"AMISTOSOS DO ANFITRIÃO" Curta-metragem de: Flávio Cavalcante

AMISTOSOS DO ANFITRIÃO

Curta-metragem de:

Flávio Cavalcante

ROLL DOS PERSONAGENS

RICARDO

LAURA

PEDRO

YOLANDA

JORGE

ANDRÉ

FELIPE

FÁTIMA

FÁBIO

MÉDICA

Sinopse

Esta trama é uma seqüência de fatos que leva praticamente a um óbvio inconseqüente, por irresponsabilidades de alguns. A trama causa pânico nos convidados de um grande escritor, para uma festa repentina a fim de dar-lhes uma notícia nada satisfatória para os amistosos do peito, que pensavam se divertir com aquele companheiro anfitrião.

Num longo final semana, A festa é dada com glamour em uma casa de veraneio á beira de uma praia de propriedade de Ricardo, nosso personagem central. Surpreendente para os convidados nada convencionais, pois, aquilo nunca havia acontecido antes.

Cada personagem tem uma personalidade independente e forte, que, com o decorrer da trama todos mostram seu lado amoroso, vil e sacana.

Não deixa de ser um experimento para ator, diretor e técnica. É um trabalho feito com muito carinho, tentando levar á tela um experimento que por certo, mostrará o talento de cada ator.

Boa sorte.

Flávio Cavalcante

CENA1

Externa. Dia. Frente à residência de Ricardo. Câmera mostra alguns carros parados em frente à casa e outros acabando de chegar. Câmera passa para o interior da casa. Muita gente come e dança na festa. A Campainha toca e o Mordomo vai atender.

FÁTIMA

(Câmera em close no mordomo que vira o olhinho. Fátima tenta imitá-lo, dando uma gostosa risada. Transição). Desculpe-me é que eu sou brincalhona mesmo! (Transição). Onde está o Ricardo? Estou louca pra ver o Ricardo... Faz muito tempo que não vejo o Ricardo... Nossa, que show de festa! (Câmera dá close no mordomo, que continua o cacoete de virar o olhinho. Transição que quem não está gostando). Ihhh! O que é que é, meu irmão? Tá me paquerando ou você tem um desajuste na parafuseta da massa cefálica? Com licença, tá... (Câmera passa pra Laura).

LAURA

(Em tom de cochicho). Quem é a perua, Jorge? Você a conhece?

JORGE

Acho que é alguma amiga do Ricardo... Não tou lembrando dela! Na realidade eu não a conheço! Mas que é maluquinha, é!

LAURA

(Deboche). E a Yolanda? (Se insinuando). Você não percebe que ela tem idade de ser...

JORGE

... Minha avó? Minha mãe? Minha tia?... (Transição como quem não gostou). Será possível que todo mundo não fala outra coisa a não ser isso, Laura? Ela... Ela...

LAURA

... É rica... E você só tá enxergando por este lado! (Transição). Você não vê que essa Yolanda se aproveita do dinheiro que ela tem pra sustentar garotões pra transar com ela... Ridícula... Uma velha muito boa de ter vergonha na cara, Jorge... Isso é o que ela é!

JORGE

(Chateado). Não fale assim da Yolanda! Ela nunca me deixou faltar nada e estou estagiando na sua empresa com um cargo bem significativo! Estou feliz, Laura!

LAURA

(Irônica). Nossa! Que fidelidade! (Olha de um lado o outro e mostra disfarçadamente um seio). Gosta? Não é mais significante que o da daquela rabugenta? Mais atraente? Vem... Vamos pra algum lugar! É todo seu!

JORGE

(Jorge fica inquieto e trêmulo, sem tirar o olho o peito de Laura). Não faz isso! Que loucura!

LAURA

Hoje á noite no meu quarto...

JORGE

Você tá louca e a Yolanda?

LAURA

Dê seu jeito... (O encara e sai. Câmera em Jorge nervoso. Corta).

CENA.2

Sala de estar da residência de Ricardo. O Mordomo avisa que os convidados estão esperando ansiosos. E leva Fátima que já vai entrando sem nem pedir Licença.

MORDOMO

Tá todo mundo lhe esperando, senhor Ricardo!

RICARDO

(Com tristeza). Já estou indo! (Entra a Fátima).

MORDOMO

Era sobre ela que eu ia falar... (Vira o olhinho para a Fátima).

FÁTIMA

(Com o Mordomo). Tu tomas jeito... Tu me respeita! (Transição). Ricardo eu tenho uma queixa a fazer... Você precisa dar jeito nesse seu mordomo... Não tá vendo que ele tá me comendo com os olhos?

RICARDO

(Com desdém). Como vai Fátima?

FÁTIMA

(Muda de assunto, faz um sorriso falso). Vou bem, querido... Tava com saudades... (Corta).

CENA.3

Externa. Dia. Pátio da residência de Ricardo. André, Fábio e Felipe, conversam sobre as convidadas gostosas, que chegaram na festa.

ANDRÉ

Este final de semana promete! Meu Deus do céu, Fábio... Sabe quanto tempo eu não vejo a Laura?

