AQUILES E A TARTARUGA
Utilizando-se de um paradoxo do filósofo grego Zeno de Eléia (450 AC), em que este afirma que Aquiles jamais alcançará a tartaruga, se esta eventualmente partiu com alguns metros de vantagem, Takeshi Kitano nos mostra que o artista jamais alcança a perfeição mesmo se correr atrás dela a vida toda.
Seu filme nos conta a história de Machisu, levado a crer, desde pequeno, que tem enorme talento para a pintura. Esse pensamento incutido no garoto toma sua vida de forma a perseguir a perfeição e o reconhecimento de sua arte, a qualquer custo. Passou a vida sem vender nada, mesmo vendo seus quadros serem negociados por marchands.
De certa forma Kitano retrata a crueldade que é ser um artista neste mundo regido pelo comércio e pelo lucro. Tragédia e comédia se misturam neste que parece ser o terceiro título da trilogia que se iniciou com Takeshi's e continuou com Kantoku: Banzai!
O próprio cineasta faz o papel do personagem principal na idade adulta, de modo que nos leva a crer que Kitano empresta grande importância ao mesmo, talvez um alter-ego. Ao final consegue atrair alguma atenção quando tenta vender um lixo qualquer numa banca de rua. Como tudo tem de ter um fim, Machisu é resgatado pela esposa que o abandonara algum tempo antes. Na cena final ambos se livram do lixo, chutando para longe a arte comercial e o reconhecimento implícito nela, perseguido por toda a vida.