arrecadação, as autoridades portuguesas instituíram o chamado imposto do “quinto”, que obrigava a Província de Minas Gerais a pagar anualmente cem arrobas de prata à coroa, independente de haver extração ou não. Evidentemente, face a queda da atividade mineradora, os mineiros não conseguiam cumprir esse compromisso, o que fez o governo português decretar a chamada Derrama, ou seja, uma execução forçada dos impostos em atraso, que dava direito ao governo de confiscar os próprios bens do devedor inadimplente. Essa ação estava marcada para ser executada num determinado dia, quando os soldados do Governador, o Conde de Barbacena, varejariam todas as propriedades da região para efetuar a cobrança forçada.
Nessa altura a conspiração dos mineiros já havia se tornado um plano. No dia da Derrama se daria a insurreição. Nascia então a chamada Inconfidência Mineira. O plano era sair às ruas de Vila Rica, a principal cidade da região, e proclamar à República, sublevando a população e tomando o Palácio do Governador e as principais repartições públicas. Mas entre os conspiradores havia algumas pessoas que resolveram aproveitar a oportunidade para barganhar com o governo português o perdão de suas dívidas. Entre eles o coronel Joaquim Silvério dos Reis, o tenente-coronel Basilio de Brito Malheiro e Inácio Correia de Pamplona, minerador luso-açoriano que tinha aderido ao grupo nos últimos dias. Assim em 15 de março de 1789, esses senhores delataram ao Visconde de Barbacena o complô dos mineiros.
Mas um dia antes, 14 de março, o Visconde de Barbacena, informado de que ha-veria muita resistência à Derrama, havia suspendido a operação. Isso esvaziou o movimento e obrigou os inconfidentes a abandonar, momentaneamente, o plano. Assim, nada teria acontecido não fosse a delação feita pelos três traidores.
Imediatamente o Vice-Rei ordenou a abertura de uma investigação, chamada De-vassa, que se transformou num volumoso processo. Todos os inconfidentes foram imediatamente presos e interrogados. Joaquim, que estava no Rio de Janeiro, provavelmente buscando apoio para a insurreição, foi preso em 10 de maio de 1789.
O PROCESSO
No processo que moveu contra os inconfidentes― que durou cerca de três anos ― consta que eles pretendiam estabelecer um governo republicano autônomo, montar fábricas de tecidos, munições e outras manufaturas, (que eram proibidas pela coroa), fundar uma universidade em Vila Rica e transformar a cidade de São João del-Rei na capital da república. O primeiro presidente seria Tomás Antônio Gonzaga, por um período de 3 anos, após o que se promoveria eleições para o cargo. Na república dos inconfidentes não deveria haver um exército, mas toda a população seria autorizada a possuir armas, e teria treinamento para formar uma milícia quando fosse preciso. Em principio os inconfidentes lutariam para obter a autonomia somente da província das Minas Gerais. O restante do país deveria promover seus próprios movimentos, no que seria apoiados pelos mineiros. Não se cogitava também, em principio, a libertação dos escravos, mas aqueles nascidos no Brasil poderiam ter sua liberdade concedida, principalmente se aderissem ao movimento.
Consta que todos os inconfidentes, menos Joaquim José, negaram a sua participa-ção no movimento. Ele não só confessou, mas também assumiu a responsabilidade pela liderança da "inconfidência", minorando a participação dos seus companheiros. Durante os três anos de instrução do processo, os inconfidentes permaneceram presos. Alguns deles, cuja participação foi comprovada, foram condenados à morte; outros, sobre os quais pairava dúvidas, foram condenados ao degredo. Mas por decisão de D. Maria I, regente de Portugal, algumas horas antes da execução da sentença de morte, todas foram alteradas para degredo. A única sentença de morte que foi mantida foi a de Joaquim José.
Tiradentes foi enforcado numa manhã de sábado, 21 de abril de 1792, em um pa-tíbulo erguido no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Consta que a prolação da sentença era tão longa que o meirinho levou dezoito horas para lê-la por inteiro, como era praxe na época.
Após a execução seu corpo foi esquartejado. A cabeça foi pendurada num poste em Vila Rica e os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde, segundo consta do processo, ele fizera seus discursos sediciosos. A casa onde morava foi arrasada e o chão salgado, para que nada ali mais nascesse.
