“Medo da Verdade” (Gone, Baby, Gone)
“Medo da Verdade” (Gone, Baby, Gone)
Comecemos pelo Dennis. Dennis Lehane escreveu 8 livros e um deles foi adaptado para o cinema, tendo ficado bem bonito na foto: Mystic River. Nessas bandas ganhou o nome de “Sobre Meninos e Lobos”.
Impossível assistir “Medo...” e não conjeturar sobre a presença de um escritor na película. Pois. Dennis escreveu “Gone, Baby, Gone”. Ben Affleck e Aaron Stockhard adaptaram.
Estréia de Ben Affleck na direção. Cinema deve ser contagioso. O sujeito fica ali no meio daquela parafernália, todo mundo gritando e alguma coisa ele aprende. Desceram a lenha no Jack Nicholson quando ele dirigiu “The Two Jakes” ( “A Chave do Enigma”), continuação do “Chinatown”, e estou pra ver muito diretor dito gabaritado chegar as pés do trabalho de Nicholson. Affleck estreou com pé direito nessa produção de 2007. O filme é também um veículo competente para o irmão dele – Casey Affleck, protagonizar. Qual o problema se um dança e outro sapateia?
Ed Harris, Morgan Freeman, Amy Madigan, e segue extensa lista de respectivos nomes e devidas respeitabilidades respaldadas no mundo da ribalta, todos sapateando e dançando nessa história de detetives.
A descrição do personagem vivido por Casey Affleck foi dada 20 anos antes por Luis Fernando Veríssimo, quando indagado sobre a personalidade do “Analista de Bagé”. Luis Fernando dizia que a têmpera do Analista era igual a de um sujeito magrinho que nos anos 70, entrava num boteco repleto de cabrões e pedia uma fanta laranja. Ninguém mexia com ele, pois para entrar ali, vestido daquele jeito – roupas justas, magro e ainda por cima pedindo uma fanta, o sujeito tinha que ser muito macho.
Mais ou menos assim pode ser descrito o despretensioso detetive particular contratado para investigar o desaparecimento de uma menina de seis anos.
Casey tem uma parceira, Michelle Monaghan e a ação se passa em Boston, nos bastidores, não exatamente na periferia ou na penúria, mas entre pessoas envolvidas com atividades não exatamente legais.
A presença do escritor salta aos sentidos através de diálogos finamente costurados e de situações policiais, plausíveis, embora de rara aparição nas telas. A maior parte do gênero prefere pancadaria ao raciocínio. Casey e sua parceira foram contratados para apenas conversar com pessoas que evitam conversar com policiais. Tudo tem origem no verbo...
Casey e Michelle não são dois robôs, são repletos de pontos de vista e no decorrer vão provar que estão na fileira do “não vim ao mundo para possuir, mas sim para ajudar”. E de novo a presença do escritor surge, pois questões éticas relativas aos novos e surpreendentes descaminhos dentro do caminho são levantadas.
O tempo passa e não se sabe, afinal, o que aconteceu com a menina desaparecida. Sabe-se que no decorrer as carapuças da maternidade versus droga adicção, pedofilia, corrupção policial, execução justificada e um sem número de raciocínios foram levantados e analisados. Papéis de A a Z são interpretados como manda o figurino.
A produção capricha nos tipos humanos – os mais variados, e o moral da história poderia ser descrito da seguinte forma: quando uma vida se sobrepõe a outra, a segunda fatalmente sucumbe.
Para assistir e conjeturar com os próprios botões.