“Robin Hood” (Robin Hood)
“Robin Hood” (Robin Hood)
“Não podemos pagar a boa sorte com má vontade. Seria um convite à escuridão”.
Palavras de Robin Longstride, guerreiro que esteve nas cruzadas nos últimos 10 anos e acaba de voltar a Inglaterra. Palavras essas, e outras, boa parte delas acopladas de um longínquo “quê” shakesperiano, se espalham ao longo da trama sob direção de Sir Ridley Scott, e o legionário Crowe canta e “espadacheia” nesta embalagem modernizada que utiliza um truque curioso na comunicação Robin Hood. Truque devidamente identificado pelos que conhecem a fábula original.
Peças chave como a floresta de Sherwood e seus marginalizados habitantes, o vilarejo de Nottingham e o xerife corrupto, Marion, Frei Tuck e João Pequeno estão lá, tal e qual velas acesas num caminho lusco fusco, apenas sinalizando: lembre-se do velho Robin, porque a história é outra. É a “nova” lida do cinema que especula sobre as raízes dos lendários.
Para os saudosos de Kevin Robin e a flecha mágica ou de Sean Connery no igualmente saudoso “Robin and Marian” – e a flecha poética, a atual versão parte pra cima da história da Inglaterra nos meados do séc. XII, com os devidos arroubos permissíveis e a experiência de Ridley nos poupando do décimo de segundo a mais nas cenas de cercos a castelos, chuvas de dardos, e etc. Isso até o capitulo 17, pois o milagre DVD permite ao espectador, dependendo da obra, pular capítulos.
“O Príncipe dos Ladrões” é herói presente em solo inglês até os dias de hoje, Nottingham tem estátuas e festivais em sua homenagem, ao passo que registros oficiais identificam sua existência na palavra escrita desde o séc. XIV, através de um poema épico escrito por William Langand em 1377.
Na obra de Ridley & roteiristas o parágrafo acima foi pesado com o devido critério, Nottingham é espoliada pelo governo, a mãe dos reis João e Ricardo avisa que não se deve drenar um úbero seco, os adolescentes da região enfocada caem na vida e se tornam proscritos, já que a alimentação se baseia em sopa de urtigas, William Hurt personifica William Marshal, conselheiro da corte, e avisa que homens negligenciados se tornam homens perigosos, restando ao espectador ruminar que a saga humana denota uma inacreditável capacidade de se repetir.
Russell Crowe vem de um berço esquecido, lutou uma década ao lado de Ricardo Coração de Leão, dada altura o rei lhe indaga como foi a campanha, Russell declara que eles, os ingleses, na batalha de Acre, ao decapitarem 2.500 mulheres/velhos/crianças, ora, como dizer, naquele preciso instante perderam o contato com Deus. O rei reconhece a coragem de sua honestidade e lhe chama de ingênuo. Crowe vai para um breve açoite e a partir daí o destino lhe apresenta uma situação após outra, onde driblar é preciso, até seu encontro com Marion. Qualquer um com os 5 sentidos em razoável estado de conservação não consegue negar o carisma de Cate Blanchett, mesmo vestida de camponesa e resgatando bodes em lodaçais.
- Como é a aparência dele? – indaga o então cego Max von Sydow para a nora, na hora do jantar. Ela olha para Crowe e responde:
- Bem apessoado, como são os serviçais quando estão sóbrios.
Nas velhas versões Ricardo Coração de Leão, depois de mil peripécias, chega incólume na pátria mãe. Nesta, ele morre em solo francês e seu irmão caçula (João), assume o trono e começa uma arrecadação de impostos baseada no slogan “a bolsa ou a vida”. Os analistas políticos de 1.199 observaram que a Inglaterra de João seria muito diferente da Inglaterra de Ricardo.
“Robin Hood” chega nas barracas de camelôs e nas locadoras praticamente no round final do show Eleições 2010, e apresenta na abertura os seguintes dizeres:
“Em tempos de tirania, quando a lei oprime o povo, o fora da lei assume seu papel na história”.
Filosofia relativa, válida em saraus poéticos nas eras pré Tiririca.
Encerramos com Marion, dizendo ao antecessor de Frei Tuck, que reclamava da ausência dela nos sermões dominicais:
- Prefiro uma igreja silenciosa quando quero orar por um milagre.