Um homem sério (A serious man)
Mais um dos irmãos Coen. Parece até obsessão, mas, em verdade, é apostar no que tem agradado. Os caras tem uma estética que me estimula mais, porque lacunar, do que os roteiros que dão tudo de mão beijada e apostam na velha e cansativa dramaticidade pra conquistar seu público. Claro que uma cena forte tem seu valor, claro que o drama estampado no rosto de um ator hábil pode nos proporcionar uma experiência memorável, como o fim de "Cabo do medo", com o De Niro, cena que nunca me esqueço. Agora, quem é que pode se bastar com um monte do mesmo?
Não, você não vai se deparar com um thriller animadíssimo e cenas incríveis. Ora, estamos falando dos irmãos Coen, não de Bryan Singer. O que te espera é uma cidade pacata, com cidadãos organizados e aparentemente em harmonia. É claro que, como em toda trama popular, acontece uma revolução, e o destaque do trabalho deste diretor vem nos detalhes que se desenvolvem sem apelar aos clichês. Passei o filme esperando que certos fatos fossem ocorrer, em conseqüência de outros apresentados, mas tomou um rumo diferente, no mínimo mais respeitoso do que permite aquele que escolhe escrever frivolidades, mesmices.
É um filme que vai mudar a sua vida? Não, mas uma experiência menos simplória que a maioria dos blockbusters por aí. Filmes com a Jennifer Aniston, por exemplo, ou com o Owen Wilson. Por que as pessoas se dão o trabalho de produzir essa gente? Quanta babaquice. E pior que custa caro fazer essas porcarias. Uma pena, tanta gente por aí com ideias iradas e o mundo patrocinando um bando de estúpidos e seus trabalhos de bocó. Não estou dizendo que não devia existir cinema de consumo rápido, pra distração ou relaxar, mas será que é justo dar a este segmento todos os holofotes?
A estrutura é muito boa. Além da recorrente abertura do roteiro para situações sem uma resposta, algumas unidades se entrelaçam muito bem no desenvolvimento da trama. Por exemplo, uma das coisas que a protagonista observa é que deus não nos dá tantas respostas, mas muitas perguntas. É isso que os próprios irmãos Coen fazem em seus filmes. Dão mais perguntas que respostas. A estrutura do filme está em relação com o conteúdo ideológico apresentado na trama, criando uma unidade que diferencia o trabalho destes dois. Um filme parado? Talvez, mas não como conseqüência da experiência, e sim como estética que une forma e conteúdo. Dá uma chance pros momentos, observe os diálogos e a unidade latente do roteiro.
A próxima investida nos irmãos vai ser o "Onde os fracos não têm vez", que ainda não vi, não sei o porquê, talvez porque aquela cara de He-man cubano do Javier Barden me incomode na capa. Ele parece o irmão do Ray Romano, em "Everybody's Love Raymond", só que com uma peruca escrota.