O MITO
Historicamente, o personagem Joaquim José da Silva Xavier, chamado Tiradentes, só começou a ter alguma importância depois da proclamação da República. Essa falta de notoriedade deve-se ao fato de durante o período monárquico, sendo o trono ocupado por uma família portuguesa, os movimentos libertários de inspiração republicana eram propositalmente mantidos na obscuridade.
Com a proclamação da República, seus inspiradores, todos de orientação posi-tivista, começaram um trabalho de recomposição da memória nacional e estavam em busca de figuras heroicas que encarnassem o ideal republicano. Encontraram na figura de Tiradentes o personagem ideal, dai a mitificação da sua biografia, fazendo dele o herói nacional. A sua representação visual, de barba e camisolão, à beira do cadafalso, foi pintada com o propósito de apresentá-lo como um Jesus Cristo brasileiro, ou seja, o mártir da nossa independência. Na verdade, ele jamais poderia se apresentar assim na hora da sua execução, já que, na época era obrigatório que os presos tivessem a barba e a cabeça raspadas para evitar a proliferação de piolhos.
Tiradentes foi o único executado nessa conspiração, provavelmente pelo fato de ser talvez o mais humilde dos lideres dessa revolta. Os demais eram figuras proeminentes e tiveram bons advogados. A coroa precisava deles em outras funções, razão pela qual suas vidas foram poupadas.
TIRADENTES ERA MAÇOM?
Sempre se especulou se Tiradentes e os demais inconfidentes eram maçons. A bem da verdade não há qualquer prova dessa circunstância. Nem se ressenciou, em Vila Rica ou em qualquer outra cidade mineira a existência de Lojas maçônicas na época. Na verdade, o movimento maçônico não era uma coisa muito bem vista pelas autoridades portuguesas da época. Certamente eles não permitiriam o livre exercicio dessa atividade nas colônias, o que afasta a possibilidade de que os chamados inconfidentes pudessem pertencer á Ordem. Isso não não quer dizer que não professassem o ideal maçônico, ou que desconhecessem o movimento. Afinal, a maioria dos inconfidentes e os simpatizantes de uma separação da colônia eram funcionários e estudantes que viviam, ou tinham vivido na Europa e conheciam os ideais libertários que inspiraram a Revolução francesa e a Guerra de libertação das colônias americanas. E em ambos os movimentos os maçons exerceram papeís de fundamental importância. Pode-se dizer que a república americana é obra de maçons e se ela servia de modelo para os inconfidentes não é impossivel que uma relação dessa ordem possa ter existido. Isso, todavia, não pode ser confirmado pela falta de documentação comprobatória.
O ARQUÉTIPO
O fato de optar por estar sempre presente, reivindicar a liderança, mostrar poder de comunicação, ser confiável e demonstrar coragem para lutar pelo que acredita estar certo garante a Joaquim José da Silva Xavier um lugar como arquétipo entres os guerreiros. Por isso ele figura nesta nossa relação.
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QUEM FOI TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu em 12 de Novembro de 1746 na Fazenda do Pombal, Minas Gerais, e morreu enforcado no dia 21 de abril de 1792 no Rio de Janeiro. Tinha 45 anos. Seus pais eram Domingos da Silva Santos e Maria Antônia da Encarnação Xavier pequenos proprietários rurais.
Em 1755, após o falecimento de sua mãe, mudou-se com a família para a Vila de São José, hoje rebatizada com seu nome. Depois da morte do pai a família ficou sem recursos e os sete filhos do casal se dispersaram. Joaquim José foi morar com um padrinho, que era cirurgião, o qual lhe ensinou os ofícios de pratico farmacêutico e dentista.
Evidentemente não era formado em nenhuma dessas profissões, como a maioria dos práticos da época. A alcunha “Tiradentes” lhe veio dessa prática, pela qual ficou conhecido em toda a região das minas.
Foi na execução dessa tarefa que Joaquim José começou a perceber o quanto o país estava sendo dilapidado pela coroa portuguesa. Praticamente todo o ouro extraído ia parar na Metrópole, enquanto o governo português não devolvia absolutamente nada em forma de serviços públicos.
Nessa época, a população mineira já havia crescido bastante e as cidades da região aurífera haviam se tornado importantes centros populacionais. A insatisfação do povo com esse estado de coisas crescia dia a dia, mobilizando principalmente as pessoas mais importantes da região.
