O Milagre de Anne Sullivan

Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.

Helen Keller

O Milagre de Anne Sullivan, lançado em 1962, dirigido por Arthur Penn e com roteiro de William Gibson é baseado no livro A História da Minha Vida (The Story of my Life), autobiografia de Helen Keller, lançado em 1902.

O filme nos prende do início ao fim e conta a história da menina Helen, cega e surda, e que, de certa maneira, vive em mundo de trevas, incompreendida e tratada como deficiente e doente pela família. Com a chegada da professora Anne, sua vida muda completamente, e, as transformações significativas pelas quais ela passa acabam por afetar também a sua família.

A cena de horror no começo do filme nos dá a certeza de que algo muito ruim aconteceu com Helen. Gritos de terror desfecham a cena, sentimentos de medo, desprezo e decepção explicitam-se nas faces dos pais. Depois disso, pena e compaixão, indiferença e apatia são os sentimentos que se confundem na rotina de convivência com Helen, na tentativa de aceitar a filha “deficiente” ou “doente”. Sem dúvida, transparece a visão que a sociedade em geral tinha (e ainda tem) sobre os surdos: pessoas incapazes, presas em um mundo de trevas e ignorância, incapazes de construir sua própria identidade.

Arthur Penn, o diretor, parece dedicar o maior tempo das câmeras às brigas exaustivas entre Helen e sua professora Anne. Talvez seja uma boa maneira de demonstrar a revolta que pode emergir de alguém que não compreende o mundo à sua volta e, além disso, enfrenta imensas dificuldades para se expressar, se comunicar, enfim, entender e ser entendido. No decorrer do filme, Anne empenha toda a sua energia para tentar, antes de tudo “domar a fera”, e criar mecanismos para conseguir comunicar-se com Helen, ensinar-lhe bons modos, e, sobretudo, dar significado, sentido às coisas que a rodeiam. Cria-se, então, uma possibilidade de comunicação entre as duas, permeada pela certeza do desenvolvimento da menina.

A tarefa de Anne é realmente difícil, mas com perseverança, amor e dedicação exemplar, ela consegue, em relativamente pouco tempo, transformar Helen em uma menina mais dócil, e, ao mesmo tempo, fazer com que ela comece a aprender a linguagem de sinais e a pronunciar suas primeiras palavras.

Acredito que o grande mérito do filme está em demonstrar, primeiramente, o preconceito presente em nossa sociedade e a grande dificuldade dos seres humanos em aceitar e conviver com o “diferente”. Em segundo lugar, como a linguagem e a significação são fundamentais para a construção da nossa identidade, possibilitando que nos desenvolvamos como indivíduos autônomos e independentes. De fato, os surdos são constantemente reprimidos e tratados como incapazes. A crença de que a fala é a chave da razão, e de que o conhecimento somente pode se consolidar através da mesma é uma falácia, que até hoje ainda está presente entre as pessoas.

Finalmente, o filme nos mostra que “milagres” acontecem, e que com determinação e competência, aprendendo a respeitar as diferenças, mesmo pessoas com tantas dificuldades e limitações como Helen podem superá-las, viver como cidadãos e construir suas histórias. Certamente, o filme é recomendado para estudantes em geral, educadores, futuros educadores, ou mesmo pais e mães, ou futuros pais e mães, frente aos grandes problemas educacionais e sociais da atualidade, que envolvem a comunidade surda e sua luta histórica pela garantia de seus direitos.

Samoth Ahcor
Enviado por Samoth Ahcor em 20/07/2010
Código do texto: T2388300
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