Click (Click – Frank Coraci – 2006)
Click (Click – Frank Coraci – 2006)
Desde que vi o trailer do filme me senti inclinado pela eterna curiosidade que tenho ao Adam Sandler de assisti-lo. Infelizmente o trailer diz tudo do filme. Quer dizer não diz tudo tudo, mas diz como que o filme vai terminar, com o pior final possível, não o pior final, mas um final muito aquém da pretensão do argumento proposto pelo roteiro. Aliás o filme consegue alcançar o máximo de sua eficácia, mas como eu disse sobre o trailer, ele se entrega ao pastiche de si mesmo e volta a tentar entreter-nos.
O filme consegue logo de cara sem embromações ir direto ao ponto nos apresentando a família de Michael Newman (Adam) e nos ambientando em sua vida. Uma vida que poderia ser a de qualquer americano médio. Envolto em trabalho ele negligencia sua saúde comendo porcarias, negligencia sua família trocando seu tempo com ela pelo trabalho e se vê até o pescoço com obrigações, brigas com a mulher, desapontamento das crianças etc. Com um roteiro seco e bem centrado ele consegue inserir as piadinhas enquanto nos ambienta na estória.
Quando vemos já acreditamos que existe um controle remoto que controla o universo do personagem, vemos suas descobertas com interesse e acompanhamos suas frustradas tentativas de fazer as coisas funcionarem. E a partir daí, me lembrando muito o Efeito Borboleta Versão do Diretor, o roteiro explora até a última conseqüência os desdobramentos possíveis, sem mentir para o espectador e nem distorcer o próprio mundo que cria para dar ênfase ou leveza à estória.
Sendo sincero, se o filme termina uns 10 minutos mais cedo ele seria quase uma peça inestimável da lista de filmes que marcaram 2006. Infelizmente o pensamento de entretenimento ainda destrói as pequenas ousadias vislumbráveis em muitos filmes.
Levando a sério sua premissa o filme esmiúça até o limite as conseqüências que um controle remoto universal que controla o seu universo poderia ter nas mãos de alguém comum. Pregando peças no usuário ele vai dando indícios de que, a princípio, tudo pode ser fácil, mas as conseqüências futuras são irreparáveis. Assim como é a nossa vida.
Assim como qualquer pessoa que leva uma vida arrastada e normal se vê muitas vezes entediado, chateado, aborrecido. E se pudéssemos tirar as coisas ruins de nossas vidas? Michael entra aí, e o controle remoto faz as vezes da solução. Ao avançar determinado ponto da vida, por exemplo 1 semana de forma instantânea, ele acaba agindo durante aquela semana de forma “automática”, pois sua mente foi transportada diretamente mas seu corpo não. E quem de nós não é capaz de pensar em pelo menos algumas dezenas de vezes que deixou o automático tomar conta? Mostrado alegoricamente no filme assim como é a nossa vida.
Duvida-se que a vida seja fácil, não existe dois lados da moeda separadamente (moeda que rende no filme uma ótima seqüência em que mais uma vez o controle é usado para benefício próprio, fazer as pazes consigo mesmo). Existe a moeda, seja ela como for, e não podemos aproveitar um lado só, sem perder ou destruir o outro. Desejando aproveitar só o que há de melhor da vida o personagem principal se perde em seu ponto de vista imediato do que é o melhor e acaba deixando de ver que o próprio ponto de vista muitas vezes nos engana. Assim como é a nossa vida.
Ao fim do terceiro ato, que a partir de agora eu considero sem o “final” ridículo inserido só para fazer o espectador não pensar, o personagem termina prisioneiro das escolhas que fez, determinando como sua vida “deveria” ser com o controle ele fica preso dentro das escolhas que fez, e quanto mais escolhas erradas fez pior fica para o lado dele. Engendramos em projetos, ilusões do futuro, nostalgias do passado e quando vemos nossa vida passou, infelizmente como o personagem do filme nos vemos encarcerados por nossas escolhas, ou falta delas, e é assim que a nossa vida é.
SPOILER – se você não viu o filme ainda você não vai querer ler a partir daqui.
Ao trair a própria premissa, já que o personagem durante todo o filme não podia voltar a própria vida, só podendo para a revisitar, mas nunca mudar seu passado, ele nos leva até o ápice do roteiro, que funciona de forma espetacular. E se o filme terminasse quando Michael finalmente não tem mais chance de fazer nada e morre seria uma peça de incrível sensatez e uma destruidoras de ilusões que são erigidas todos os dias pelas pessoas de “no futuro tudo vai melhorar”.
Colocando seu ridículo desfecho o roteiro trai sua própria criação e nos tenta fazer de idiotas, pois assim como todas as coisas que ele fez não tiveram volta, assim como nós não temos volta, assim não deveria acontecer a “segunda chance” dada a Michael, pois a vida é assim, crua, invivível duas vezes, um eterno esboço sem nunca arte finalizar, assim eles destroem o sentimento de urgência criado no espectador, fazendo refletir sobre toda sua política de vida e nos envolve em um mar de risos indevidos, de paz impossível e de uma ilusão de futuro, já que tudo pode exatamente ocorrer da mesma maneira já que nunca sabemos o futuro. Traindo minha confiança me senti sendo chamado de idiota, já que não preciso ficar feliz para me entreter nem tirar bons momentos de obras artísticas.