“Entre irmãos” (Brothers)
“Entre irmãos” (Brothers)
País de origem, EUA, dirigido pelo irlandês Jim Sheridan, cuja reserva de imagem é do balaco, em terras lusas e não só lusas Jim tem o status de “um dos maiores diretores europeus”.
Tobey Maguire e Jake Gyllenhaal - os irmãos. Natalie Portman, a esposa. De um deles, evidentemente. O trailer sugere um triângulo amoroso, embora há muito a indústria de trailers esteja sofrendo de encefalite, para se dizer o mínimo permissível, e sendo o assunto em si digno de um artigo cavalar.
Com jovial boa vontade constata-se, encerrada a história, um triângulo afetivo e nada mais.
Tobey e Jake, brothers água e vinho, um é casado com a Natalie e outro puxa cana por assalto. Um é patriota devotado, filho de seu pai, Sam Shepard, oficial condecorado, outro é espinafrado pelo pai (o mesmo pai), toma uns goró e causa uns pobrema.
O patriota vai à guerra, devidamente paramentado. O irmão vinho fica no pedaço. E a genialidade do trailer, com seus recortes, sugere um filme-retrato de más intenções quando na verdade a história é outra.
Alguém deveria conversar seriamente com a indústria de trailers.
Jim Sheridan entrou em destaque na cena global com a obra “Meu Pé Esquerdo” (1989) e sublinhou seus predicados com “Em nome do Pai” (1993), dentre outros sublinhamentos e prêmios. Fica difícil um cara desses enfiar a mão na cumbuca da baixaria para alavancar uns trocados e saciar audiências outras que não a sua. Às vezes acontece, embora esse não seja o caso.
O irmão pátrio, Tobey Maguire, além da esposa deixa duas filhas pequenas. Foi dado como morto no Afeganistão. O irmão vinho, Jake Gyllenhaal, que fica no pedaço, é um cara muito mais sossegado do que vende a sinopse oficial. Suas visitas à casa da cunhada acontecem com a naturalidade do destino. Em instante algum a história vende um ser inadequado, insidioso, rondando o lar de uma viúva.
O roteiro de David Benioff (craque no assunto) e a abordagem de câmera do senhor Sheridan vão no piano, piano, cool, como dizem os estrangeiros, o ponto alto do filme fica por conta das situações domésticas, vide, a exemplo, a cena do irmão vinho e seus amigos pintando a cozinha da viúva, a vida com suas cruzes, mas sem histerismo.
Do outro lado do mundo, Tobey vive o lado B da guerra, e pode apostar que essa possibilidade existe. Ele volta e o invisível se manifesta, tanto do seu lado, uma bagagem com vultosa cicatriz, em natural oposição à casa que flana, com a harmonia de uma dor passada e inusitada alegria.
Os brothers são brothers mesmo, não na vida real, mas no que se espera de uma relação consangüínea. O invisível que paira entre eles é leve como linho branco. Dir-se-ia fraternalmente práticos e pouco ruidosos. Coisa de outro mundo, o mundo nórdico, pois o filme é uma refilmagem de “Brodre”, da dupla dinamarquesa Susanne Bier e Andres Thomas Jensen.
Tobey engrossa as fileiras de mais um combatente que só se sente em casa longe de casa. Entretanto, até então ele só conhecia a guerra no formato papai/mamãe. O lado B vai mudar sua perspectiva.
Thomas Newman (outro craque) assina a trilha e no perímetro desta há o destaque para a canção do U2, quase laureada pelo Globo de Ouro.
Infelizmente a morte não é um clichê. Tobey foi dado como morto - os que ficam se culpam, se cobram e por fim se abraçam. A tendência dos remanescentes é se irmanar.
No final, Jim Sheridan avisa que, seja qual for a situação, os ponteiros devem ser acertados.