RESENHA "O LABIRINTO DO FAUNO"
A MONSTRUOSIDADE EM "O LABIRINTO DO FAUNO"
Após as cenas derradeiras do filme - Ofélia morta e seu sangue jorrando no labirinto e a mesma reencontrando seus pais, como princesa - percebemos ser, por excelência, as referencias finais a toda a monstruosidade da película. A monstruosidade em questão mostrou dualidade. Opostos. Rivais. Rivais siameses, devemos perceber. A aberração genética dos irmãos siameses, até hoje mal-explicada pela ciência, é inapelavelmente fatal para um deles, às vezes ambos. Em "O Labirinto do Fauno" não é diferente.
Por um lado, tem-se o fauno, um monstro mitológico. Para os padrões humanos, é feio. E está em um labirinto nada convidativo: frio, escuro, intimidador. Na outra extremidade, o capitão. Ele tem uma posição destacável na Espanha franquista. Prestígio, status, poder. Tudo muito sedutor à primeira vista. No centro, Ofélia, garotinha de aparência frágil e cândida. A fragilidade é reforçada pela presença de sua mãe, com uma problemática gravidez. O capitão, por ser pai de seu irmão, está vinculado à Ofélia. E é gélido com sua esposa e enteada, limitando-se a prover o abrigo. É revelado o "monstro" do capitão: poder. E real, histórico. Fascista, e dos grandes. Puro por sua natureza, afinal ele é o que é, sem rompantes. No trato com as pessoas, ele impõe. Sua linguagem é reta e todos temem seu discurso.
o fauno é sutil. Ofélia é guiada a ele por uma fada, de maneira espontânea. O fauno é acessível e caloroso à menina mesmo quando, ao desobedecer sua orientação, quase foi vitimada pelo ódio - que não enxerga o que faz, é movido pelo impulso - o sacrificante de duas fadas. Além disto, o fauno é somente sugestivo. Ofélia cumpriu as missões espontaneamente. Para ela, o discurso do fauno era cada vez mais atrativo. Ora, o poder do fauno era mágico e mítico, como o seu pensar. E não real e cruel como o de seu padrasto. Tão inquisitório que Ofélia, ao optar pelo fauno, foi sacrificada. Contudo, a monstruosidade escolhida por ela jamais deixou de existir.