BASTARDOS INGLÓRIOS

Não há meio termo com os filmes do diretor Quentin Tarantino. Ou você os ama, ou os odeia. Desde a sua primeira obra, Cães de Aluguel, há dois elementos muito presentes em seus trabalhos: 1-Os diálogos maravilhosamente bem escritos, onde destila sarcasmo, dissemina teorias e discute sobre cinema, quadrinhos ou literatura barata. 2- A violência visual e sem limites.

Além disso, invariavelmente em seus filmes (com a excessão de Kill Bill e Jack Brown), Tarantino centraliza suas tramas em torno de homens de natureza agressiva. Eles podem ser como o Vincent Vega (John Travolta) de Pulp Fiction, um matador de aluguel, que também é um dançarino espetacular. Um samurai assassino como o Bill (David Carradine), de Kill Bill, que também é um exímio músico. Ou como o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) em Bastardos Inglórios que, além de matar e (literalmente) escalpelar nazistas, ele também tem um dom artístico que é de fazer "tatuagens", porém, de uma forma inusitada: ele usa uma enorme faca para marcar uma suástica na testa alguns poucos nazistas que deixa viver.

Bastardos Inglórios é o mais recente trabalho de Quentin Tarantino e está indicado ao Globo de Ouro de Melhor filme. E certamente vai estar (merece estar) entre os indicados a Melhor Filme no Oscar 2010.

A história se passa durante a segunda guerra mundial. Os bastados do título são um grupo recrutado pelo personagem de Brad Pitt com uma missão bem definida: matar nazistas. Em determinado momento, Aldo Raine (Pitt) sentencia: "Todo homem sob meu comando assume uma dívida pessoal comigo. Vocês me devem 100 escalpos nazistas".

Apesar de se situar durante a II Guerra Mundial, esse não é um filme histórico e, sim, uma história fictícia. Uma reinvenção da guerra, sob a ótica Tarantinesca.

O cartaz ostenta o nome de Brad Pitt como astro principal (e ele está muito bem em seu papel), mas quem merece aplausos mais efusivos é o ator Cristoph Waltz, que faz o coronel nazista Hanz Landa, um especialista em caçar judeus e manipular pessoas, com seu incrível poder de persuasão.

Em certo momento, uma personagem diz que os soldados nazistas não são muito inteligentes e não fazem questão de dominar outros idiomas. Essa regra, porém, não se aplica a Landa, que é um homem inteligentíssimo, astuto e, para azar de alguns personagens, domina vários idiomas.

Seu personagem é ameaçador, mesmo sendo gentil. E é incrível e maravilhoso de observar cada nuance na interpretação de Waltz que, mesmo sendo um carrasco, nos desperta certa simpatia.

Portanto, anotem o que eu estou dizendo: esse ator, Cristoph Waltz merece (e talvez ganhe) o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante no próximo Oscar (apesar de que merecia mesmo ser indicado a Melhor Ator, isso sim).

Bastardos Inglórios é um filme de guerra, que não mostra a guerra, a não ser pela ambientação em si (a França ocupada pelos nazistas). Há personagens históricos como Adolph Hitler, porém, seu destino é diferente do que a História nos conta.

O ápice acontece dentro de um cinema onde está sendo apresentado um filme-documentário sobre um soldado alemão que, sozinho, matou centenas dos soldados inimigos. A proprietária do cinema é uma judia, que assumiu identidade falsa, após ter sua família morta pelos nazistas.

Ao ter seu cinema requisitado para o lançamento do filme-documentário, ela vê uma como oportunidade única de ter centenas de nazistas num único local e decide vingar sua família. Seus planos, porém, acabam coincidindo com os dos "bastardos".

E é nesse momento que Bastardos Inglórios chega em seu ápice. O filme é ótimo, apesar de cometer alguns pecados. Tarantino, como escritor, se estende demasiadamente na concepção de seus diálogos e desconhece aquela sentença do escritor Carlos Drummond de Andrade que dizia que "escrever é a arte de cortar palavras".

Tarantino não corta palavras. Pelo contrário, elas surgem demasiadas e, por vezes, até repetitivas. Há determinadas cenas em que alguns personagens simplesmente contam para outros aquilo que já tinha sido mostrado. Ou seja: algo desnecessário.

Se tivesse passado a tesoura em uns e outros momentos, Bastardos Inglórios seria perfeito. E poderia, sim, ser declarado como uma "obra-prima", como em certa altura o próprio diretor faz questão de ressaltar, utilizando de um importante personagem numa cena frontal.

Para mim, a obra-prima de Tarantino ainda é Pulp Fiction, apesar de reconhecer que "Bastardos" é um ótimo filme. Claro, essa é uma opinião de alguém que ama Quentin Tarantino. Já quem odeia...

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 14/01/2010
Código do texto: T2029454
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