174, a última parada
O filme é um relato ficcional baseado na história verídica de Sandro do Nascimento (que ironia esse sobrenome, pois o rapaz quase morreu tantas vezes, e na verdade não se sabe o que realmente de vida ele pôde experimentar) antes no formato documentário, apresentando situações reais da vida, relatos sobre a condição humana dos que nascem sob condições sociais desfavoráveis. Nessa perspectiva podemos relacionar com a realidade subjetiva, além do gênero, mas do fato de romantizar alguns aspectos de um contexto real, como a criação do personagem Alê.
O filme passa-se em três momentos, o cenário é sempre o mesmo, uma cidade carregada de contrastes sociais e visuais, o Rio de Janeiro, como dita na canção de Fernanda Abreu "purgatório da beleza e do caos".
Inicia em 1983, com a personagem Marisa que amamenta seu filho em uma favela, e que viciada em drogas perde seu filho para o chefe do tráfico local, por conta de dívidas. Esse vira seu grande martírio, sua grande cruz, se torna religiosa fervorosa e conserva a esperança de um dia encontrar seu filho perdido. Uma fuga teocêntrica explícita.
Passa o tempo, o ano é de 1993, Sandro com apenas dez anos de idade, filho único, testemunha o assassinato de sua mãe por ladrões.Sua tia decide criá-lo, porém, ele não-adaptado foge e passa a viver nas ruas, apesar de não ser um rapaz violento, precisa sobreviver, e lhes são apresentadas as drogas, os delitos e até a intimidade, o afeto com a moça que viria a ser sua primeira namorada.Nesse momento vemos presente a retratação antropocêntrica, em que o homem é dono de seu destino.(será?)
Logo, surge outra tragédia na vida de Sandro, a chacina da Candelária, da qual ele sai sobrevivente, mas testemunha que seus colegas foram mortos pela polícia(supostamente quem os deveria proteger), próximos a principal igreja do Rio (outra forma de esperar por proteção, nesse caso, divina). Em ambos os casos o resultado é abandono a própria sorte.
As histórias do menino Alê, criado pelo traficante, filho de mãe viciada se cruza com a de Sandro, filho de mãe assassinada, acabam por se cruzar e resultam em uma forte relação, uma amizade inesperada e conflituosa.
Marisa acredita ter encontrado seu filho perdido em Sandro, e ele se deixa levar por essa ilusão apesar de ter consigo a certeza de que aquela mulher é na verdade, mãe do seu amigo. No decorrer da história, percebe-se a falta de perspectiva de Sandro que se agrava com a traição do seu amigo e da moça que escolheu para ser sua esposa, ele demonstra não ter nada a perder e protagoniza a cena brutal e real (realismo objetivo) transmitida pelas TVs do mundo todo em contraste com seu enterro que na ficção tinham duas pessoas, Marisa e Ale, e no acontecimento verídico, que só contou com a presença da mãe adotiva do menino Sandro.
Bom filme, verdade dolorida