FÁBIO

Também, André... Faz muito tempo que não a vejo! E continua com uns airbags maravilhosos!

ANDRÉ

Gostosa, Fábio... Ela é muito gostosa... Eu que o diga, isso... Eu daria tudo pra tê-la novamente em meus braços! E hoje ela não vai me escapar... (Felipe faz menção que vai sair).

FELIPE

(Sem graça). Eu vou ter que dar uma saída... Depois a gente se fala...

ANDRÉ

(Com ironia). O que é que é, Felipe? Eu não estou lhe entendendo, meu camarada... A gente tá falando de mulher! Você não gosta?

FELIPE

(Sem graça). Desculpe, mas, eu não estou muito bem... Estou com um pouco de dor de cabeça! Vou procurar o Pedro... Preciso falar sobre o meu novo Roteiro de cinema... Depois a gente se fala... (Sai completamente tímido).

FÁBIO

(Demonstrando ciúmes). Felipe parece que não ver ninguém na frente dele se não, o Pedro... Ele não imagina a furada que tá entrando...

ANDRÉ

(Espantado). Agora quem não tá entendendo mais nada aqui, sou eu, Fábio... (Transição). Você está com ciúmes do Felipe com o Pedro, é isso?

FÁBIO

(De salto). Pára com isso, André... Pára com isso! Você me conhece muito bem que eu não consigo esconder o meu tesão pelas mulheres... (Vê a Yolanda). Eu gosto de uma mulher assim... Como a Yolanda por exemplo... Mais velha...

ANDRÉ

(Ri). Bem mais velha, não é, Fábio? (Acena para a Yolanda e a mesma responde).

FÁBIO

Viu só? Ela não é tão velha assim...

ANDRÉ

... Mas, quem foi que disse que eu estou duvidando de alguma coisa? Só fiquei espantado com a sua reação com relação ao Felipe...

FÁBIO

(Aborrecido). Tá bem, André... Pense da forma que quiser... Agora eu vou dar uma circulada, por aí... A gente se cruza pelos cômodos da casa... (Sai. Câmera em André pensativo).

ANDRÉ

Sei não... (Corta).

CENA.4

Interna. Dia. Sala da residência de Ricardo. Todos em volta á Ricardo. Yolanda conversa de sua aptidão por garotos e aponta o Felipe como uma de suas vítimas.

YOLANDA

Ricardo, Ricardo... Quanto tempo a gente não se vê... Mas... Por que resolveu dar essa festa? Por sinal maravilhosa a idéia...

RICARDO

Na hora certa eu comunico... (Entra o Pedro e as mulheres o abraçam. Meio embriagado).

YOLANDA

Bons olhos o vejam, Pedro... Continua o mesmo!

PEDRO

(Embriagado). Não amola, Yolanda... Não vê que eu não sou mais nenhum garotão de vinte e poucos anos?

YOLANDA

(Com raiva). Grosso como sempre!

RICARDO

Por onde você andava, Pedro! Desde ontem não aparece... Lhe procurei pra me ajudar a recepção dos convidados e você só me aparece agora?

PEDRO

Tava por aí... Cheio de cachorra do meu lado... (Ri). Por que? O que é que você queria? Que eu ficasse em casa curtindo um dinheiro que é só seu? E ainda ficar trabalhando como se fosse um escravo e você um senhor de engenho?

RICARDO

Não fale assim... Você sabe que eu lhe considero como um irmão que eu nunca tive!

PEDRO

(Gargalha sem graça). Isso é uma piada? (Vê a Laura). Hum... Olha só quem vejo... É você mesma, Laura? Continua gostosa do mesmo jeito...

RICARDO

(Repreende). Mantenha a postura, Pedro! Pensa que está falando com quem, meu irmão? Respeito aqui com meus convidados... (Sai sorridente e passa pela doutora Ana. Em tom de cochicho). O nosso plano deu certo! Ricardo tá muito convencido de ele é que está com o câncer...

MÉDICA

(Tentando disfarçar). Tente se afastar... Precisamos conversar noutro lugar... Aqui não dá... Tem muitos bisbilhoteiros...(A médica sai de fininho).

RICARDO

Você não tem jeito, Pedro! Já não basta ter cantado a Laura até quase que sufocante... Agora fica aí querendo sufocar também a doutora... Vê se dá um tempo, tá?

PEDRO

(Com raiva). Me humilhar não, Ricardo... Eu não vou admitir isso! Só porque eu não sou inferior a você, é isso?! Mas isso você pode... Não temos nada de parentesco! Nunca tive nem onde cair morto! E com relação a Laura... Eu sempre amei a Laura... Foi amor mesmo! Ela transou comigo, Ricardo... Porque ela sentia tesão por mim... Eu jamais me humilharia a uma mulher... Se a Laura saiu comigo, foi porque ela quis...

RICARDO

Tudo bem, Pedro! Eu não vou discutir com você! Não é o momento de falar a respeito de suas intimidades com “A” e com “B”... Por favor depois a gente conversa a respeito! Prometo que não vou mais discutir...

