Horas de Verão

Sabe aquela velha mesa usada por um ente querido, que ao depararmos com ela, a única coisa que vem a cabeça são as recordações e o carinho que ainda nutrimos por aquela pessoa? Horas de Verão toca justamente nesta questão e faz com que chaleiras, cadeiras, quadros e cadernos ganhem vida e significado através deste belíssimo e sensível trabalho de Olivier Assayas.

Com a morte da matriarca Hélène (Edith Scob), detentora de uma excepcional coleção de arte do século XIX, os destinos dos três irmãos voltam a se cruzar de forma intensa. Frédéric (Charles Berling), Adrienne (Juliette Binoche) e Jérémie (Jérémie Renier) terão que decidir que fim terão a casa da família e os objetos que possuiam um imenso significado para sua mãe, ao mesmo tempo que terão que repensar suas prioridades e aspirações, tendo em vista o presente e o futuro.

O filme não é digerível por qualquer um, possui uma exatidão impressionante - cada personagem, colocação, objeto estão onde deveriam estar - e uma beleza que não é encontrada facilmente nas produções recentes. É um longa-metragem que evoca o brilhantismo do cinema francês. Uma obra que é contada através de sutilezas, detalhes e sentimentos.

A construção dos personagens é outro ponto alto de Horas de Verão. Assayas conseguiu construir os três irmãos de formas bem distintas e com uma profundidade incrível. A história deve ser sentida, pois ela é contada através dos sentimentos transmitidos pelos objetos, pelas memórias de pessoas queridas e pelo afeto que destinamos a elas e não pelos acontecimentos em si. Por conta disso, e pela ausência de um problema ou um desfecho a ser resolvido, a história não conquista o espectador por completo.

Um das mais belas cenas do filme é quando Frédéric vai com sua esposa ao museu onde está exposta a escrivaninha de sua mãe e percebe o quanto que naquele ambiente o objeto perde a sua vida, e torna-se, de certa forma, inútil. Assayas nos presenteia com uma nostálgica reflexão sobre as nossas memórias mais afetuosas e o doloroso ciclo da vida. Um dos melhores filmes do ano que passou despercebido nas salas brasileiras - como era de se esperar.

Nota: 8,5

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