“HollywoodLand – Bastidores da Fama” (HollywoodLand)
“HollywoodLand – Bastidores da Fama” (HollywoodLand)
Talvez exista, muito provavelmente escondido nas prateleiras de um sebo, o “Guia Prático do Filme Policial Mediano”, com ilustrações e tudo mais, sem falar nas descrições de todas as etapas mastigadas, que nem uma receita de bolo de fubá com chouriço.
Primeiro, 2 colheres de manteiga, em seguida bata as claras com o chouriço...
“Hollywood...” enquanto espetáculo, ronda esse calibre, embora nem por sonho possa ser catalogado de filme ruim.
Ben Affleck topou o papel ingrato de fazer um decadente que tenta não parecer decadente parecendo decadente. Com a classe que a hipocrisia exige de uma caricatura dessas e competência para tanto.
Adrien Brody (Oscar pelo “O Pianista”) é o detetive com uma idéia na cabeça sem uma arma na mão.
Diane Lane, vistosa, fútil, casada, entediada.
A cidade das redes, como já rotulou um dos grandes autores da nossa nação, foi tratada com o carinho necessário para fazer com se parecesse anos 50, sem sombra de dúvida a nota para a produção gira em torno de 8,7 e o ano proposto, 1959, coloca nas primeiras páginas um suicídio suspeito. Nesse ponto, nosso bolo de fubá com chouriço cai por terra.
Nos meados de 1959 o ator George Reeves deu um tiro na própria cabeça, sendo esse um fato verídico, bem como os demais apresentados no espetáculo, com exceção do detetive Adrien Brody.
Quem foi George Reeves? O cara que fazia a série de TV de estrondoso sucesso na época, conhecida como Super-Homem.
Produção de 2006 dirigida por um bamba da TV, o texano Allen Coulter, passou um tanto batida pelas prateleiras, mas sacia os fãs do gênero tanto quanto um carnívoro possa se divertir com uma pizza de calabresa num domingo friorento. Alguma proteína, farinha e cebola.
O carismático Bob Hoskins como Eddie Mannix, super executivo da MGM de então, ajuda bastante no douramento e Lois Smith, como a mãe do Super-Homem, inconformada não particularmente com o passamento, mas sim com a forma sugerida.
Affleck e Hoskins dizem que nunca estudaram tanto, desde as manchetes aos adereços da época, eram pilhas e pilhas de fotos, a própria produção, se não tomou o rumo do grandioso, se preocupou com delicadezas, tais quais lamparinas customizadas de locais badalados, estofo de móveis, bolachas para chope, maneirismos, costumes, a entonação da sra. Manixx (Diane Lane), etc.
No dia 16 de junho de 1959 o astro do seriado de TV, “mais rápido que uma bala...”, foi encontrado morto em sua residência em Beverlly Hills.
Nesse período a MGM rodava um longa por semana, um diretor de estúdio era um diretor de estúdio, e não uma marionete perdida com um crachá em meio ao monstro de sete cabeças composto por tabaco, armas, construção civil e o escambal. Era o estúdio e pronto. Um reino em si. Hoje o reino é acessório do monstro.
Affleck queria o cinema, fez pontas aqui e ali e o mandaram para a TV, para usar um cuecão vermelho e uma calça azul. Seu empresário o alertou para a estabilidade...Emprego garantido, dinheiro garantido, baixa auto-estima garantida. Tudo isso graças as intervenções de sua amante, a sofisticada sra. Mannix.
Affleck começa morto, Adrien Brody, sabedor das alcovas murmurantes, começa a supor que o autor da morte talvez fosse outro que não o próprio dono do corpo, e com isso temos 2 tempos em andamento, o tempo de Adrian investigando e o tempo de Affleck flanando pela vida, com alguns lamúrios, algumas esperanças, estas triplamente renovadas pela madura dona das oportunidades.
Diane Lane, bela mulher cujos últimos papéis deixaram de lado a justeza de seus traços, em “Hollywood...” está, como diria o Eça, de apetite. Casada com o vice da MGM, o nada fictício sr. Manixx, ambos dançam conforme a música: astros são produtos, devem ser embalados corretamente, e se cometerem algum deslize público, alguém já está de prontidão para empurrar tudo para debaixo do capacho.
O caso Reeves teve lá os seus caprichos...
Hoskins conta que, ao olhar as fotos de festas da velha Beverlly, todo sujeito em toda fotografia tinha sempre um copo numa das mãos e uma mulher na outra.
Hoskins cativa uma amante oriental, Diane um amante nativo, a modernidade dos casais não começou no “Malhação” e Diane diz a frase de ouro para o seu doravante protegido:
- Ninguém nunca pediu para ser feliz mais tarde. Diga o que você quer...
“Com raras exceções, todas as cenas envolvendo Reeves são verdadeiras”, afirma o diretor Allen Coulter, envolvido em um sem número de acertos na TV americana, onde se destacam, para nós, os episódios de “The X-Files”, “The Sopranos”, e pode acreditar que a lista é grande. Coulter acrescenta que o mistério em torno de Reeves ganha um adicional graças ao ficcional detetive Adrien Brody e seu interesse por uma morte até hoje não solucionada.
Reeves havia atuado em “E o vento levou...”, foi aprovado para contracenar com Charlton Heston no “A um passo da eternidade”, mas, na sessão privada para avaliação, quando ele entra em cena, as pessoas na platéia passam a troçar: “mais forte que uma locomotiva” e zás, sua carreira no cinema estava encerrada.
Com uma trilha noir impecável, com situações paralelas bem dotadas, e assim acarretando atuações dignas de nota, é o caso, por exemplo, da srta. Lemmon (Robin Tunney), que faria corar as meninas do “Sex and the City”, com a performance da própria Diane, que envelhece 10 anos com o ocorrido, mais o elaborado trabalho de pesquisa e a lebre levantada, “HollywoodLand” prima pelo exemplo do exemplo histórico.
Mesmo que a polícia tenha arquivado um caso com severas lacunas no B.O., a tragédia de Reeves estampou na mídia como suicídio, causando uma tremenda decepção na legião de fãs. Tal e qual as manchetes recentes, envolvendo esportistas e atitudes pra lá de anti-esportivas.