Joaquim José não conseguiu progredir muito na carreira militar. Em 1787 havia chegado apenas ao posto de alferes, patente correspondente ao posto de primeiro sargento na atualidade. Por isso pediu licença da cavalaria em 1787 e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde morou cerca de um ano, tentando vender para o governo projetos de saneamento básico, tais como a canalização de córregos e construção de aquedutos, os quais não foram aprovados pelas autoridades.
A irresponsabilidade e o descaso com que os portugueses administravam a colônia e tratavam as necessidades do povo brasileiro devem ter despertado em Joaquim José um desejo ardente de liberdade para a colônia. Assim, depois de um ano no Rio, ele volta às Minas Gerais e começa a sua pregação em favor da autonomia da província mineira.
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Na época já havia um grupo de eminentes cidadãos em Vila Rica e cidades da re-gião, trabalhando em favor da independência. Esse grupo era liderado por individuos influentes em Vila Rica, dele fazendo parte os poetas Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de governo, Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, um rico minerador. Dele também participavam vários religiosos e militares. Entre eles destacavam-se os padres Carlos Correia de Toledo e Melo, José da Silva e Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues da Costa, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante dos Dragões, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Joaquim Silvério dos Reis.
O movimento mineiro se inspirava na Revolução Americana e tinha planos para uma insurreição a nível nacional e uma constituição semelhante à dos americanos.
A insatisfação dos mineiros com o governo português já vinha de longa data. Por volta de 1780 as minas da região já davam sinais de esgotamento. As receitas provinciais começaram a cair vertiginosamente, o que desagradou a corte em Lisboa. Para garantir a arrecadação, as autoridades portuguesas instituíram o chamado imposto do “quinto”, que obrigava a Província de Minas Gerais a pagar anualmente cem arrobas de prata à coroa, independente de haver extração ou não. Evidentemente, face a queda da atividade mineradora, os mineiros não conseguiam cumprir esse compromisso, o que fez o governo português decretar a chamada Derrama, ou seja, uma execução forçada dos impostos em atraso, que dava direito ao governo de confiscar os próprios bens do devedor inadimplente. Essa ação estava marcada para ser executada num determinado dia, quando os soldados do Governador, o Conde de Barbacena, varejariam todas as propriedades da região para efetuar a cobrança forçada.
Nessa altura a conspiração dos mineiros já havia se tornado um plano. No dia da Derrama se daria a insurreição. Nascia então a chamada Inconfidência Mineira. O plano era sair às ruas de Vila Rica, a principal cidade da região, e proclamar à República, sublevando a população e tomando o Palácio do Governador e as principais repartições públicas. Mas entre os conspiradores havia algumas pessoas que resolveram aproveitar a oportunidade para barganhar com o governo português o perdão de suas dívidas. Entre eles o coronel Joaquim Silvério dos Reis, o tenente-coronel Basilio de Brito Malheiro e Inácio Correia de Pamplona, minerador luso-açoriano que tinha aderido ao grupo nos últimos dias. Assim em 15 de março de 1789, esses senhores delataram ao Visconde de Barbacena o complô dos mineiros.
Mas um dia antes, 14 de março, o Visconde de Barbacena, informado de que ha-veria muita resistência à Derrama, havia suspendido a operação. Isso esvaziou o movimento e obrigou os inconfidentes a abandonar, momentaneamente, o plano. Assim, nada teria acontecido não fosse a delação feita pelos três traidores.
Imediatamente o Vice-Rei ordenou a abertura de uma investigação, chamada De-vassa, que se transformou num volumoso processo. Todos os inconfidentes foram imediatamente presos e interrogados. Joaquim, que estava no Rio de Janeiro, provavelmente buscando apoio para a insurreição, foi preso em 10 de maio de 1789.
O PROCESSO
No processo que moveu contra os inconfidentes― que durou cerca de três anos ― consta que eles pretendiam estabelecer um governo republicano autônomo, montar fábricas de tecidos, munições e outras manufaturas, (que eram proibidas pela coroa), fundar uma universidade em Vila Rica e transformar a cidade de São João del-Rei na capital da república. O primeiro presidente seria Tomás Antônio Gonzaga, por um período de 3 anos, após o que se promoveria eleições para o cargo. Na república dos inconfidentes não deveria haver um exército, mas toda a população seria autorizada a possuir armas, e teria treinamento para formar uma milícia quando fosse preciso. Em principio os inconfidentes lutariam para obter a autonomia somente da província das Minas Gerais. O restante do país deveria promover seus próprios movimentos, no que seria apoiados pelos mineiros. Não se cogitava também, em principio, a libertação dos escravos, mas aqueles nascidos no Brasil poderiam ter sua liberdade concedida, principalmente se aderissem ao movimento.
