“Preciosa - Uma História de Esperança” (Precious: Based on the Novel Push by Sapphire)

“Preciosa - Uma História de Esperança” (Precious: Based on the Novel Push by Sapphire)

Se você supõe, porque afinal todo mundo supõe, que só pelo fato do filme aventar com esperança e ter a participação da Oprah Winfrey na produção vais assistir algum bolinho confeitado, pode tirar a pipoca da chuva.

“Precious...” é uma paulada federal, resumindo assim, em três palavras e um verbo.

No mar das intenções, de onde emerge toda obra de arte, esse candidato ao Oscar 2010 joga para fora do cavalo quem supõe, (de novo), estar assistindo mais uma história de superação a La Oprah, pelo simples fato de que não há o que superar, na arrepiante realidade de Claireece "Preciosa" Jonas, interpretada pela atriz Gabourey Sidibe. Esquecer e suportar são as alternativas, mas essas só vigoram quando o filme termina.

Até então Preciosa se alterna entre os mundos, pois dizem que você está onde sua mente está. E se por ventura estivéssemos nos tempos de Dom João VI, a atriz que interpreta a mãe da protagonista, a comediante por ofício Mo'Nique, seria no mínimo apedrejada em praça pública. Tão infame é seu papel, tanta realidade ela trouxe à baila com olhares e palavras, especialmente na última cena. Tal desempenho não passou em branco e Mo'Nique foi a ganhadora da categoria melhor atriz coadjuvante.

Lee Daniels dirige. Ele tem uma queda por produções fortes que cumulam prêmios, “A Última Ceia” e “O Lenhador” estão no seu currículo, dois entretenimentos sem confeito, o primeiro valeu o Oscar para Halle Berry, primeiro Oscar conquistado por um afro-americano, desde o surgimento da Academia.

Preciosa é mais uma adolescente cuja geografia e o tempo não mudam a realidade. O enredo acontece no Harlem de 1987, mas tem correlatos em mais lugares do que gostaríamos de precisar, seja no tempo, seja no espaço.

Abusada pelo pai, tendo a mãe como cúmplice, beirando o que se diz obesidade mórbida e uma parca compreensão do que significa, afinal, o mundo externo, Preciosa toca o seu barco mais ou menos do jeito que uma onda quebra na praia. Toca inevitavelmente.

Ramona Lofton nasceu em 4 de agosto de 1950 e apresentou “Push” aos editores em 1995. Eles leram as primeiras 100 páginas e ofereceram 500 mil dólares pela conclusão da obra. Ramona tinha 4 irmãos, seu pai era militar e sua mãe caiu na estrada. Em fins dos 60 ela foi hippie em São Francisco, dez anos depois mergulhou na poesia em NY e logo em seguida se tornou Sapphire. Para nossa sorte.

Uma obra cinematográfica é feita de várias mãos, cada par de mãos tem sua história, a união delas promove o acontecimento, isso parece óbvio, mas nesse filme a agremiação dos envolvidos não passa em brancas nuvens.

Na vida real, Gabourey Sidibe é filha de uma cantora gospel e de um motorista de taxi. Seu trabalho em personificar a Preciosa lhe valeu o Sundance Film Festival - Grande Prêmio do Júri. Longe de ser uma menina bonita ou dotada do já um tanto caduco sex appeal, seu background pode ser diferente, mas sua fisionomia é essa mesma e com certeza, na tela ou na ficção, o preconceito é uma realidade. Se se pensar em termos de cinema e glamour, trata-se de um dado e tanto para o espectador ruminar com seus botões.

Paulla Patton (Deja Vu) e os pop stars Mariah Carey e Lenny Kravitz remam no mesmo barco de ajuda à adolescente. O destino já havia lhe dado fardos em demasia para carregar. Preciosa vai como pode, esperando um filho, torcendo pelo outro e literalmente sonhando com outra vida que não a sua. Paulla, Mariah e Lenny são os tradutores que vão lhe explicar, com uma dose de afeto e atenção, que nem só de pauladas vive o ser humano.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 14/06/2010
Reeditado em 02/11/2012
Código do texto: T2319725
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