"MALUCO BELEZA" Curta-metragem de: Flávio Cavalcante

MALUCO BELEZA

Curta-metragem de:

Flávio Cavalcante

Rool dos personagens

Doutor.

Enfermeira.

Paciente

OBS: (Todos os personagens são afetados. Tipo teatro de revista).

CENA.1

Interna. Dia. Sala de um consultório de um hospício. Dois ambientes. Recepção e a sala do médico. Câmera mostra a agitação da recepção com o telefone que não de tocar. Câmera estaciona na sala do médico.

ENFERMEIRA

Com licença, doutor...

DOUTOR

(Ajeitando os óculos e olhando um relatório. Entra a enfermeira). Pois não?

ENFERMEIRA

Doutor... Eu não sei o que é que o senhor tem contra o paciente X9! Vim lhe informar que ele está ótimo...

DOUTOR

Não está... Eu mesmo o examinei pessoalmente... Eu não estou maluco de dar alta para um doido que não sabe nem como se chama, enfermeira... Seria eu também um insano e incompetente se agisse de tal forma... Eu me considero muito bem de minhas propriedades mentais... (Transição). Agora por favor... Eu mais o que fazer... (Continua observando um monte de exames).

ENFERMEIRA

O senhor é que pensa que ele não sabe como se chama... Eu mesma já tenho experiência de tudo nessa vida... Enfermagem então... Sou catedrática, carimbada e assinada... Sou cachorra velha, doutor...

DOUTOR

Cachorra velha? Eu nunca reparei isto de perto...

ENFERMEIRA

Pois é, doutor... Sou muito mais cachorra velha do que o senhor possa me imaginar... Agora pelo amor de Deus... Vamos dar uma olhada naquele energúmeno que eu tou com a sala lotada de doido... Tou até aqui! Menos um já vai fazer a diferença... Vai cair fora da minha vida pra sempre! Chega! Não agüento mais... Já estou ficando sem cabelo de estresse... (Gritando). Dá pra entender? Ou quer que eu fale mais alto?

DOUTOR

(Botando a mão no ouvido). Se acalme, enfermeira... Se acalme...

ENFERMEIRA

Por favor, doutor... Vamos lá... Eu deixei o homem em ponto de bala... O senhor vai que ele não é mais aquele... Entendeu? Vamos... (Faz menção que vai puxar o médico).

DOUTOR

(Tenta recuar). Agora não... Tenho mil e uma coisas pra fazer... O paciente espera...

ENFERMEIRA

Ele pode até esperar... Mas eu não posso não, doutor... Quem tem que agüentar as maluquices deles sou eu... Não é o senhor... (Puxa pelo braço). Vamos agora se não daqui a pouco quem vai precisar de camisa de força, sou eu... Olhe os hematomas... (Tentando mostrar). De beliscão a ponta-pé eu tou marcada até cabeça... Esse dente aqui... Não quebrou a toa... (Olhando por cima dos óculos).

DOUTOR

(Escandalizado). Não diga!

ENFERMEIRA

Sem contar com as tapas no pé da orelha que eu levei deste desgraçado que eu tou querendo que o senhor dê alta... Agora...

DOUTOR

(Com desdém). Por causa disso? Eu não acredito que estou lhe dando ouvido... Isso eu não posso fazer de jeito nenhum...

ENFERMEIRA

(Mostra a barriga). Olhe o meu umbigo, doutor... Ele abocanhou o meu umbigo, dizendo ser uma chupeta... E não é que ele chupou o meu umbigo pensando que era uma chupeta?

DOUTOR

(Escandalizado). Que coisa! E é este homem que você quer eu dê alta...

ENFERMEIRA

Alta não... Se o senhor descer mais um pouquinho vai ver o estrago que ele fez entre as minhas pernas...

DOUTOR

(horrorizado). Depravada!

ENFERMEIRA

O senhor me respeite, doutor... Eu sou uma mulher direita... De família... E o paciente apesar de está em total condição salutar... Representa uma ameaça para os colegas da ala... Inclusive estou a espreita de perder minha integridade física e moral... (Em tom de cochicho). Ele andou descendo a mão, sabe?

DOUTOR

(De olhos arregalados). Não me interessa o resto... Já dá pra imaginar...

ENFERMEIRA

(De olhos arregalados). Dá pra imaginar o que, doutor? Eu já lhe pedi respeito... E vamos logo que eu estou querendo me livrar deste problema...

DOUTOR

(Relutando). Espera... Mulher chata... Não ta vendo que...

