Bastardos Inglórios

Não há assunto que esteja encerrado por si só e não nos proporcione novas visões e abordagens. Quentin Tarantino mostra justamente isso com o seu mais novo filme "Bastardos Inglórios", que toca na relação nada harmoniosa entre judeus em nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.

O diretor constroi histórias, inicialmente indepedentes, divididas em capítulos com ritmos e significados bem particulares.

A primeira refere-se ao coronel Nazista Hans Landa (Cristoph Waltz), conhecido pela sua "habilidade" de caçar e exterminar judeus. Ao chegar em um casebre na zona rural, ele encontra um francês que vive com suas três filhas. Logo neste primeiro capítulo temos a real dimensão do que está por vir. O diálogo dos dois homens nos proporciona uma trama psicológica das mais tensas e contundentes que acaba com o assassinato de uma família de judeus que estava escondida no subsolo da casa. Apenas a garota Shosanna Dreyfus (Melánie Laurent) consegue fugir e sumir no horizonte.

Paralelamente, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt), descendente de índios, organiza uma milícia para torturar e exterminar os soldados nazistas, utilizando requintes de crueldade, como estourar a cabeça deles com um taco de beisebol e cabelos escalpelados. Soshanna reaparece anos depois como dona de um cinema e passa também a ser cortejada por um dos heróis nazistas. O gênero faroeste marca presença através da última história que acontece em uma taverna, como não haveria de ser diferente.

Os personagens e as histórias convergem para o mesmo local ao final da trama: o cinema de Shosanna. É lá que será exibido um filme de propaganda nazista que reunirá a alta cúpula do regime, inclusive o führer Adolf Hitler. Dois planos de vingança diferentes contra os antisemitas são arquitetados simultaneamente, mas com um objetivo comum - o extermínio do maior número possível de nazistas.

"Bastardos Inglórios" faz inúmeras referências à sétima arte, seja através de Enzo Castellari, John Ford, Sergio Leone, John Wayne, Arnold Franck, Howard Hawks, dentre tantos outros. Um filme que só um cinéfilo como Tarantino é capaz de fazer. Diálogos imperdíveis, personagens sensacionais e a violência a serviço da estética filmíca. O personagem de Brad Pitt tentando se passar por um italiano é impagável, uma das cenas mais divertidas do filme.

Tarantino mostra a sordidez da alma humana sem fazer uso de qualquer julgamento. O público se diverte com o sofrimento e massacre de nazistas. Provavelmente, o sentimento que os adeptos do nazismo sentiam frente ao holocausto não era diferente. O filme não poupa nenhum lado, se é que existe um lado. O diretor nos mostra ainda que o cinema não tem compromisso algum com os fatos históricos, mas com sua proposta estética e discursiva.

Um filme "tarantinesco" clássico, despido de sentimentalismos, em que o instinto humano dá o tom. Um brinde ao cinema, à originalidade e, sobretudo, ao seu público.

Nota: 9,0

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