“Inimigos Públicos” (Public Enemies)
“Inimigos Públicos” (Public Enemies)
Fica no ar a pergunta: se hoje houvesse um salteador como John Dillinger, o público bateria palmas para ele, como o fez na década de 30?
A Grande Depressão deixou 15 milhões de desempregados, e os caras topavam qualquer parada para viver “da mão pra a boca” e olhe lá.
Michael Mann dirige. Em 95 ele dirigiu e escreveu “Heat”, película com 3 horas de duração e grande elenco encabeçado por Al Pacino e Robert De Niro. Uma abordagem séria sobre possíveis bandidos nos EUA de então. Mann está longe de ingressar a coluna do “qualquer diretor”. Dirigiu “Colateral”, “Ali” e “O informante”, entre outros, incluindo aí “Miami Vice” de 2006.
“Public Enemies” excede um tanto devido ao gosto do diretor pelo western sem cavalos, mas a abordagem que ele plastifica sobre o que foi esse detalhe da América: gangsterismo, assalto a bancos, nascimento do FBI, night clubs, etc., ganha um acerto evidente e pouco explorado - a luz quente. Ao passo que os bancos esbanjam mármore, as cenas noturnas se destacam e a luz quente é muito bem realçada nos hotéis, escritórios, nas boates e viva na memória de quem, de relance, se lembra que o mundo teve essa tonalidade. Pelo menos à noite.
Johnny Depp interpreta John Dillinger, o bandido cuja auto confiança enervou e motivou as autoridades a esboçarem a primeira agência federal de polícia do país, vide FBI, e valem os registros onde uma espécie de CPI indaga para J. Edgar Hoover se ele tinha alguma experiência “de campo”, que ele não tinha e admitia isso. Christian Bale, o agente especial, personifica o cara que corre no campo e é onde o filme cria uma dívida impagável com “Heat”, evidentemente por comparação, mas quando se cria um nome – Michael Mann - automaticamente nasce o produto, e o espectador não espera nada menos do que isso.
Marion Cotillard, a francesa que levou o Oscar (“Piaf”) contracena com Deep, ela era uma chapeleira com poucas emoções na vida e vai ter a vida inteira para lembrar como foi sua primavera com o gajo mais procurado da América, até mesmo os jornais exibiam anúncios de procura-se Morto ou Morto.
Dillinger não é mostrado como um facínora mas antes como um tolo que assalta bancos, que acha que nada de ruim vai lhe acontecer, que irá morrer velhinho nos braços dela…
Com Depressão e tudo o trator do Big Brother já sacudia os ombros para o salteador. Um de seus antigos comparsas lhe diz:
- Voce assaltou 74 mil dólares de um banco? Grande coisa, nós faturamos isso por dia.
Era uma central telefônica efetuando a aurora do e-comerce…
Brian Burrough escreveu 'Public Enemies: America's Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI' e torná-lo uma produção cinematográfica integrava os anseios do diretor.
Johnny Depp veste bem a fantasia da ousadia quixotesca mais a expressão atônita de um sujeito que inexplicavelmente (?) ganhou simpatia de uns e fama de costa a costa por empunhar metralhadora e subir no estribo do carro. Vai passar para o outro mundo com uma bala nas costas, graças a uma emboscada. Estava saindo do cinema, fora assistir um filme de gangster com Clark Gable.