Vai e Vive

É um filme longo, cerca de 150 minutos. Uma espécie de documentário, centrado sobre o líder etíope dos fallajh, judeus que fugiram da palestina no tempo da rainha do Sabá e Rei Salomão. Melhor dizendo, centrado sobre um jovem etíope que é salvo fazendo-se passar por um judeu negro. Cerca de 8000 que foram repatriados no período da fundação de Israel, depois duma odisseia até à Somalia durante a qual terão morrido 4000 fallajah.

O menino terá quatro actores a representá-lo, enquanto cresce durante o filme. Filme que vai tendo um tempo histórico: tratado de paz Israelo-Àrabe, o assassinato de Hitzak Rabbin, manifestações de apoio ou repúdio aos fallajah...

Vemos o jovem no campo de refugiados, dando a mão a uma jovem mãe a quem morrera o filho, depois da mãe o obrigar a partir "Vai e Vive". Segue-se a recepção em Israel, a educação recebida, a aprendizagem religiosa e escolar.

O jovem é caracterizado como violento, tenta fugir, tem acompanhamento psicológico, depois é adoptado por uma casal israelita de origem francesa. O jovem assiste a documentários na televisão sobre o problema dos fallajah, mal aceites em Israel.

É pois vivendo já com os pais adoptivos que vai procurar o líder das fallajah, que acompanhamos desde o principio do filme em apontamentos documentais. Vai para tentar comunicar com a mãe, para ela vai escrever em aramaico, a língua dos fallajah que preservaram os ensinamentos da Tora e a língua. Escreve pois para a mãe saber que está vivo, nunca chegamos a ver qualquer sinal da recepção das cartas.

Acompanhamos o romance duma judia branca que se apaixona pelo jovem negro, paixão que vai resistindo às separações: ele vai passar féria a trabalhar num kibuttz, depois há-de ir tirar o curso de medicina em Paris.

A vida do jovem não é fácil, mas ele aprende bem línguas e singra na aprendizagem religiosa. É por aqui que vai tentar demonstrar ser um bom judeu, vai defender uma argumentação em torno dum tema religioso que lhe é proposto ou ele mesmo propõe.

A discussão é um frente a frente que vai opor dois jovens: um típico aprendiz de rabino, com o cabelo anelado caindo à frente das orelhas e o jovem de cabeleira afro. O tema vai ser, "de que cor seria Adão?". O jovem judeu vai advogar que seria branco e os filhos de Caim seriam negros e o seu destino seria a escravidão, com direito a citação bíblica com capítulo e parágrafo.

O jovem afro vai ganhar a discussão, dando Adão como sendo da cor do barro, nem branco nem negro mas vermelho, da cor dos índios e alguma mensagem poética acrescida. Tenta cumprimentar o pai da namorada, não tem sorte na aproximação.

Depois já estamos com o jovem em Paris e rápido fica formado, telefonema para o líder dos fallajah e este avisa-o para não regressar pois está a haver uma perseguição aos etíopes e russos que se terão feito passar por judeus.

Depois o jovem aparece como militar, a tentar ajudar um jovem palestiniano ferido e a ser ele próprio alvejado. Depois acaba casando com a jovem que, por ele, terá abandonado a família. Tenta dizer-lhe que é etíope mas não consegue, com medo da perder. Mais uma vez, o incentivo para dizer a verdade vindo do líder dos judeus fallajah.

Depois em conversa entre eles, acaba sabendo a história do líder: terá perdido os filhos e visto matar a mulher depois de violada. A história do jovem tem semelhanças na odisseia de fuga à fome até aos campos de refugiados na Somália, mais uma vez a reportagem em fundo dando os EUA como não querendo comprometer-se em ajuda humanitária aos etíopes.

As dificuldades nos campos de refugiados vão explicar as dificuldades comportamentais do jovem, o irmão terá sido morto para o salvar a ele depois de lhe terem roubado três moedas que a mãe lhe teria dado para comprar um bidão de água.

O filme começa com uma mãe a ver um filho morrer-lhe nos braços, o que vai permitir o envio do rapaz, com o apoio dum Médico Sem Fronteiras que vemos a dizer já durante o embarque ter conseguido salvar o jovem.

Acaba com outro Médico Sem Fronteiras, o jovem negro a receber um telefonema da mulher a passar o telefone ao bebé a dizer as primeiras palavras, Papá está ele a ouvir ao telefone quando reconhece a mãe. Despede-se e descalça-se, imagem duma vivência do jovem repetida no tempo: andar descalço.

Descalço vai ter com a mãe e a abraça, o filme acaba com o grito de dor e felicidade da mulher a ele abraçada.

{05.07.06

Acrescentado comentário: da ortografia à verdade histórica dos nomes, não ponho as mãos no fogo, aqueci os dedos no teclado contando a memória fresca…}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 04/07/2006
Reeditado em 05/07/2006
Código do texto: T187280