ENFERMEIRA

(Nervosa). O que o que? Quer que eu saia gritando por esta porta, pra todo maluco deste hospício saber o que o senhor anda fazendo com as pacientes malucas que chegam novinhas e passam pela sua mão?

DOUTOR

(Com medo e cinismo). O que é isso?! Não explana... (Transição). Tudo bem... Eu faço o que a senhora quiser... Mas fique sabendo que o paciente que a senhora está relatando não tem a menor chance de sair deste... local...

ENFERMEIRA

Vamos lá na sala comigo, que eu vou lhe provar que tem... (Os dois saem de cena. Câmera em close em algum objeto em formato de louco. Corta).

CENA.2

Interna.Dia. Outro cômodo do hospício. Câmera numa geral mostra um monte de louco andando pra cima e pra baixo fazendo coisas se sentido algum.

ENFERMEIRA

Pronto, doutor... Aqui está o paciente X9!

PACIENTE

(Com expressão de louco). Eu não sou X9! X9 é uma pessoa quando revela um segredo de outra... Pra polícia... (Ri como louco).

DOUTOR

(O doutor fica boquiaberto). Não pode ser... Como a senhora conseguiu isto? Ele falou uma grande verdade... Ele está muito bem...

ENFERMEIRA

O senhor ta vendo com os seus próprios olhos... O problema é que as pessoas deveriam dar ouvidos quando alguém pede atenção... (O doente faz menção que vai pegar no peito da enfermeira)...

PACIENTE

Disso eu gosto, doutor... Gosto muito... Quero mamar...

ENFERMEIRA

(Aos berros). Não vem não, que eu meto a mão na tua cara... Vá mamar nos peitos da tua mãe... (Transição). Desculpa, doutor... Ele ta bom... É que de vez em quando ele vem cheio de gracinha... Aposto que é para chamar a sua atenção... Faça um teste o senhor mesmo... Faça algumas perguntas pra ele...

DOUTOR

Não sei se devo... De repente ele fala o que não deve e...

PACIENTE

Pode perguntar, doutor... Eu mostrar pro senhor que eu tou bem...

DOUTOR

Muito bem... (Pensativo). Deixe-me vir... Vamos fazer um teste de matemática... O senhor por acaso sabe me dizer quanto é 6x4?

PACIENTE

O seu número... 24, doutor...

DOUTOR

(Revoltado). Me respeite que eu estou falando muito sério com você... (Transição). Preciso manter a postura... Muito bem... Agora uma pergunta de história do Brasil... O senhor por acaso sabe como era chamado o Brasil antes do descobrimento?

PACIENTE

Sei, doutor... Ilha de vera cruz... Terra de santa cruz... Terra dos papagaios... E por último Brasil... Por causa do pau Brasil... (Ri como louco).

ENFERMEIRA

(Aplaude). Bravo...

PACIENTE

Obrigado! Pode perguntar... Manda... Manda...

ENFERMEIRA

Pode deixar que agora eu pergunto... Preste atenção, seu X9!

DOUTOR

(Assustado). Cuidado... Cautela...

ENFERMEIRA

Onde é que a mulher tem o cabelo todo enroladinho, seu X9? (O doutor Arregala os olhos).

PACIENTE

Na África, enfermeira...

ENFERMEIRA

O que é que começa com “C” termina com “U” tem 27 pregas e quando abre faz... (Assoprando). Fuuuuuuuuuuuuuuuuuuu... (O médico de arregala os olhos e começa a ficar mais nervoso ainda).

PACIENTE

É a cerveja Caracu... (O médico começa a tremer a e suar).

DOUTOR

Tou suando... (Demonstrando estar muito nervoso, quase apavorado).

ENFERMEIRA

Lambeu... Lambeu... No seu rabo meteu... (O doutor abre boca de olhos arregalado).

PACIENTE

No meu não... é rabo da agulha...

DOUTOR

(apavorado). É melhor parar...

ENFERMEIRA

O que a mulher tem entre as pernas, que começa com o “B” tem “C” no meio e termina com “TA” . (O médico grita dando um basta, cai chorando).

DOUTOR

Não responde...

PACIENTE

É a bicicleta, doutor...

DOUTOR

(Chorando). Chega! O senhor é muito inteligente, seu X9... Pode ir pra casa agora... Enfermeira... Me dá uma camisa de força, que eu não acertei uma... (Câmera em close na enfermeira boquiaberta. No médico com expressão de louco e no paciente com olhar de desdém e cheio de cacoetes. Corta).

(FIM).

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 14/07/2009
Reeditado em 14/07/2009
Código do texto: T1699836
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