Ao Mestre Hitchcock - 50 anos de Psicose
Assim como muitos sou um grande admirador do grande cineasta que ajudou a construir ao longo dos anos toda indústria do cinema mundial, influenciando com suas técnicas e seu jeito perfeccionista de trabalhar, estou falando de um dos nomes mais significativos da historia do cinema que está completando, neste ano de 2010, 90 anos de carreira cinematográfica, o Diretor britânico, e mundialmente conhecido pelos seus filmes de suspense, Alfred Hitchcock. Iniciou a trabalhar no cinema em 1920, contudo só apenas em 1925, é que ele faria seu primeiro filme como diretor, e já em 1926 mostrou ao mundo seu verdadeiro talento como diretor de filmes de suspense, com o filme “O Inquilino” (The Lodger: A Story of the London Fog) a partir daí, ele faria muitos filmes que o engrandecia mais e mais, o tempo foi passando e as técnicas cinematográficas sempre inovando e reinventando, o cinema mudo deixou seu espaço para os filmes sonoros e falados, o próprio Hitchcock deixou de ser um britânico para se tornar um cidadão americano (1955), onde ficaria conhecido como o Mestre do suspense depois de realizar grandes filmes grandiosos. Nasceu em 13 de agosto de 1899, em Londres, e morreu em Los Angeles no dia 29 de Abril de 1980, não foi apenas o mestre do suspense, Ele foi e é o mais conhecido e popular diretor de todos os tempos.
Conhecer a vida e obra deste grande ícone do cinema não é nenhuma tarefa complicada ou mesmo obrigatória, é definitivamente indiscutível. Sei que apreciar um bom filme não significa entender ou saber como fazê-lo, nem muitos menos ter a obrigação de conhecer os artifícios de produção, luz, câmera e ação. Sei que o simples fato de saber apreciar um bom filme já é o bastante para se dar o devido respeito a uma obra. E saber apreciar uma obra é sentir que realmente o trabalho empregado nela teve seus objetivos alcançados, Hitchcock não só entendia esta mensagem subliminar, esta magia invisível, mas sabia como interagir entre o filme projetado na tela e o espectador que assistia, e assim tentava prever cada reação do espectador em uma cena mesmo antes dela não estar pronta. Assim era o mestre do suspense, que em uma de suas obras mais significativas e mais elogiadas de todos os tempos, tentou superar barreiras, tabus, e um baixo orçamento, para por nas telas o filme que ficaria conhecido na historia do cinema por uma única cena, a cena do chuveiro. “Psicose” (Psycho, 1960), que neste ano completou 50 anos de sua primeira estréia nos cinemas. Por tudo isso é que devemos procurar conhecer a vida do criador e de sua obra não separadamente, mas procurando uma forma linear para compreender vida/obra sem que para isso se torne algo enfadonho. Que seja divertido assim como a vida deve ser.
Desta maneira vamos tentar entender um pouco, digo apenas um pouco, da vida deste homem e de sua obra maior, pois em ‘Psicose’ podemos encontrar em suas varias tomadas toda a técnica adquirida e aprimorada durante seus anos como cineasta. Não estaríamos assim falando sobre este filme se ele não tivesse particularidades que o projetasse na mídia de maneira a se consagrar durante 50 décadas, e influenciando gerações de diretores que veem tentando copiar o jeito do Grande Mestre Hitchcock. Mas sabemos que por mais que tentamos copiar alguém, nunca faremos igual, assim também podemos dizer que copiar não será o termo certo, ou mesmo o objetivo a ser seguido, mas aprender com o mestre, e tentar melhorar suas próprias técnicas. Hitchcock ao produzir ‘Psicose’ inferiu todo seu conhecimento e suas manias. Era um homem de manias, e acima de tudo um artista perfeccionista.
Em ‘Psicose’, ele apresenta sua personagem principal (pelo menos até a primeira metade do filme) de maneira interativa com os espectadores, tornando-os observadores, e como voyeurs, penetramos pela janela de um quarto, sem sermos convidados, para escutar a conversa intima de um casal e assim compreender as intenções da personagem que em seguida rouba da empresa para qual trabalha há vários anos, uma quantia significativa de 40 mil dólares, e foge aparentemente sem rumo, e novamente nos sentimos como voyeur, pois parece que a personagem sabe que estamos lhe observando, e em close, ela olha para a câmera e assim revela seus pensamentos imaginativos de que ela se dará bem, que finalmente será feliz. Mais adiante, já instalada no Bates Motel, descobrimos que o jovem Bates não é um rapaz tão educado e prestativo como ele se mostra para a jovem protagonista, ao espionar por um furo na parede, ela se despindo, numa cena erótica e perniciosa, algo imoral, seja para aquela época como para nossos dias atuais. A invasão de privacidade é algo que todos reprovamos. Este elemento de enredo voyeur, foi usado em outro filme mais antigo, em ‘Janela Indiscreta’ (1954), contudo nesta obra de maneira menos direta e mais sugerida e aprimorada.
