Mio Çid Roy Díaz por Burgos entrove,
En sue compaña sessaenta pendones;
exien lo ver mugieres e varones,
burgeses e burgesas por las finiestras sone.
De las sus bocas todos dizían una razóne:
" Dios, que buen vassallo, si oviese buen señore! "
IV.- El Cantar del Cid.
Uma das formas de ancorarmos qualidades em nós mesmos é através dos nossos modelos de excelência. Modelos de excelência são as pessoas que admiramos, aquelas que fazem as coisas que nós gostaríamos de fazer, e do jeito que queríamos fazer.
Isso é normal. Se não somos muito valentes, é natural que admiremos quem é. Se somos tímidos, uma pessoa expansiva e corajosa será um bom modelo para nós. Ela faz o que não fazemos, mas de certo gostaríamos de fazer.
Esse é um dos links que nos levam a escolher este ou aquele ídolo. Eles são o reflexo inconsciente do nosso ser desejado, aquele que não aparece no espelho quando olhamos, mas está constantemente nos nossos sonhos e aspirações.
Em nossos cursos de PNL costumamos trabalhar com esse tema. O treinando escolhe um ídolo ― que pode ser uma pessoa real ou fictícia ― e passa uns dez minutos tentando “incorporá-lo”. Faz isso imitando seu modo de olhar, seu modo de falar, tom de voz, jeito de andar, etc. Depois de “entrar”, no personagem, pedimos que identifique uma limitação qualquer que ele tenha e imagine como ele se comportaria frente a essa limitação se fosse aquele personagem. Em alguns casos a resposta é fantástica.
***
Quando eu era garoto assisti um lindo filme em que Charlton Heston encarnava nas telas o famoso herói espanhol Rodrigo de Bivar, o lendário El Cid.
El Cid era o protótipo do herói perfeito. Guerreiro forte e valente, nunca perdeu uma batalha. Fiel aos seus princípios, era leal até o último fio de cabelo à sua pátria e seu rei. Corajoso, não tinha medo de desafiar o rei, ao mesmo tempo em que era capaz de oferecer água do seu próprio cantil a um leproso. E para melhorar ainda mais esse quadro, ele namorava Dona Jimene, (nada menos que a Sofia Loren), o T maiúsculo de todos os garotos da época.
Quando fiquei adulto e fui estudar História resolvi dar uma olhada na vida real do meu ídolo de infância e adolescência. Aí vi que a verdadeira vida do meu herói não era exatamente aquela que foi apresentada nas telas.
Alguma coisa era verdadeira, sim. Rodrigo nascera mesmo em Bivar, uma pequena aldeia próxima à cidade de Burgos, então a capital do Reino de Castela. Era filho de um nobre cavaleiro da corte castelhana, Diego Laínez, e de uma filha do também nobre de Castela, Rodrigo Alvarez.
Tendo ficado órfão de pai aos 15 anos, foi levado para a corte do rei Fernando I, onde se tornou amigo e companheiro do príncipe Sancho. Estudou no monastério de San Pedro de Cardeña, aprendendo sobre letras e leis
Quando o rei Fernando I morreu, o reino foi dividido entre seus cinco filhos, e não três como aparece no filme. Castela ficou para Sancho, a Galiza foi para Garcia, Leão para Alfonso, Toro para Elvira e Zamora para Urraca. Sancho era o filho mais velho. Teoricamente seria o herdeiro natural. Evidentemente ele não concordou com a divisão feita pelo pai e começou uma luta contra os irmãos para reunificar o reino. Isso também está no filme, embora não dessa maneira. Nessa luta, contou com a ajuda de Rodrigo que foi nomeado Alferes do reino.
Rodrigo tornou-se Cid O Campeador quando tinha 23 anos, ao vencer, em combate singular, o alferes de Navarra, um famoso cavaleiro chamado Jimeno Garcés, que no filme é tido como campeão de Aragão. O título de El Cid lhe foi dados pelos mouros, que o consideravam um guerreiro justo e nobre.
