Todos os homens do presidente
O filme “Todos os homens do presidente” narra o processo de investigação empreendido por uma dupla de jornalistas do The Washington Post que contra todas as expectativas desvendou um esquema de sabotagem contra o Partido Democrata, na ocasião em que o republicano Richard Nixon disputava a reeleição. Vários membros do Partido de Nixon, envolvidos em sua candidatura, foram investigados pelos jornalistas e tiveram a conexão com o esquema ilegal comprovada.
Este filme dos anos 70 é uma boa ilustração da labuta jornalística, numa época em que os computadores e a Internet ainda eram bem restritos. A ligação dos jornais com o mercado, aparentemente, era bem menor naqueles tempos, já que os jornalistas da película parecem agir dando prioridade ao bem comum, o que soa romântico e idealizado, quando comparamos o produto da Sétima Arte com a realidade de nossa grande imprensa.
Um dos pontos altos do filme é a figura enigmática do informante “Garganta Profunda” e o cenário onde ele fazia as suas aparições, um prosaico estacionamento de shopping center, transformado pelo trabalho de direção de fotografia em local fantasmagórico e excitante. A presença quase mística do “Garganta Profunda” no processo de investigação jornalística, algo que deveria a princípio lidar exclusivamente com a racionalidade, parece funcionar com um lembrete à humanidade para que ela não se esqueça do que escapa à “megera cartesiana”, como dizia Guimarães Rosa, em suas jornadas cognitivas e ou por justiça.
Também merece destaque a composição dos personagens principais, realizada por Dustin Hoffman, que sutilmente e carismaticamente encarna um cidadão com tendências esquerdistas ou democratas e Robert Redford, que com igual sutileza e carisma, dá vida a um homem identificado com os ideais do Partido Republicano. Desta forma, os dois personagens em sua busca da verdade e vigilância do poder, simbolizam que as tendências políticas, ideológicas e partidárias devem ser relegadas a segundo plano, quando o que está em jogo são coisas mais profundas, como missão informativa e formadora da imprensa e o futuro de uma nação.