ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
O filme poderia se chamar "Os delírios visuais de Tim Burton", já que o que se sobressai neste grande sucesso do cinema que beira o 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais, é o estilo gótico do diretor. Baseado no livro de Lewis Carrol, o filme acompanha o retorno da jovem Alice ao mundo subterrâneo, onde precisa enfrentar a tirana rainha vermelha e ajudar a sua irmã, a rainha branca a tornar-se a verdadeira herdeira da coroa. Para isso, ela contará com a ajuda de animais falantes (coelhos, cães, ratos, gato etc) e também do Chapeleiro Louco, interpretado por Jonnhy Depp. A partir do momento em que Alice cai na toca do coelho, tudo no filme acontece muito rápido. A personagem vai interagindo com personagens e passando rapidamente por algumas fases bem pontuais.
Aliás, fica até parecendo como se tudo não passasse de um imenso videogame. A personagem principal é desprovida de carisma e chega a ser chata em muitos momentos, especialmente quando o roteiro quer acentuar o fato dela ser uma "mulher à frente de seu tempo", questionando os costumes da sociedade aristocrata em que vive, uma manobra para fazer com que o espectador comum se identifique mais com ela, o que não chega a acontecer.
Infelizmente, também o Chapeleiro Louco do Jonnhy Deep é tão maluco que não chega a ter uma personalidade definida. E soa notório que a participação do personagem foi espichada além do necessário, com a criação de cenas e diálogos desnecessários, só para dar mais tempo de tela a Depp, o que não chegaria a ser mau, já que ele é um ótimo ator. Mas é uma pena que o personagem seja um coadjuvante de luxo. Fica parecendo como um Willy Wonka desvairado. Por sua vez, o gato Cheshire, que tanto me apavorava na leitura do livro original ou no desenho clássico da Disney, aqui é só mais um amiguinho disposto a ajudar Alice, sabe-se lá porquê.
A rainha branca, interpretada por Anne Hathaway se resume a frases curtas, bobas e desnecessárias. Pior ainda é a sua expressão corporal: a personagem está sempre com braços levantados à altura do rosto. A melhor coisa do filme, na minha opinião, é a Rainha Vermelha, interpretada por Helena Bonham Carter, que entrega-se ao exagero vilanesco e diverte, apresentando-se como a única personagem em que se vê algum tipo de conteúdo/motivação.
É claro que o filme se trata de uma fantasia, mas ainda assim, falta um pouco mais de coerência. Resumindo: me decepcionei com o filme. E não ajuda, ao fim da projeção, ouvir a ótima cantora Avril Lavigne tentando cantar como se fosse a Amy Lee. Infelizmente Avril não tem o poderio vocal da líder do Evanescence e, portanto, seus gritos na canção-título do filme levam sua voz a um patamar irritável, em vez de admirável.
Mas para mim, o melhor de Alice no país das Maravilhas foi poder curar um trauma: quando criança, eu realmente tinha muito medo do gato de Alice (Cheshire) com seu poder de sumir, deixando um sorriso sinistro no ar. Ao ver este filme, tive vontade de ter um gato igual aquele, muito fofo. Fora isso, o filme é chato. Eu entregaria o Tim Burton à Rainha Vermelha e diria: "cortem sua cabeça".