Outro aspecto a destacar são os elementos fílmicos que são usados em suas obras, muitos deles são apenas para dar inicio a trama, mas que não terá grande destaque na conclusão da história, como é o caso do dinheiro que a Marion rouba, ele está presente até ela ser morta, depois daí, ele sai de cena assim como ela. O dinheiro serviu apenas como pretexto para que o enredo levasse a jovem até o seu destino incerto e mortal. São com estes elementos fílmicos que o Mestre vai dando ao ritmo lento do filme o suspense, que aos poucos vai tomando forma e ganhando destaque. Em seu estudo sobre a vida e obra de Hitchcock, Truffaut (2004, p. 26) explica que “a arte de criar suspense é ao mesmo tempo a de botar o público ‘por dentro da jogada’” o que caracteriza perfeitamente o suspense de hitchcockiano, pelo fato de não trabalhando dando sustos nos espectadores, mas por fazê-lo cúmplice dos acontecimentos, fazendo ficar ansioso e angustiado pela solução da trama. Na clássica cena do banheiro apenas nós notamos uma pessoa entrando, enquanto Marion está no banho, e depois o silencio, e em seguida a trilha sonora, nos causa tensão e angustia, por não entender a morte inesperada da personagem que esperávamos ser a principal. Contudo, a pobre Marion não tinha um valor maior, assim como o dinheiro, ela serviu para um propósito maior, mostrar para o publico um personagem doentio, frio e sem noção da realidade. O psicopata Norman Bates, que sofre de uma doença mental responsável pelo distúrbio da realidade, a psicose. Neste aspecto Geraldo José Ballone explica que “[...] O processo psicótico impõe ao paciente uma maneira patológica de representar a realidade, de elaborar conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas de apercepção do real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e qualitativamente diferente de todas as variações normalmente permitidas entre as pessoas normais, um algo essencialmente patológico, mórbido e sofrível.”, assim o personagem Norman, não saberia diferenciar sua realidade que ele aprendeu a aceitar como verdade, que seria a de que a mãe (já morta há muitos anos) ainda estaria viva, e para ele concretizar esta fantasia se passava por ela. Seu personagem foi baseado num famoso serial killer da época de 1954, que chocou toda a nação americana, inspirando não somente o Norman Bates, mas também o Leatherface (Massacre da serra elétrica) e o Buffalo Bill (O Silencio dos inocentes). Entre estes outros dois personagens Norman se destaca por ser ter uma linha super moralista em seu julgamento para com suas vítimas, neste caso seria sua mãe (outra personalidade) que julgaria as vítimas, assim também com uma dupla personalidade e foi mantido em reclusão num instituto mental para tratamento após a morte de sua mãe (crime este cometido pelo ainda jovem Bates). É o Norman que incorpora a sociedade America numa versão alternativa, em que o dinheiro não teria importância, e que a felicidade pode está bem mais perto do que muitos imaginam, ele tem sua opinião completamente oposta a da personagem, em que afirma no inicio que remédios não curam infelicidade, estando ela planejando fugir com o março de dólares. Bem na verdade o filme é muito maior do que tenho a relatar, e como disse no inicio, tentaremos entender apenas um pouco do que foi relatado e apreciado.
Afinal são 50 anos de muita fama e popularidade deste filme grandioso que não fez história sozinho, mas acompanhado de grandes outros filmes deste Diretor Maior e Mestre do cinema mundial, Alfred Hitchcock.
Sinopse
Secretária (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares para se casar. Durante a fuga, erra o caminho e chega em um velho motel, onde é amavelmente atendida pelo dono (Anthony Perkins), mas escuta a voz da mãe do rapaz, dizendo, que não deseja a presença de uma estranha. Mas o que ouve é na verdade algo tão bizarro, que ela não poderia imaginar que não viveria para ver o dia seguinte.
Informações Técnicas
Título no Brasil: Psicose
Título Original: Psycho
País de Origem: EUA
Gênero: Suspense
Classificação etária: 14 anos
Tempo de Duração: 109 minutos
Ano de Lançamento: 1960
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.: Universal Pictures
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco
Anthony Perkins .... Norman Bates
Vera Miles .... Lila Crane
John Gavin .... Sam Loomis
Martin Balsam .... Milton Arbogast
John McIntire .... Xerife Chambers
Simon Oakland .... Dr. Richmond
Vaughn Taylor .... George Lowery
Frank Albertson .... Tom Cassidy
Lurene Tuttle .... Sra. Chambers
Patricia Hitchcock .... Caroline
Janet Leigh .... Marion Crane
Publicado originalmente em: www.sextameianoite.com
Por Evandro Saldanha