“K-Pax- O Caminho da Luz" (K-Pax)
“K-Pax” (K-Pax)
O que há em K-Pax? Os diálogos resolvidos entre Jeff Bridges e Kevin Spacey, respectivamente psiquiatra e doente, revelam K-Pax como um planeta com sete luas e dois sóis, onde não existem leis e governantes.
- E se alguém fizer alguma coisa errada? – indaga o médico.
- Todo ser no universo sabe a diferença entre o certo e o errado – responde Spacey, o viajante do espaço que se materializa na Grand Station e vai direto para o Instituto Psiquiátrico de NY. O roteiro deu uma mão. Kevin apenas sugeriu à policial nova-iorquina que estava no nosso planeta a passeio.
Memórias do cárcere...Eis um título para a existência humana, aparentemente dissociada da existência em K-Pax. Lá inexistem situações familiares e seus respectivos papéis: marido, esposa, filhos, etc. Todos são de todos, já cantavam os tribalistas.
Jeff Bridges e Kevin Spacey são dois gajos convincentes.
Jeff é o convincente psiquiatra que não quer moer de medicamentos o seu paciente, até porque não fazem efeito, e Kevin apresenta com primazia o ET sem mitos com óculos escuros, o espécime sugerido por ficcionistas que sugerem civilizações com milhões de anos no lombo.
Na metade do roteiro surge uma variante: Prot, o homem de K-Pax, é na verdade Porter, um cara que perdeu a família de forma traumatizante e entrou em estado de loucura contumaz. Ocorre que Porter, pacato e campestre pai de família, jamais seria capaz de descrever a órbita dos planetas da constelação de Lyra, no light-pad e em 5 minutos, como quem soma 2 e 3, revelando informações que só dois ou três no (nosso) mundo poderiam saber.
A bem bolada história de Gene Brewer, autor da novela, não escreve com letra nenhuma a indicação de que Prot apenas ocupou o corpo de Porter. No final do filme, essa idéia pousa naturalmente no intelecto, tantas são as pistas contraditórias acerca de quem quer que seja o personagem vivido por Spacey. Roteiro e direção caminham juntos na estrada da sutileza, ressaltando noutras entrelinhas que, por mais livres que sejam os habitantes de K-Pax, capazes de viajar num facho de luz, são suscetíveis a um laço cármico com os irmãos terrestres.
“É o delirante mais convicto que já vi”, comenta Bridges para a família, durante um almoço, sobre o seu paciente.
Kevin só come frutas, fala a língua dos bichos e cura os outros loucos do hospício com métodos que remontam a Buda.
- Mostrar interesse por seus amigos não significa que pode curá-los – avisa o médico.
- Todos os seres tem a capacidade de se curar – confere o paciente.
- Aqui eu sou o médico e você o paciente – afirma Bridges, o médico.
- Curiosa distinção humana, médico, paciente – retruca Kevin.
- Não é seu trabalho curar fulano, sicrana ou beltrano, nem ninguém. É meu trabalho – salienta o médico.
- Então porque ainda não os curou? – encerra o ET.
A direção do britânico Ian Softley (“Coração de Tinta”) tem o tino da competência bem aprumada, trabalhando com poucos elementos para realçar uma história compacta, que se desdobra como uma sanfona quando tem inicio as sessões de hipnose. Até então, tudo o que o psiquiatra tinha era um louco dizendo-se oriundo de outro sistema solar. Durante as sessões, porém, vem à tona o sofrimento do k-paxiano para com o seu amigo Porter. Começa a busca por Porter e o motivo que possa ter transformado sua personalidade.
Gene Brewer nasceu em 1937 e escreveu K-PAX, K-PAX II, K-PAX III, K-PAX IV and Prot's Report. Em seu planeta de origem existe a Universal Pictures, que em 2001 comprou os direitos da primeira novela, o que lhe permite hoje uma vida mais folgada entre NY e Vermont com a esposa e o cachorro. Algumas histórias, se comparadas com outras, são quase uma ficção. Ainda bem que existem outros planetas.
Logo após Prot deixar embasbacados os doutores do Instituto de Astronomia, Jeff pergunta a um dos envolvidos:
- Você acredita nele?
- Não sei em que acreditar – responde o sujeito - mas sei o que eu vi.