AVATAR, DE JAMES CAMERON

Em março de 1998, o diretor James Cameron foi receber o Oscar de Melhor Diretor por Titanic e gritou "Eu Sou o Rei do Mundo", repetindo a mesma frase dita pelo personagem de Leonardo Di Caprio em seu filme. Onze anos depois, Cameron lança Avatar que deverá ser a atração no Oscar 2010. Se depois de receber vários prêmios (e vai) o diretor resolver gritar dessa vez "Eu sou Deus do mundo", não será um exagero.

Afinal, com Avatar, ele criou o planeta Pandora, que é habitado pelos Na'vi, com toda uma vasta cultura e dialeto próprio. Além deles, há todo um ecossistema diferente de tudo o que já se viu no cinema. Há plantas, flores, animais e toda uma geografia única.

Neste sábado, 26 de dezembro, junto com a Tainã e o Sidi, fui ver Avatar no cinema. E quero dizer o seguinte: quando as luzes se apagam na sala, é possível esquecer onde você está. Confesso: eu viajei ao planeta Pandora. E estou de volta para contar o que vi.

O filme é absurdamente perfeito. São as cenas mais incríveis, maravilhosas e milimétricamente bem concebidas. Assim como é impossível comer um só Ruflles, é impossível assimilar Avatar assistindo uma única vez. É preciso mais. É preciso ver quantas vezes forem possíveis para absorver tanta riqueza de detalhes que preenche a tela e ilumina nossos olhos.

Avatar se passa uns 200 anos no futuro, quando a fauna e a flora terrestre já não existe mais e os seres humanos possuem tecnologia para explorar outros planetas. Como não podia deixar de ser, lá vamos nós em busca de riquezas minerais, não importando se, para isso, seja preciso destruir a natureza de um planeta que não é o "nosso".

Conhecemos o mundo de Avatar, através dos olhos de Jake Sully (Sam Worthington), um fuzileiro naval paraplégico que substitui o seu falecido irmão gêmeo numa missão. Ele é um dos participantes do projeto Avatar, que insere seres humanos no planeta Pandora para contatar os Na'vi. Para isso, usam de um corpo semelhante ao dos nativos, porém, controlado através de uma ligação mental. Jake vai até o planeta acompanhado de Grace (Sigorney Weaver), que é uma cientista fascinada pela biodiversidade do planeta. Jake acaba conhecendo Neytiri (Zöe Saldana, ótima) e se envolve com o resto da tribo, que o reconhece como um dos "homens do céu".

Avatar pode afetar o espectador de duas formas. A primeira é deixá-lo boquiaberto com tudo o que se está vendo em tela. A segunda é....descobrir que a história não é nada demais. O roteiro é uma mistura de Pocahontas, Dança com Lobos e O Último Samurai. Não traz nenhuma novidade nesse aspecto. Em muitos momentos, os diálogos também soam previsíveis. É o cara que se vê num ambiente hostil, luta para sobreviver, encontra ajuda entre aqueles que deveria dominar e acaba respeitando-os a ponto de lutar ao lado deles. Neste filme, os seres humanos são os vilões.

Com Titanic, James Cameron faturou muito dinheiro. Não tanto pela tecnologia que reconstruiu o imenso navio. Mas, sim, pelo romance entre Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Neste Avatar, ele parece querer seguir a fórmula e cria um romance entre os seus protagonistas. Só que é um romance que em nenhum momento chega a empolgar. Não se vê uma emoção verdadeira por parte de Jake com relação a Neytiri. E quando ele justifica o respeito pelos Na'vi por causa de sua amada, a sensação que tive foi de indignação. Afinal, seria muito mais interessante se ele dissesse que os admirava por conta de sua cultura e integração com a natureza do que por um simples interesse romântico.

Como roteirista, James Cameron sempre cria heróis maiores que a vida, íntegros e idealistas. O mesmo cuidado, porém, ele não dedica aos vilões, quase sempre maniqueístas. Novamente cito Titanic. Lembram do personagem de Billy Zane, o noivo de Kate Winslet? Era cínico, egoísta, inescrupuloso e ambicioso. Tais características são as mesmas que Cameron empresta para os vilões de Avatar. Não há meio termo. E isso incomoda. Pois a gente sempre sabe quem vai sobreviver e quem vai se dar mal.

Avatar é um espetáculo tecnológico. É um filme grandioso como o cinema nunca viu. Mas, ao contrário do que dizem por aí, ele não surpreende tanto assim. Pelo menos, não como fizeram Jurassic Park, Titanic e também O Senhor dos Anéis, em seus respectivos momentos.

Acontece que, hoje em dia, a gente sabe que é possível fazer de tudo com computação gráfica. É por isso que tudo o que aparece em Avatar é tão perfeito. Porque a tecnologia chegou a um nível de perfeição incrível. Porém, isso já está se tornando comum no cinema. É um espetáculo, sim. Porém, soa como clichê em diversos pontos do roteiro. De qualquer forma, é imperdível.

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 11/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2023733
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