Sancho tomou do seu irmão o reino de Leão e, em seguida, atacou Zamora, que estava em poder de sua irmã Urraca. Durante esse cerco ele foi assassinado, a traição, por Bellido Dolfos, supostamente a mando de seu irmão Alfonso.
Sancho não deixou herdeiros e Castela voltou para as mãos de Alfonso. Mas este só conseguiu ser coroado depois que prestou o Juramento de Santa Gadea, ritual exigido pela lei de Castela, na qual ele jurava estar isento de qualquer envolvimento na morte do irmão. Esse juramento foi conduzido por Rodrigo, visto ser ele, além de principal comandante militar do reino, também um grande jurisconsulto.
Esse episódio também foi retratado no filme, embora não da forma heroica ali descrita. Mas é verdade que as relações entre o rei e Rodrigo se tornaram muito tensas depois disso, até que, em 1081, El Cid foi desterrado, pela primeira vez, de Castela.
Segundo a "Canción de Mio Cid", 300 dos melhores cavaleiros castelhanos acompanharam El Cid ao exílio. Isso fez dele um importante chefe militar que, segundo versões da história, se tornou um mercenário que alugava suas armas e seu exército a quem melhor lhe pagasse. Assim, ajudou o príncipe mouro Moutamin a conquistar Zaragoza e outros domínios. Trabalhou também para Al-Cadir, rei mouro de Valência, a quem ajudou a conquistar vários territórios.
Mais tarde, em 1093, ele próprio atacaria Valência e se tornaria príncipe independente daquele que era um dos mais prósperos reinos espanhóis. Segundo uma versão, a tomada de Valência teria sido feita em nome de do rei Alfonso de Castela, com quem El Cid estaria brigado. Não obstante, ele teria se recusado a ser coroado como rei da cidade, preferindo manter a lealdade aquele que, embora o tivesse desterrado, ainda era o seu rei. Foi nesse episódio que seus cavaleiros teriam dito: “ que nobre vassalo. Se ao menos tivesse um nobre rei.”
Na verdade, El Cid apossou-se de Valência e seus domínios e governou-a como príncipe independente até sua morte, que ocorreu em1099.
Quando li a verdadeira história de El Cid não me espantou que a versão idealizada que eu tinha do meu herói não lhe correspondesse fielmente. Afinal, eu já era adulto e podia suportar que as minhas fantasias sofressem alguns remendões. Afinal, eu já sabia que a perfeição não era uma simples questão ideológica, mas sim um problema de resultado. El Cid era um homem, não um deus. Foi, sem dúvida, um sujeito formidável, corajoso, valente, e de certa forma, um verdadeiro herói para os interesses da Espanha. Não tinha importância que não fosse tão nobre como o filme disse que era.
Afinal, esse é o grande segredo da mente adulta: Saber conviver com a realidade.
A única coisa que realmente não consegui digerir na história do meu herói foi o fato de saber de que Dona Jimene não era, na verdade, um T maiúsculo como a Sofia Loren, mas sim uma coroa tão feia quanto um dragão. E que El Cid se casou com ela porque a velhota tinha um patrimônio invejável.
Bom. Voltando as nossas aulas de PNL, quando eu preciso de coragem e nobreza para tomar uma decisão, mesmo contra os meus próprios interesses, a fonte dos meus recursos ainda é Rodrigo Dias de Bivar, o El Cid. Mas não é no Cid histórico que eu vou buscar essas referências, é no Cid de Charlton Heston. Aliás, se a mente de uma pessoa pode criar um personagem assim, a mente de qualquer outra pessoa também pode. E real é aquilo que você acredita. Afinal, se todas as nossas crenças fossem testadas com a realidade, o que sobraria delas?
A nossa mente precisa de modelos da mesma forma que uma pátria precisa de heróis. E não há nada de infantil nisso tudo.
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Do filme EL CID- 1960- estrelado por Charlton Heston e Sofia Loren. Produzido por Samuel Bronston e dirigido por Antony Mann.
