DOCUMENTÁRIO "NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR"
O documentário em vídeo “Notícias de uma guerra particular” é um retrato do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. E, jornalisticamente, é um trabalho impressionante. A julgar pela quantidade expressiva e variada de fontes e personagens, de imagens captadas em diferentes momentos no prosseguimento da trama e do tom profissional – seria natural que imagens gravadas em um local apertado como uma favela ficassem com aparência de vídeo caseiro – o filme tem bom acabamento, traz algumas vezes a mesma informação, todavia sob perspectivas diferentes, o que deve ser um primordial alicerce jornalístico. A trilha sonora tem boa elaboração, sendo adequadamente aclimatada sem invadir o sensacionalismo - isto fatalmente atribuiria ao documentário um jeito de filme de suspense ou reportagem policial típica de emissoras regionais. Entretanto, a captação do áudio, em muitos pontos, deixa a desejar. O sotaque e o linguajar utilizado nos morros cariocas é sensivelmente diferenciado da área “burguesa”. Em determinadas cenas, da mesma maneira recorrente em telejornais, caberia o uso de legendas. Mesmo com este detalhe, para o que se espera de um documentário tecnicamente falando, a obra cumpre um papel satisfatório.
A narrativa é ágil e dinâmica. Os personagens são das mais diversas naturezas, indo de um delegado, passando por policiais, até chegar aos moradores e mesmo aos traficantes da favela. O direito de imagem destes últimos é respeitado como sempre deve proceder a um jornalista, não importando a atividade do seu entrevistado, bem como ao se tratar de crianças e adolescentes com idade inferior a 18 anos. Ainda assim, em que pese a multiplicidade de depoimentos, caberia, ainda que ao final do documentário, um “fala-povo” com pessoas de outras localidades do Rio de Janeiro, ou seja, em bairros fora da favela. Neste caso, seriam breves entrevistas com o senso comum das demais classes em relação ao fenômeno das favelas.
O documentário é essencialmente informativo. Ele não é partidário às ações da polícia ou mesmo às dificuldades de se viver em uma favela. Mas o telespectador pode – e deve – tirar sua conclusão com base nas análises de policiais. Um policial do primeiro grupo diz não vislumbrar uma solução imediata, definindo o combate ao tráfico como uma perpétua guerra; outro afirma que a solução existe, mas somente em caso de conveniência às autoridades, insinuando que há conivência política com a situação. Destaque merecido aos depoimentos dos traficantes, os quais definem o tráfico como uma área de trabalho mais estruturada que o próprio Estado.