Consta que todos os inconfidentes, menos Joaquim José, negaram a sua participa-ção no movimento. Ele não só confessou, mas também assumiu a responsabilidade pela liderança da "inconfidência", minorando a participação dos seus companheiros. Durante os três anos de instrução do processo, os inconfidentes permaneceram presos. Alguns deles, cuja participação foi comprovada, foram condenados à morte; outros, sobre os quais pairava dúvidas, foram condenados ao degredo. Mas por decisão de D. Maria I, regente de Portugal, algumas horas antes da execução da sentença de morte, todas foram alteradas para degredo. A única sentença de morte que foi mantida foi a de Joaquim José.
Tiradentes foi enforcado numa manhã de sábado, 21 de abril de 1792, em um pa-tíbulo erguido no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Consta que a prolação da sentença era tão longa que o meirinho levou dezoito horas para lê-la por inteiro, como era praxe na época.
Após a execução seu corpo foi esquartejado. A cabeça foi pendurada num poste em Vila Rica e os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde, segundo consta do processo, ele fizera seus discursos sediciosos. A casa onde morava foi arrasada e o chão salgado, para que nada ali mais nascesse.
O MITO
Historicamente, o personagem Joaquim José da Silva Xavier, chamado Tiradentes, só começou a ter alguma importância depois da proclamação da República. Essa falta de notoriedade deve-se ao fato de durante o período monárquico, sendo o trono ocupado por uma família portuguesa, os movimentos libertários de inspiração republicana eram propositalmente mantidos na obscuridade.
Com a proclamação da República, seus inspiradores, todos de orientação posi-tivista, começaram um trabalho de recomposição da memória nacional e estavam em busca de figuras heroicas que encarnassem o ideal republicano. Encontraram na figura de Tiradentes o personagem ideal, dai a mitificação da sua biografia, fazendo dele o herói nacional. A sua representação visual, de barba e camisolão, à beira do cadafalso, foi pintada com o propósito de apresentá-lo como um Jesus Cristo brasileiro, ou seja, o mártir da nossa independência. Na verdade, ele jamais poderia se apresentar assim na hora da sua execução, já que, na época era obrigatório que os presos tivessem a barba e a cabeça raspadas para evitar a proliferação de piolhos.
Tiradentes foi o único executado nessa conspiração, provavelmente pelo fato de ser talvez o mais humilde dos lideres dessa revolta. Os demais eram figuras proeminentes e tiveram bons advogados. A coroa precisava deles em outras funções, razão pela qual suas vidas foram poupadas.
TIRADENTES ERA MAÇOM?
Sempre se especulou se Tiradentes e os demais inconfidentes eram maçons. A bem da verdade não há qualquer prova dessa circunstância. Nem se ressenciou, em Vila Rica ou em qualquer outra cidade mineira a existência de Lojas maçônicas na época. Na verdade, o movimento maçônico não era uma coisa muito bem vista pelas autoridades portuguesas da época. Certamente eles não permitiriam o livre exercicio dessa atividade nas colônias, o que afasta a possibilidade de que os chamados inconfidentes pudessem pertencer á Ordem. Isso não não quer dizer que não professassem o ideal maçônico, ou que desconhecessem o movimento. Afinal, a maioria dos inconfidentes e os simpatizantes de uma separação da colônia eram funcionários e estudantes que viviam, ou tinham vivido na Europa e conheciam os ideais libertários que inspiraram a Revolução francesa e a Guerra de libertação das colônias americanas. E em ambos os movimentos os maçons exerceram papeís de fundamental importância. Pode-se dizer que a república americana é obra de maçons e se ela servia de modelo para os inconfidentes não é impossivel que uma relação dessa ordem possa ter existido. Isso, todavia, não pode ser confirmado pela falta de documentação comprobatória.
O ARQUÉTIPO
O fato de optar por estar sempre presente, reivindicar a liderança, mostrar poder de comunicação, ser confiável e demonstrar coragem para lutar pelo que acredita estar certo garante a Joaquim José da Silva Xavier um lugar como arquétipo entres os guerreiros. Por isso ele figura nesta nossa relação.