“A Intérprete” (The Interpreter)
“A Intérprete” (The Interpreter)
Se fosse o caso, digamos, de estarmos numa adega e o somelier chefe dizer com orgulho: veja o quão bojuda é minha safra de tintos, tem tintos até esverdeados, depende de como você bebe, se pelo prazer ou para ficar embriagado...
“A Intérprete” não embriaga porém faz o fio reluzente da não pretensão com a mão firme de um biscoito fino da direção roliudiana, senhor Sidney Pollack. O cinema dele, mesmo quando não quer dizer muita coisa, tem a elegância de um conversível inglês dos 60. Longe da “arte em êxtase” ou da “arte elucubra”, da arte choca ou aflige, Sidney conduz sua última obra com finesse e seus fãs não esperariam nada menos do que isso.
Nicole Kidman e Sean Penn, ela num de seus melhores papéis, ele já provou o seu valor, ela trabalha na ONU, ele num braço do serviço secreto do US. “Vão viver sob o mesmo teto, até que a morte os una...”. Quase isso, basta trocar teto por trama.
Pollack reúne um conjunto de obra de causar admiração aos adeptos da vida de mentirinha em movimento. Nos 60, dirigiu “Os desajustados” (They Shoot Horses, Don't They?), seu sexto filme, inicia a década de 70 com “Nosso amor de ontem” e “Três dias do Condor”, nos 80 “Ausência de Malicia (1981), “Tootsie” (1982) e Out of África (1985), se preferir, “Entre dois amores”, nos 90 “Havana” (1990), “A Firma” (1993), “Sabrina” (1995), “Vidas Cruzadas” (1999). A lista consegue ser um pouco maior. Ela se dilata em três vezes isso se focarmos no Sidney produtor e ator. No presente filme ele age nas três vertentes.
Rodado em 2005, Nicole faz a perfeita lourinha nascida em África, que fala várias línguas, empunhou armas, já que a vida em África não parece impune, e se diz na ONU por acreditar que o diálogo seja mais importante que a milícia. O que ela fala não se escreve.
Para quem assistiu alguma coisa do acervo Pollack exposto acima, sabe que a plasticidade que ele confere, junto com o clima advindo disso, tornam qualquer enredo - da denúncia ao melodrama, palatável ao extremo no ato de assistir cinema. A história xis, sobre o “genocida” que seria assassinado em plena ONU dentro de alguns dias é de pouca importância face a história “y”, da contra dança de Nicole e Sean na Nova Iorque de Sidney.
Com uma eterna câmera acertada, com pequenos enganos propositais, para maior credibilidade da atmosfera, e outros artifícios de um mago em fim de missão, “A Intérprete” entra na roda do bom entreter pela porta da frente e encerra um feixe de películas que causou muito deleite em diversas platéias.
Nicole ouviu um sussurro conspirativo, Sean está viúvo há duas semanas, ele indaga sobre o passado dela, ela diz que em África não se fala o nome dos mortos, e quando o motivo pende para o assassinato, a família da vítima escolhe se quer sofrer ou se libertar do sofrimento. Porque, para sofrer, basta aplicar a lei do dente por dente ao assassino.