En sue compaña sessaenta pendones;
exien lo ver mugieres e varones,
burgeses e burgesas por las finiestras sone.
De las sus bocas todos dizían una razóne:
" Dios, que buen vassallo, si oviese buen señore! "
IV.- El Cantar del Cid.
Uma das formas de ancorarmos qualidades em nós mesmos é através dos nossos modelos de excelência. Modelos de excelência são as pessoas que admiramos, aquelas que fazem as coisas que nós gostaríamos de fazer, e do jeito que queríamos fazer.
Isso é normal. Se não somos muito valentes, é natural que admiremos quem é. Se somos tímidos, uma pessoa expansiva e corajosa será um bom modelo para nós. Ela faz o que não fazemos, mas de certo gostaríamos de fazer.
Esse é um dos links que nos levam a escolher este ou aquele ídolo. Eles são o reflexo inconsciente do nosso ser desejado, aquele que não aparece no espelho quando olhamos, mas está constantemente nos nossos sonhos e aspirações.
Em nossos cursos de PNL costumamos trabalhar com esse tema. O treinando escolhe um ídolo ― que pode ser uma pessoa real ou fictícia ― e passa uns dez minutos tentando “incorporá-lo”. Faz isso imitando seu modo de olhar, seu modo de falar, tom de voz, jeito de andar, etc. Depois de “entrar”, no personagem, pedimos que identifique uma limitação qualquer que ele tenha e imagine como ele se comportaria frente a essa limitação se fosse aquele personagem. Em alguns casos a resposta é fantástica.
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Quando eu era garoto assisti um lindo filme em que Charlton Heston encarnava nas telas o famoso herói espanhol Rodrigo de Bivar, o lendário El Cid.
El Cid era o protótipo do herói perfeito. Guerreiro forte e valente, nunca perdeu uma batalha. Fiel aos seus princípios, era leal até o último fio de cabelo à sua pátria e seu rei. Corajoso, não tinha medo de desafiar o rei, ao mesmo tempo em que era capaz de oferecer água do seu próprio cantil a um leproso. E para melhorar ainda mais esse quadro, ele namorava Dona Jimene, (nada menos que a Sofia Loren), o T maiúsculo de todos os garotos da época.
Quando fiquei adulto e fui estudar História resolvi dar uma olhada na vida real do meu ídolo de infância e adolescência. Aí vi que a verdadeira vida do meu herói não era exatamente aquela que foi apresentada nas telas.
Alguma coisa era verdadeira, sim. Rodrigo nascera mesmo em Bivar, uma pequena aldeia próxima à cidade de Burgos, então a capital do Reino de Castela. Era filho de um nobre cavaleiro da corte castelhana, Diego Laínez, e de uma filha do também nobre de Castela, Rodrigo Alvarez.
Tendo ficado órfão de pai aos 15 anos, foi levado para a corte do rei Fernando I, onde se tornou amigo e companheiro do príncipe Sancho. Estudou no monastério de San Pedro de Cardeña, aprendendo sobre letras e leis
Quando o rei Fernando I morreu, o reino foi dividido entre seus cinco filhos, e não três como aparece no filme. Castela ficou para Sancho, a Galiza foi para Garcia, Leão para Alfonso, Toro para Elvira e Zamora para Urraca. Sancho era o filho mais velho. Teoricamente seria o herdeiro natural. Evidentemente ele não concordou com a divisão feita pelo pai e começou uma luta contra os irmãos para reunificar o reino. Isso também está no filme, embora não dessa maneira. Nessa luta, contou com a ajuda de Rodrigo que foi nomeado Alferes do reino.
Rodrigo tornou-se Cid O Campeador quando tinha 23 anos, ao vencer, em combate singular, o alferes de Navarra, um famoso cavaleiro chamado Jimeno Garcés, que no filme é tido como campeão de Aragão. O título de El Cid lhe foi dados pelos mouros, que o consideravam um guerreiro justo e nobre.
