O Segredo dos Seus Olhos
“O Segredo dos Seus Olhos” é um filme argentino, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010. Dirigido por Juan José Campanella, tem como ator principal Ricardo Darín e seus olhos eloqüentes fazendo o papel de um promotor (Espósito) que, após aposentar-se, resolve tentar escrever um livro sobre um caso muito marcante do qual havia participado 25 anos atrás. Com ele, trabalham Soledad Villamil (Irene), sua superiora, a juíza séria, firme e doce, objeto de sua paixão platônica, e Guillermo Francella (Pablo), seu subalterno, o amigo divertido, problemático e fidelíssimo. E o livro... bem, o livro serve apenas como mote para apresentar os fatos que ele traz à tona.
A partir disso, o filme vai se mostrando devagar a cada minuto. E realmente não se pode perder nenhum minuto dele: caso tenha comprado pipocas, coma-as sem desviar o olhar, pois “O Segredo dos Seus Olhos” é uma comédia divertidíssima. Na verdade, é um filme de suspense. Ou um policial, talvez... Sim, um filme noir com uma pitada de violência e um final inesperado, psicologicamente profundo. Mas é também um filme político, que aborda um país mergulhado na escuridão. Ou melhor, o filme é um romance, colorido com sutil lirismo. E é também um filme que alterna passado e presente, questiona valores como justiça e amizade, fala de otimismo e de obsessões...
Sim, “O Segredo dos Seus Olhos” é tudo isso. Após sair da sala de cinema, poderá discutir, com sua companhia, qualquer uma dessas facetas do filme; quem sabe a que mais lhe tenha tocado. E, creia, ele toca... Toca em nossa revolta tanto com a injustiça quanto com a justiça; toca em nossa percepção visual com um zoom que vai desde o ponto em que localiza remotamente um estádio de futebol, inserido numa grande cidade, até chegar ao personagem no meio de uma multidão de torcedores e em seguida acompanha uma perseguição vertiginosa – tudo numa só tomada, sem cortes; toca em nosso humor quando mostra diálogos hilários e situações divertidíssimas; enfim, toca em nossa emoção o tempo todo.
Neste ponto, chego à conclusão que isto não é exatamente uma resenha. Mas, além do enredo básico já citado, não considero que seja possível dizer mais nada, sob pena de perder as tantas surpresas que o filme vai aos poucos entregando ao espectador. Melhor que ler sobre ele é assistir a ele, percebendo suas sutilezas, a começar pela maquiagem que desenha as rugas dos personagens. Mas uma coisa é necessário dizer: por favor, preste atenção na antiga máquina de escrever com defeito. Ela fechará o filme com um detalhe simplesmente genial que, a meu ver, caracteriza os filmes que merecem cada um dos prêmios que ganham. No caso, um Oscar, certamente mais que merecido!