PARTE II - ANÁLISE DO FILME
 
 
Tema bastante polêmico mas já com vestígios de aceitação, se nem tanto por toda a sociedade, mas o quanto podem alguns grupos.
A crise de identidade sexual que torturava Teena Brandon é o real personagem do caso. Não teve culpa de nascer com um corpo de mulher, tampouco de preferir parceiros do mesmo sexo, o que a tornou diferente dos demais.
Decidida a seguir seus instintos, esforçou-se por transformar-se em um garoto. Como se isso bastasse! Trocar a maneira de vestir-se, de falar, de portar-se perante os outros, mas... e a cabeça? E os sentimentos? No afã de criticar, humilhar e maldizer o próximo, o ser humano não procura sequer imaginar o que se passa além das aparências. Escondido sob o véu do preconceito recusa-se a analisar situações que respondam aos seus questionamentos, já que é mais fácil afastar-se do que é diferente do que entender as diferenças.
O medo de ser uma exceção às regras convencionais de uma sociedade hipócrita leva comumente à depressão. Fobias diversas e sobretudo a não aceitação de si próprio que resulta na ausência de auto-estima e em alguns casos, na tendência ao suicídio. Por ser o primeiro a não admitir a própria condição, demonstra possuir uma personalidade fraca e carente, frágil e susceptível a ataques e represálias como mostra o filme, a personagem em foco chega a ser violentada, por ser considerada uma aberração, uma coisa. Humilhada, ameaçada e por fim assassinada.
No fundo, no íntimo do ser, Teena Brandon acreditava ser culpada por ser diferente e apesar de todo o seu esforço para superar as crises, nunca conseguiu bons resultados. Morreu sonhando com um futuro onde tudo aquilo não passasse de mero detalhe.
Na realidade, “as aberrações”, “os desviados” eram os agressores. Verdadeiros doentes mentais que com muita precisão foram presos e condenados.
A figura de Lana foi de fundamental importância para a vida de Teena. Lana a aceitava da forma que ela era e comungava com os seus projetos futuros.
A mãe de Lana não concordava com a situação que considerava no mínimo absurda, e era, levando-se em conta o grau de compreensão e a influência religiosa daquela mulher simples que tinha traçado planos para sua filha e a vê, de repente, envolvida num relacionamento nada convencional. Apesar de tudo, não desejava que Teena fosse massacrada, execrada. Apenas não admitia aquele romance.
E quanto ao sentimento de culpa? Bem, Teena Brandon achava-se a única culpada por ser diferente. A família culpava sua mãe por não ter-lhe dispensado mais atenção e uma educação mais rígida, com mais controle. Outros colocavam a responsabilidade no destino, mas será que existe culpa ou culpado? Ela nasceu assim, o tempo fez desenvolver e brotar apenas o que já existia em seu interior. A tendência é latente e não adquirida. O que ocorre geralmente nesses casos é a intolerância de determinados segmentos sociais que generalizam alguns desvios de comportamento, confundindo-os com questões mais específicas, definidas, como no caso de Teena Brandon.
Felizmente o mundo gira e sempre haverá mudanças que levarão a humanidade a evoluir, crescer, abrir o coração e a mente de forma a aceitar que cada um viva a sua diferença. Ricos e pobres, negros e brancos, esquisitos e convencionais, doentes e sadios, feios e bonitos, homo e heterossexuais, todos têm o direito de viver a sua liberdade, desde que não esqueçam de respeitar a liberdade dos outros.
 
Fátima Almeida

“Por que será que o homem se empenha tanto em procurar vida em outros planetas, se ainda não aprendeu a aceitar as diferenças mais comuns com as quais convive aqui na terra?”

(Fátima Almeida)

Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 23/08/2010
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