Realidade Vs Trauma: Sonhos que se tornam A Hora do Pesadelo
Quando desejamos algo, muitas vezes esquecemos outros objetivos que deveriam ser alcançados, para podermos ir em busca da realização de novos sonhos. Realizar um sonho maior muitas vezes fica em segundo plano, ou mesmo em quinto plano, sonhos grandiosos requer tempo para serem realizados, e além de tempo, requer força de vontade além da que usamos diariamente. Contudo essa categoria de sonho, desejo, fantasia são todas sinônimas de ilusórias realizações futuras, é querer prever o futuro através de planos e objetivos; é a busca do objeto do desejo. E este por final nunca é alcançado, o ser humano tem a desprovida consciência da realidade objetiva, não se sabe realmente o que desejamos em fim, sempre queremos algo novo (como já dizia outros pensadores), sempre em busca da materialização de seus almejos, seus objetos de desejos, a concretização do tão esperado sonho americano.
Não podemos simplesmente ignorar a fantasia, o imaginário, pois dependemos da imaginação para a criação de novos mecanismos de evolução, o que seria da ração humana sem o poder da criação, e este sem a capacidade de criar novos substantivos a partir dos existentes, pois é assim que funciona nosso imaginativo processo criativo. A imaginação não cria nada (novo) do zero, sempre é um processo lento e sistemático de associação de imagens pré-existentes e de palavras poderosas que dão vida a tudo que possa existir ou co-existir numa coletividade com as mesmas crenças.
Se analisarmos assim, e seriamente assim, podemos realmente acreditar na máxima que “nada se cria, tudo se transforma” (Lavoisier e sua lei da conservação de matéria, séc. XVII) e chegarmos a uma nova realidade, a de que somos volúveis; calma, isso não é ruim, ruim seria se fossemos todos estáticos. Onde estou querendo chegar com toda esta explanação, e o que tudo isso tem, a ver com o título do texto, já estou chegando lá. Mas antes vou concluir este parágrafo. Enquanto você lê este artigo estou imaginando o que você poderia estar imaginando, e como seria interessante se realmente eu pudesse sentir seus pensamentos, poderia ir modificando o meu próprio texto enquanto o escrevia, e sairia do jeitinho que você gosta, contudo isso não seria o correto, pois não é apenas você que está lendo, e você sabe que assim como você, têm outros, com opiniões e crenças diferentes. Não basta apenas escrever o que você quer ler, para que você possa acrescenta novos conhecimentos tem que adquirir novas informações, e são estas novas informações que depende a criação e a remodelagem do que já existe. Lembre-se da lei de Lavoisier, agora para chegar onde quero chegar, e sabendo da importância dessa máxima, para tudo o que já foi falado desde o primeiro parágrafo, nem sempre o correto é aceitar os sonhos como eles são, ou como a maioria acredita que deva ser, é fundamental mantermos a razão em constante vigilância, pois os sentimentos emotivos têm a terrível capacidade de camuflar nossas decisões nos momentos mais críticos. E também de alterar nossos julgamentos. E disso dependem os nossos sonhos, para que eles possam ser alcançados!
É na hora de julgarmos a seriedade do quanto encaramos a realidade, que muitos ficam a pensar se o que realmente o que queremos é possível de ser alcançado, ou de que não passa apenas de mais um sonho que será possivelmente esquecido. Refletir sobre a realidade e o imaginário é uma tarefa que requer não só a capacidade de saber diferenciar a realidade do não real, como também até quando a fantasia pode não se tornar real, mas também a destreza de saber equilibrar os dois, sair com méritos após mostrar se vencedor. Uma das coisas que mais se destaca em ‘A Hora do Pesadelo’ (2010) é o conflito dos personagens em querer a aceitar os acontecimentos como apenas uma realidade alternativa proveniente dos traumas causados na infância pelo pedófilo Freddy Krueger. A verdade que eles não querem aceitar é irrevogável, Freddy existe e estar em busca de vingança. Os jovens que serão mortos seguidos uns dos outros foram vítimas do passado tenebroso, todos passaram pelas mãos do maníaco, que aparentemente era carinho e dedicado aos seus afazeres e cuidar das crianças de uma escola no período de recreação. Contudo as crianças relatam aos pais, e estes decidem realizar a ‘lei’ com suas próprias mãos. Com o passar do tempo inicia uma série de mortes inexplicáveis. O que realmente estaria acontecendo com estes adolescentes? Estariam eles cometendo suicídios por causa do trauma dos abusos na infância que estariam relembrando, na verdade é de se pensar realmente na existência de Freddy, contudo o filme (história) quer mostrar realmente que esta possibilidade de existência de um ser onírico possa causar sérios transtornos através dos sonhos. E é assim que nos sentimos, como poderemos sonhar se algo nele pode realmente existir e ser tão fatal/mortal? Contudo, a protagonista materializa um pequeno retalho do suéter de Freddy, nos deparamos com outra realidade, ELE é real. E a partir desta descoberta, também é revelado um grande segredo, os sonhos podem ser reais; podem ser materializados e o fato de se saber desta condição, não ficamos nem um pouco animados, pois o medo apenas toma novas dimensões, partimos da crença de que tudo não poderia passar de apenas jovens problemáticos em conflitos com seus traumas de infância, para um perigo além de real é sobrenatural, onde nem mesmo no lugar mais secreto e inalcançável, ele pode ir, os nossos sonhos, nosso inconsciente, e o pior de tudo, ele tem o pleno domínio, ele é o ser maior.
Assim como no filme original, este também mantém as regras e o terror necessário para ser um bom filme do gênero, e nada superior a isso, deste que uma vez ele não deve ser comparado com sua fonte de origem: ‘A Hora do Pesadelo’ (1984), e o de 2010 se torna fraco justamente nisso, ele quer ser algo novo, algo a mais da fonte, assim como iniciei meu artigo, tudo pode se perder se a nova criação não tiver uma nova característica, passar novas informações, e não apenas tentar ser como o original, e isso seria um remake (refilmagem), mas como a proposta é ser um reboot (um novo começo) ele quer reiniciar, contar de outra perspectiva, e o que consegue na verdade é em algumas cenas, fazer uma homenagem ao filme original.
Seguindo minha linha de raciocínio, poderíamos concluir que não é uma história nova, já que esta mantém praticamente todo o enredo da outra, e o personagem diferente do original, não se auto define como apenas molestador, afinal para que ele quer a luva com navalhas? De onde elas surgiram, e para que ele queria elas? Para o primeiro Freddy, sim todos nós sabemos a utilização de tais navalhas, é tanto que a mãe de uma das vítimas as guarda como um troféu pela execução do estripador, e não estuprador de crianças. Assim, não funciona como remake, pois não mantém os mesmo elementos fílmicos do original, e nem funciona como reboot, pois este não acrescenta informações peculiares, relevantes nem contundentes com sua própria narrativa, portanto não merece créditos como tal.
No mais sem comparações com o primeiro, este filme de 2010, merece ser visto, pois ainda é um filme de terror, e só. E funciona principalmente para quem nunca viu a série primaria, e para aqueles que ainda acreditam em materializar sonhos impossíveis.