AMOR SEM ESCALAS
Amor sem Escalas, o novo filme de George Clooney chamou atenção da mídia ao ter recebido o maior número de indicações no Globo de Ouro 2010. Foram seis indicações, no total. Ganhou só o prêmio de Melhor Roteiro Original (que eu torcia que fosse para Bastardos Inglórios). Assisti ao filme na semana passada e apesar de ter gostado do que vi, devo dizer que o filme não me surpreendeu. (Aliás, assisti os três filmes do diretor Jason Reitman. Dois foram muito festejados pela crítica especializada: Juno e Amor sem Escalas. Mas ainda acho que o trabalho genial dele foi mesmo em seu filme de estréia: "Obrigado por Fumar". Mas, enfim...)
Amor sem Escalas conta a história de Ryan Binghan (George Clooney), um solitário consultor que trabalha para uma firma especializada em fazer demissões para grandes empresas. E ele procura fazer isso sempre de maneira digna, procurando contornar situações desesperadoras por parte dos demitidos, sempre despertando-lhe a autoestima e evitando que sintam-se fracassados, ao apontar opções de trabalho baseadas em suas aptidões. A história mostra muito bem o medo que os americanos sentem em perder o emprego, o medo de se tornar um loser. "É como morrer, estando vivo", diz um personagem.
Ryan é o melhor no que faz, abdicando de sua vida pessoal pelo trabalho. Ele passa mais tempo em aviões e hotéis do que em sua própria casa. Tão acostumado a esse ritmo de vida, ele comenta que passou 322 dias viajando e 43 "dias miseráveis" em casa. Assim, ele define os aviões e os hotéis como o seu próprio lar. Ryan não tem ninguém e nem faz questão de se prender a ninguém. Sua maior perspectiva é conseguir um milhão de milhas como passageiro e obter privilégios da companhia aérea em que sempre viaja. Numa das sequências iniciais, ele separa suas roupas, prepara sua mala e passa pela inspeção no aeroporto de forma muito automática, como se aquele ritual fosse uma extensão de escovar os dentes ou pentear o cabelo
Numa de suas viagens, ele conhece Alex, uma mulher 'misteriosa' (Vera Farmiga, excelente), que parece ter o mesmo estilo de vida que ele. A partir daí, os dois começam a conciliar suas agendas para dar uma transada básica. O mundo de Ryan sofre um pequeno abalo com a chegada de uma nova funcionária em sua firma. Ela desenvolve um sistema de demissões online que diminuiria o ritmo de viagens, economizando para a firma e, segundo ela, muito melhor para os demitidos. Claro que Ryan não quer parar de viajar e encarar o mundo real.
E começa a mostrar para a nova colega que seu método é falho. Em meio a isso, os dois se tornam amigos. E Ryan começa a querer reatar laços com alguns familiares, enquanto começa a imaginar uma vida diferente. Afinal, ele está ficando velho. Ou seja: ele quer alguém que também lhe abrace ao descer de um avião.
Amor sem Escalas fala sobre solidão, traçando um belo retrato disso a partir de seu protagonista. Só que o estilo de vida que ele possui é algo que jamais foi experimentado por nenhum espectador. Por isso se torna difícil uma identificação maior. Mas George Clooney está muito bem em seu papel, cheio de nuances e questionamentos interiores (ainda que ele não exteriorize isso). Aliás, ele sempre está bem, é um ator carismático e versátil. Se dá bem em dramas, comédias, filmes de ação ou papéis românticos. Mas também conseguiu ficar marcado com o tipo galante, de sorriso matador e olhares fatais. E, nisso, Clooney é um expert.
Destaque também para Vera Farmiga, que faz a mulher que encanta o personagem de Clooney. A jovem atriz Anna Kendrick, que faz sua colega de trabalho também está muito bem. Sua Natalie é um garota autoconfiante e durona, mas que vê seus conceitos caírem por terra. A atriz começa meio sem sal, mas vai desenvolvendo o personagem até nos conquistar, especialmente nas cenas em que se descontrola emocionalmente.
É um filme que reúne muitos talentos e que tem bons momentos e, acima de tudo, ótimos diálogos. Aliás, a força do filme está no poder das palavras. Mas não há aqui nenhuma cena marcante, nenhum personagem mais envolvente, nenhuma lição de vida mais eloquente. A impressão que fica é que Amor sem Escalas é um ótimo filme que o tempo todo promete se tornar excelente, mas que não chega a levantar esse vôo.