Sancho tomou do seu irmão o reino de Leão e, em seguida, atacou Zamora, que estava em poder de sua irmã Urraca. Durante esse cerco ele foi assassinado, a traição, por Bellido Dolfos, supostamente a mando de seu irmão Alfonso.
Sancho não deixou herdeiros e Castela voltou para as mãos de Alfonso. Mas este só conseguiu ser coroado depois que prestou o Juramento de Santa Gadea, ritual exigido pela lei de Castela, na qual ele jurava estar isento de qualquer envolvimento na morte do irmão. Esse juramento foi conduzido por Rodrigo, visto ser ele, além de principal comandante militar do reino, também um grande jurisconsulto.
Esse episódio também foi retratado no filme, embora não da forma heroica ali descrita. Mas é verdade que as relações entre o rei e Rodrigo se tornaram muito tensas depois disso, até que, em 1081, El Cid foi desterrado, pela primeira vez, de Castela.
Segundo a "Canción de Mio Cid", 300 dos melhores cavaleiros castelhanos acompanharam El Cid ao exílio. Isso fez dele um importante chefe militar que, segundo versões da história, se tornou um mercenário que alugava suas armas e seu exército a quem melhor lhe pagasse. Assim, ajudou o príncipe mouro Moutamin a conquistar Zaragoza e outros domínios. Trabalhou também para Al-Cadir, rei mouro de Valência, a quem ajudou a conquistar vários territórios.
Mais tarde, em 1093, ele próprio atacaria Valência e se tornaria príncipe independente daquele que era um dos mais prósperos reinos espanhóis. Segundo uma versão, a tomada de Valência teria sido feita em nome de do rei Alfonso de Castela, com quem El Cid estaria brigado. Não obstante, ele teria se recusado a ser coroado como rei da cidade, preferindo manter a lealdade aquele que, embora o tivesse desterrado, ainda era o seu rei. Foi nesse episódio que seus cavaleiros teriam dito: “ que nobre vassalo. Se ao menos tivesse um nobre rei.”
Na verdade, El Cid apossou-se de Valência e seus domínios e governou-a como príncipe independente até sua morte, que ocorreu em1099.
Quando li a verdadeira história de El Cid não me espantou que a versão idealizada que eu tinha do meu herói não lhe correspondesse fielmente. Afinal, eu já era adulto e podia suportar que as minhas fantasias sofressem alguns remendões. Afinal, eu já sabia que a perfeição não era uma simples questão ideológica, mas sim um problema de resultado. El Cid era um homem, não um deus. Foi, sem dúvida, um sujeito formidável, corajoso, valente, e de certa forma, um verdadeiro herói para os interesses da Espanha. Não tinha importância que não fosse tão nobre como o filme disse que era.
Afinal, esse é o grande segredo da mente adulta: Saber conviver com a realidade.
A única coisa que realmente não consegui digerir na história do meu herói foi o fato de saber de que Dona Jimene não era, na verdade, um T maiúsculo como a Sofia Loren, mas sim uma coroa tão feia quanto um dragão. E que El Cid se casou com ela porque a velhota tinha um patrimônio invejável.
Bom. Voltando as nossas aulas de PNL, quando eu preciso de coragem e nobreza para tomar uma decisão, mesmo contra os meus próprios interesses, a fonte dos meus recursos ainda é Rodrigo Dias de Bivar, o El Cid. Mas não é no Cid histórico que eu vou buscar essas referências, é no Cid de Charlton Heston. Aliás, se a mente de uma pessoa pode criar um personagem assim, a mente de qualquer outra pessoa também pode. E real é aquilo que você acredita. Afinal, se todas as nossas crenças fossem testadas com a realidade, o que sobraria delas?
A nossa mente precisa de modelos da mesma forma que uma pátria precisa de heróis. E não há nada de infantil nisso tudo.
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Do filme EL CID- 1960- estrelado por Charlton Heston e Sofia Loren. Produzido por Samuel Bronston e dirigido por Antony Mann.