“Invictus” (Invictus)
“Invictus” (Invictus)
Não é de hoje que esporte e mentes dispostas buscam a integração racial. Inclusive, dá mais sentido ao “corpo são em mente sã”, como já diziam os antigos.
Em “Invictus”, o diretor Clint Eastwood
fornece uma palinha sobre determinado ângulo do governo Mandela, Nelson, (Madobi para os íntimos). Reza a palinha que Nelson, durante seu cooper matinal, se depara com uma manchete de jornal: “Mandela foi eleito, mas terá competência para governar?”. Quem você vê arquear as sobrancelhas e ruminar: “eles levantaram um justo questionamento”, não é o próprio Nelson, mas Morgan Freeman, num de seus melhores papéis. E eis uma justa especulação.
Nelson foi para o xadrez em 1964, tendo permanecido na mesma cela por quase 27 anos.
Saiu de lá para deparar-se, sem um pingo de espanto, com uma África do Sul amargamente dividida entre Afrikaaners e a população negra. Enquanto todo mundo esperava - inclusive os próprios habitantes – um governo revanchista guiado pelo cajado de Talião, Mandela propõe de imediato, sem retaliação e com atitudes, o perdão e a nação arco-íris.
Espectadores, especialmente aqueles com um centímetro cúbico de idealismo no coração, vão aprender moderna história com gosto, vendo Morgan despachando com o Verbo Firme na Luz, ciente de que o país necessita de escolas, hospitais, investidores, etc., tanto quanto necessita suplantar a medonha questão do apartheid. Uma questão que começa no cérebro e termina, impreterivelmente, no sofrimento.
É quando ele aposta no rugby e no capitão do time, Matt Damon, para lançar nos cérebros, através dos corpos, o conceito da nação arco-íris.
“Invictus” é um filme sobre Mandela longe do sofrimento do claustro e na plenitude da ação por um mundo melhor. O governo Mandela não resolveu os problemas da África do Sul mas colocou a nação na trilha do ótimo em relação ao que estava, surpreendendo a lógica dominante e em vigor desde os tempos da clava. Na Rússia bolchevique não se falava com o outro irmão russo e sim com o partido e, se fosse possível tiranizar o próximo, nem que fosse por uma folha de alface, os trâmites já eram dados por findos. Os governos vizinhos da nação Mandela, Zimbábue e Rodésia, fizeram o velho caminho do erro versus erro.
O time de rugby liderado por Matt Damon é a menina dos olhos dos Afrikaaners, conta com apenas um jogador negro, a Copa do Mundo de Rugby está próxima e a grande sacada de Nelson foi apostar no marketing que dá a outra face através do encantamento do esporte.
Kyle Eastwood assina a trilha, (deve ser bom ter um artista na família), valem as cenas da dança Maori do time neozelandês, o jato sobre o estádio e todas as falas de Morgan Mandela.
Aquela bola ovalada do rugby, de acordo com as regras do jogo, só pode ser passada para trás e para os lados, nunca para frente. Tal e qual alguns governos que eu conheço.
Nelson pregava a bola pra frente.