Último tango em Paris (Le Dernier Tango à Paris)
Você está procurando por alguma coisa que cause um reboliço emocional? Bom, essa coisa pode muito bem ser um Bertolucci desse nível. E que nível é esse? Algo que apenas a união de um excepcional Marlon Brando com a bela e expressivamente cativante Maria Schneider pode fazer.
Nesta bela obra de arte, a confusão não é tão formal quanto conteudística. Ou seja, não espere que o filme lhe deixe confuso, você verá a confusão acontecer e se desfazer, como num laço desfeito que abre as portas pra um lugar de entrada. Geralmente, o que o cinema nos oferece é um conhecido lounge pra descansar o esqueleto, mas o italiano consegue colocar o espectador face a face com o trágico, o brutal, o sujo, e ao mesmo tempo tudo parece tão humano, tão livre, tão além de uma catequese simplória.
O grande mérito é justamente a qualidade da contemplação. Bertolucci consegue criar uma experiência forte, mas ao mesmo tempo distanciada, pois os aspectos dramáticos são caricatos, e da parte de Marlon Brando, a coisa então fica teatral. Seu rosto é a máscara pálida onde a dor e o prazer de seu personagem tomam proporções incríveis.
As cenas são muito bonitas, igualmente. Fotografias muito boas de movimentos, uma expressão corporal que brilha nas cenas onde o casal faz do lúdico a única comunicação permitida. É de uma graça marcante, principalmente quando se realiza que o tempo não poupa a ninguém, e mesmo os grandes nos são arrancados como tudo que vive. Se depois de Apocalypse now, Bonde chamado desejo e O poderoso chefão eu tinha dúvidas em assistir a filmografia do cara, já era, com essa boa revisão de Last tango in Paris.