“Pacto de justiça” (Open Range)
“Pacto de justiça” (Open Range)
Western(uéstern) (Ingl.) S.m. V. Bangue-bangue.
A letra W tem só uma página no Novo Aurélio de 1980. De lá pra cá são 30 anos no lombo e conjetura-se que a língua procria, inclusive promiscuamente.
Noutras fontes, já se disse que civilização é o conjunto de crenças, hábitos e conhecimentos adquiridos e mantidos ao longo dos séculos.
A nossa tem 560 cravados. Importações, algumas, sempre foram nutridas como hábitos escondidos, como palitar os dentes, por exemplo.
Onde está o western, hoje? Te digo sem pestanejar que corre solto no noticiário televisivo, e dá-lhe ponto negativo para o assassinato da cabeleireira pelo funileiro, exibido sem cerimônia, e dá-lhe um viva negativo para as câmeras de segurança, alicerces do novo Coliseu.
“Pacto de justiça”, dirigido pelo Kevin Costner, estrelado por ele e pelo imbatível Robert Duvall, esbanja predicados do gênero em questão, e se você torcer o nariz para o tiroteio do final, basta lembrar do funileiro.
Lauran Bosworth Paine, autor do livro de onde o filme se origina e apenas a título de curiosidade, escreveu 199 livros entre 1956 e 2007, sob 14 pseudônimos.
Noventa por cento desse montante, para não dizer cem e incorrer em erro, trata de vaqueiros, chapéus, vacas e pistolas.
Não obstante, “Pacto...” é de se tirar o chapéu. Duvall e Costner, respectivamente patrão e empregado, tocam gado entre verdejantes pradarias e dada altura irão se defrontar com um canalha sem nenhuma ética, (Michael Gambon) e daí pra frente o bom senso de Costner na direção aplicado ao roteiro de Craig Storper serão o seguro-divertimento para quem acredita que, antes do Bem vencer o Mal, há que se mostrar no recheio, além de boas interpretações, boa redação e ambientação, no mínimo.
Annette Bening, a mocinha, irmã do médico que arregaçará as mangas o filme inteiro, e podemos partir do principio que, quando o mal age, a saúde declina.
A sacada do “Pacto...” repousa no ritmo, compatível com a dinâmica do campo, sendo que também todas as falas e atitudes estão alinhadas com a atmosfera de 1882, num local ermo e carente de implementos. Quando os astros abrem a boca, percebe-se o vacilo devido ao parco linguajar, suas metáforas são pobres já que pobres são seus dotes culturais, Costner carrega uma cruz oriunda da Guerra da Secessão, é taciturno e tem um temperamento delicado. O patrão carrega lembranças, transborda presença de espírito e ainda sonha com futuros empreendimentos.
Duvall e Costner, homens maduros no último quartel do século XIX, nunca comeram um chocolate, seus ajudantes exultam por um punhado de açúcar, são reféns de intempéries como todos os mortais, e lidam com certo código de atitudes que, se você prestar atenção, está presente desde que o mundo é mundo, ou desde que o cinema age no mundo.