LULA, O FILHO DO BRASIL
Confesso: não estava nem um pouco empolgado em assistir Lula, o Filho do Brasil. Mas esclareço: meu pré-conceito não era com relação ao personagem retratado e, sim, com o trabalho do diretor do filme, o Fábio Barreto, o qual nunca me despertou admiração, vide algumas buchas que engoli dele como Bella Dona e Paixão de Jacobina.
No entanto, fui vencido pela curiosidade em conhecer a vida do presidente do país que, afinal, "é o cara". Portanto, apertei o play e aceitei ver Lula, o Filho do Brasil. O resultado? Foi um dos filmes mais políticos que assisti!
A cena de abertura do filme é brilhante e ilustra a falta de amor do pai de pai Lula. Aristides (interpretado com sutileza por Milhem Cortaz) está de partida para a cidade grande. Ele sai de casa e, de soslaio, dá uma olhada na prole sentada, sem demonstrar nenhum gesto de carinho. Em seguida, enche de beijos o seu cachorro. Antes de cair no mundo, ele volta o olhar para Lindu que surge na porta. Ele tenta encontrar alguma coisa para dizer, meneia a cabeça, ergue o chapéu e, se dá conta que não precisa justificar os seus atos. E simplesmente vai embora. O filme, nesse momento, promete...
Depois disso, vem o nascimento de Luis Inácio que, mais tarde, ganha o apelido de Lula. Nesta fase inicial, a dona Lindu vivida por Glória Pires é a verdadeira estrela do filme e cativa com seu jeito simples e não se deixa vencer diante das tantas dificuldades da vida. A pobreza está presente de maneira bem convincente. E a interpretação resignada de Glória Pires empresta às cenas um realismo de cortar o coração. O filme segue prometendo...
Vemos o garoto Lula aprendendo a importância do estudo, os valores famíliares e testemunhamos sempre os ensinamentos positivos de dona Lindu que, a essa altura, já conquistou nossa simpatia e enche a tela toda vez que surge em cena, sempre prometendo.
E, o filme segue em frente. Entrando na fase adulta, Lula é interpretado pelo ator Rui Ricardo Dias. A partir daí, os diálogos ficam sofríveis, mais próximo de um episódio de Malhação. Mas vez por outra, dona Lindu aparece com alguma sabedoria da vida. Tudo bem, o filme ainda promete...
Lula se forma torneiro mecânico e, em seguida, começa a se envolver com o Sindicalismo. É a partir deste momento que o maniqueísmo de Fábio Barreto mais se ressalta. O personagem principal se torna um homem mais que bondoso, virtuoso, corajoso. Mas, tudo bem, dona Lindu sempre volta à cena para aconselhar nosso herói, que já dá mostras de sua liderança. E o filme segue prometendo....
Lula e se torna presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, liderando a greve geral da categoria. Na cena mais marcante do filme, ele discursa num estádio para um público de 100 mil pessoas. Ao final, é carregado pelos braços do povo. Porém, ao saírem do estádio, a milicada estava à espera pronta para baixar o cacete nos trabalhadores. Afinal, era época da ditatura militar. O filme promete muito..
A greve dos trabalhadores do ABC se torna uma dor de cabeça para os militares, que decidem prender Lula, a essa altura já consolidado como uma liderança marcante. Mesmo assim, os péssimos diálogos não permitem compreender a natureza histórica do personagem e, apesar de ser um bom ator, Rui Ricardo Dias mostrou-se descuidado ao discursar ora com o tom de voz roubo característico do Lula real, ora com sua voz normal. O filme segue na promessa...
...E eis que vem uma cena triste do filme, marcada por flashbacks e sobem as letrinhas!! O filme acaba!!! Quando você pensa que vai testemunhar a criação do líder político que todos conhecemos, Fábio Barreto simplesmente diz adeus e, preguiçosamente, coloca algumas informações na tela para dizer o que aconteceu!!!
Fiquei indignado. Não fosse a dona Lindu, de Glória Pires, eu teria odiado o filme, mais um do Fábio Barreto. E, não importa o que digam: Lula, o Filho do Brasil é, sim, um filme político. Daqueles que só promete, promete e promete. Mas que, ao final, não cumpre nada daquilo que você esperava.