Silk - a fina e doce trama de um amor proibido
Sente em sua cadeira de forma confortável. Porque hoje viajaremos entre Europa e Japão, com direito a passagem de ida e volta e, de quebra, minha companhia lhe pirraçando aos poucos.
Veremos montanhas de gelo e bosques de lírios. Montanhas de medos e dificuldades e bosques de sonhos e desejos. Procure aguçar seus sentidos por alguns segundos, sentir o perfume dessas flores imaculadas após o orvalho da manhã e sinta o aroma doce exalar. Imagine também um gélido e cortante caminho de neve que um homem precisa percorrer a procura de riquezas. A soma destas 2 sublimes sensações dão o toque de uma seda legitima. Reúna o frio da neve e o toque das pétalas de lírios e você terá o tema de nosso “direto ao ponto”.
Você já deve estar acostumado com as alternadas bruscas de temas que eu desenvolvo. Um dia são filmes e outros animes... me pergunto se isso lhe adoça a mente como adoça a minha imaginação. Espero que com isso eu possa exercer um bom papel de “sword maker”. Ou diria “mind maker”? Me sinto como o artista concentrado na arte de forjar uma espada de qualidade (leia-se um leitor que me entenda): banhos de água cristalina e fria após mergulhos nas chamas ardentes. Quero que você me saia uma ótima espada de fio agudo e delicado. Ardente quando necessário e frio quando preciso.
Você aceita ser minha espada?
Mudando de assunto e ainda cutucando sua mente fervorosa... Hoje tomaremos um banho frio, por assim dizer. Espero que você me acompanhe e deguste de novas sensações ao meu lado.
Esta tarde me aconcheguei em meu sofá enquanto a chuva tamborilava na janela. (Tenho o luxo de fazer isso durante algumas tardes, pois meu emprego me permite.) Com o controle da tv em mãos eu zapeei até encontrar uma imagem que me chamou atenção: uma oriental em um banho típico de fonte termal no inverno japonês.
Neste instante voltamos a pergunta de meu último post: “por que o erótico sempre faz a gente parar na frente da tv?” Bem... eu não vou mentir, parei para assistir e ver do que se tratava a cena. E confesso que a narrativa do filme me prendeu na primeira frase: “Eu não devia estar contando isso a alguém, mas preciso contar a você...”. E, logicamente, isso me atiçou a curiosidade e fui presa na ratoeira do filme.
Começava a passar no “pay per view” da Sky o filme Silk (traduzido aqui no Brasil como: Paixão Proibida).
É um filme que trata o amor platônico de uma forma poética, mágica; diria que até “muito oriental”.
O diretor se concentrou na delicadeza de um enredo simples e com detalhes doces, onde um comerciante se vê obrigado a viajar da França para o Japão a procura de realização profissional e fortuna. Mas essa jornada, como tantas que vemos em vários filmes, não se safa dos encantos do oriente. Os segredos do Japão sempre fascinam os ocidentais, e nessa película não seria diferente.
Estou falando de um filme de produção Canadense, então entendam meu susto quando eu assisti e li os créditos finais, já que eu estava pensando ser um filme oriental. (oh sim! Não falarei de produções japonesas hoje, por mais estranho que possa parecer!)
Imagine-se em meados do século 19. Em plena revolução industrial na Europa, mais precisamente na França, onde um industrial resolve montar uma tecelagem de seda. O negócio prospera, levando a pequena vila miserável onde moram a um estado de riqueza quase absoluta. Porém, a próspera produção de bichos da seda é atingida por uma praga. O grande nó necessário em toda narrativa. Ai que entra nosso personagem principal: Herve Jancour. Um loiro simpático, romântico e sonhador.
Para mim o filme foi uma viagem psicológica, visual e retórica de carruagens, trens, cavalos, onde Herve atravessa o mapa europeu em direção ao Japão, passando entre os Alpes e as estepes russas à procura de ovos bichos da seda.
Você está se perguntando o que isso tem a ver com gelo e lírios?
Estes 2 índices se entrelaçam na trama e na paisagem do filme de forma insinuante e delicada. As viagens de Herve sempre se iniciam no inverno, para que os ovos dos bichos da seda não choquem antes do tempo, e as viagens sempre findam na primavera, quando os lírios do jardim de sua amada esposa se abrem na Europa.
O personagem principal dessa historia encontra seu amor e mantêm-se fiel a esse sonho mesmo em suas jornadas. Foi algo que me surpreendeu enquanto assistia ao filme. Sua mulher, a querida e amada Helene (fascinada por lírios) espera pacientemente seu destino e seus sonhos voltarem com seu marido.
Cada passo dado por ele, o afasta mais de sua amada, mas o aproxima mais da verdade contida dentro do mundo japonês. As idas e vindas ao Japão fazem com que ele conheça uma japonesa silenciosa, a concubina de um senhor feudal responsável pelas transações comerciais. O fascínio do jovem comerciante se funde com o desejo, nascendo uma obsessão profunda.
A tortuosa idéia de paixão proibida toca a alma do jovem francês juntamente quando a guerra civil toca as terras japonesas. As alegorias do filme (guerra, sangue, seda, negócios, flores e amor) mostram a trágica realidade do mundo dos negócios e da prosperidade. Tudo que um dia traz riqueza, pode trazer desgraça e pobreza.
Mas a reconstrução dos sonhos e de uma vida nova está sempre por vir, como um lírio que morre em um ano para renascer em outro, e a historia do filme continua seu fatídico trajeto.
Como a neve, o amor de Herve se derrete ao longo das jornadas pelo Japao. E, como uma flor, renasce nas primaveras. A visão respeitadora do personagem principal sobre a cultura de outro pais me impressionou também. Confesso que fiquei tocada ao ver que o amor que ele nutre por sua esposa persiste até a velhice.
Comecei assistindo e pensando que este era um típico romance épico em que o Ocidente encontra o Oriente e ali fazem sexo e acaba tudo bem mesmo sendo muito bem dirigido e com uma fotografia plausível. Mas me surpreendi com a delicadeza das colocações, e com o fundo moral contido na historia. Os atores são bem conhecidos como coadjuvantes de outros filmes, porém isso não tira o credito de suas atuações: Michael Pitt (“Os Sonhadores”), Keira Knightley (“Piratas do Caribe”), Alfred Molina (“Homem-Aranha 2”) e Koji Yakusho (“Memórias de uma Gueixa”).
Vale a pena assistir em um dia de chuva monótono para você sentir a sutileza dos detalhes.
Ao assistir este filme fiz algumas ligações com o livro Xogum, se você é amante de cultura japonesa, leia o livro e tire suas conclusões.
Beijos na alma.
Trailer do filme
http://www.youtube.com/watch?v=sTvmiHCJpUs