FILME: O EFEITO BORBOLETA (2003)
DIRETOR: J MACKYE GRUBER E ERIC BRIERS
GÊNERO: MISTÉRIO

SINOPSE: Um garoto que sofreu profundos traumas em sua adolescência costuma ter falhas de memórias em momentos de grande pressão (estresse). Quando tenta descobrir uma resposta para curar suas feridas emocionais, ele descobre que quando recupera o conteúdo dessas memórias perdidas, ele "viaja no tempo" e é capaz de "refazer" as ações que praticou enquanto adolescente. Mas a cada vez que ele "refaz" o seu passado, uma nova consequência das suas ações são projetadas no presente. Assim, seu futuro varia na medida em que ele muda o seu passado. E ele descobre que apesar de suas intenções serem boas, as ações que ele realiza sempre trazem inesperadas consequências.

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A possibilidade de que um minúsculo evento ocorrido em um lugar qualquer do universo possa provocar um grande distúrbio em outro lugar, a milhares de quilômetros de distância é uma idéia deveras fascinante. Isso implica em dizer que todas as coisas estão, de certa forma, tão enredadas numa múltiplicidade de relações, que já não sabemos se temos mesmo livre arbítrio para fazer o que bem entendermos.
Se quisermos mesmo defender a idéia do livre arbítrio temos que admitir que somos responsáveis pelas consequências das escolhas que fazemos na vida. Por que essas escolhas não dizem respeito somente a nós mesmos. Cada ato que praticamos, cada decisão que tomamos é um evento que está sujeito à uma verificação ecológica dos seus efeitos, pois com ela podemos provocar um desequilíbrio no sistema inteiro. Isso nos faz responsáveis pelo ambiente em que vivemos e não apenas pelo pequeno território em que nos movimentamos. Na complexa rede que nós montamos para garantir a continuidade da nossa espécie, o efeito borboleta pode receber vários nomes: ecologia, ética, responsabilidade, cooperação, são alguns desses títulos, mas no fundo, o que sobreleva e própria sobrevivência da espécie. Essa é a implicação moral e filosófica da curiosa idéia veiculada por essa estranha e instigante intuição de James Gluck..
Se quisermos podemos ligá-lo também ao velho princípio do Mak Tub, tão caro aos povos orientais, principalmente os de religião muçulmana. E também podemos relacioná-lo ao budismo e do hinduísmo, já que nessas religiões existe a crença numa lei cósmica ― o karma ― que determina o curso das nossas vidas na terra e o destino do próprio universo. Quer dizer, nesse caso, tudo está escrito, tudo acontece de acordo com um destino pré determinado por Deus.
Karma e Mak Tub são leis naturais que conformam a nossa existência. Assim, tudo que fazemos têm importância, por que é o resultado de nossas ações que determinam o rumo que a roda do destino nos conduz.
No efeito borboleta nossas ações repercutem sobre nós e sobre os outros, da mesma forma que também não escapamos das conseqüências das ações alheias. Isso significa que estamos numa relação de correspondência biunívoca com todas as coisas e pessoas do universo, nelas influindo e delas recebendo influência.
Dai o interesse filosófico que o efeito borboleta nos inspira. Ele diz que um mero rufar de asas de borboleta na floresta amazônica pode causar um pavoroso tufão no Texas. Isso significa que cada evento ocorrido no universo, por insignificante que pareça, é imprescindível para que ele seja o que é. Nada do que acontece no mundo é gratuito nem intemporal. Tudo ocorre por ser imprescindivelmente necessário que aconteça, daquele jeito e naquele momento.
Assim, podemos pensar que se cada ato que realizamos no passado pudesse ser refeito, de modo diferente, todo o universo seria também diferente. Isso é assim por causa do principio da incerteza, outra descoberta da moderna física atômica. Esse princípio nos diz que as condições de ambiente em que um evento acontece nunca se repetem com os mesmos elementos e a mesma conformação. Assim, a cada bater de asas da borboleta na floresta amazônica, teremos uma consequência diferente em qualquer outro lugar do mundo. Em vez do tufão do Texas poderemos ter um tsunami no Japão, um tórrido verão na Patagônia ou na Sibéria,  ou até um temporal no deserto do Saara.
O principio da incerteza nos diz que o futuro só seria matematicamente previsível se todas as condições permanecessem constantes. Como essas condições nunca se repetem, ele é uma incógnita impossível de determinar. Já o efeito borboleta nos mostra que cada ação que realizamos, por ínfima que seja, mexe com toda a estrutura cósmica.  Por isso acho bom que não possamos voltar sobre os nossos passos para desfazer o que foi feito. Isso provocaria um caos extremo. E nós não viemos ao mundo para desarranjá-lo, para sim para organizá-lo. Para isso nos foi dado uma mente lógica.
Se as nossas ações passadas nos trazem constrangimento no presente o que podemos fazer é fazer de novo mudando de estratégia; e a cada vez que fizermos, um resultado diferente será obtido. Poderão ser melhores ou piores do que os anteriores. Isso depende de nós. Saber disso nos dá bastante tranquilidade para ir tocando a vida com confiança e responsabilidade. 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/07/2010
Reeditado em 03/11/2010
Código do texto: T2384865
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