Dançar - Despertar de um desejo
Jean-Claude é um homem divorciado de uns 50 anos de idade que vive solitário e triste. Sua vida tediosa se resume a trabalhar num cartório e visitar o pai no final de semana. Uma vida sem graça e monótona acaba fazendo dele um ser sem opinião nem expressão. Depois que seu médico o orienta a buscar alguma atividade física, ele decide se matricular numa Academia de Dança especializada em Tango. A dança então muda a vida dele como jamais poderia pensar.
Talvez isso resuma em poucas palavras o filme e de antemão, afirmo que este não é um filme para quem está acostumado aos enredos e desfechos comuns ao cinema. È um filme para quem gosta de observar, de sentir, de compreender as emoções que envolvem a cada pessoa em seu mundo particular povoado de sonhos e frustrações que justificam o que realmente somos.
Se eu nunca tivesse tido o prazer de freqüentar uma academia de dança eu estaria dizendo que este filme não tem a menor graça, mas depois que se descobre a revolução interior que a dança é capaz de causar, esse filme toca de uma forma sutil e marcante. A dança de salão em particular o tango exige muita sintonia entre o casal, algo parecido a ouvir o corpo da outra pessoa e responder no mesmo tom, o que nos obriga a sentir a nós mesmos. Há uma cena em que o professor conduz Jean-Claude para equilibrar a postura que me traz uma das melhores sensações da dança: erguer. Mesmo que se aprenda a arriscar dois passinhos que sejam, a postura na dança dá um ar todo especial. Ganhar esse equilíbrio postural é algo que se tira do íntimo e no fundo resta a impressão de equilibrar o interior, de devolver a estima como se a respiração pudesse substituir as angústias pela leveza da harmonia tal, que seja capaz de trocar palavras pelo silêncio do olhar.