PEDRO

E nem pode discutir... Você sabe muito bem que há qualquer momento...

RICARDO

(Dando um basta)... Cale esta boca, Pedro! Eu sei a hora certa de comunicar...

PEDRO

(Revoltado). E por que não pode ser agora? Quero todo mundo aqui... Venham todos aqui que vou revelar pra vocês quem realmente é o Ricardo...

RICARDO

(Sério). Ou você cala esta boca por bem, ou eu vou ser obrigado a fazer você calar por mal...

PEDRO

Pode vir... Vai querer me bater agora? Todo mundo é testemunha se caso houver alguma agressão vindo de sua parte! Eu faço questão de falar pra todo mundo... A pessoa que você é comigo aqui dentro desta casa...

RICARDO

Eu o proíbo qualquer comentário ao meu respeito! (Com os convidados). Vocês me desculpem... Esse meu irmão...

PEDRO

(Aos berros). Eu não sou teu irmão, caçamba...

RICARDO

Acho que a agressão tá vindo de sua parte! Quem te conhece sabe o cachaceiro que você é! Inconveniente e sem qualidade alguma... (Transição). Ele não sabe o que está falando...

PEDRO

(Aos berros). Sem qualidade é você, Ricardo... Que tá aí a beira da morte! Portador de um câncer generalizado e prefere deixar toda sua fortuna para o governo a deixar para um pobretão que você com cinismo insiste em chamar de irmão...

LAURA

(Escandalizada. Todos ficam abismados). O que? Câncer? Por que você não falou isso logo pra gente, Ricardo?

FÁTIMA

(Gargalha). Boa a piada... (Fica séria repentinamente quando percebe que ninguém achou graça alguma).

ANDRÉ

(Preocupado). Isso é uma mentira, não é, Ricardo? Diz que é mentira, pelo amor de Deus...

FELIPE

E isso é pergunta que se faça, André? Claro que é mais uma brincadeira do Pedro! Eu o conheço aqui... Na palma da mão...

PEDRO

Fale pra eles, Ricardo... Tire suas conclusões... (Todos ficam encarando Ricardo). Só tenho uma coisa a dizer... Eu não quero nada seu, Ricardo... Nada seu... Aquela procuração foi só pra oficializar o que não tem mais jeito... Toda a sua fortuna vai ficar pro governo mesmo! (Sai com expressão de triste).

RICARDO

(Pausa). É verdade! Eu estou com um câncer generalizado! Não tenho muito tempo de vida! Esse foi o motivo de nosso encontro! Eu vou passar meus bens para o Pedro, sim... (Transição. Câmera em Pedro que faz ar de riso, como quem se deu bem numa cilada). Agora fiquem a vontade que eu vou dar uma saidinha rápida... Não quero tristeza aqui dentro... Quero uma festa bem animada, fui claro? (todos tentam se animar)... Botem um som. (Todos dançam. Câmera passa imediatamente para o mordomo que observa os passos do Pedro. Vira o olhinho).

MORDOMO

Tem alguma coisa errada nisso tudo. (Corta).

CENA. 5

Externa. Dia. Beira Mar. Pedro ri da situação e diz que o Ricardo cai como um patinho.

PEDRO

(Gargalha). Otário... Ele caiu como um patinho... Tão frágil... Eu ouvi... Ouvi perfeitamente quando ele disse que ia assinar a procuração passando todos os bens dele pra mim... Isso não é o máximo? (Transição vê que a médica está séria). Você não está feliz, doutora?

MÉDICA

Você sabe que ele não merece o que você está fazendo, Pedro!

PEDRO

(Transição brusca como quem não gostou). O que é agora? Vai querer tirar o meu barato? Nem o pouco tempo de vida que eu tenho posso curtir um pouquinho de riqueza?

MÉDICA

Eu acho melhor você contar a verdade pro Ricardo...

PEDRO

(Com raiva). Nunca! Ele vai assinar a procuração pra mim... Ricardo sempre teve tudo o que quis... Eu não...

MÉDICA

Pedro... Acorda! Quem tá á beira da morte é você, não ele... Você não tem o direito de fazer o que está fazendo com o Ricardo...

PEDRO

(Ri ironicamente). Quem fez, não fui eu, doutora... Foi você... (Câmera mostra o mordomo em algum canto observando a conversa dos dois).

MÉDICA

Eu dei o resultado pra ele e você sabe que foi por amor a minha vida! Agora não esqueça que o verdadeiro exame tá aqui! (Câmera dá close no exame e enquadra o mordomo observando).

PEDRO

E trabalhou direitinho... Fez tudo certinho! Parabéns!

MÉDICA

Parabéns pro Ricardo, que tá muito saudável... A você que é dono daquele maldito exame! Só desejo meus pêsames... Você armou direito pra cima de seu irmão, mas tenha cuidado que a casa pode cair nas suas costas, Pedro...

PEDRO

Isso é um problema meu... Eu só quero que ele assine a procuração de seus bens pra mim, só isso... (Faz menção que vai sair. Transição). Ah! Me espera em teu quarto ás duas da manhã... Quero lhe dar o que você gosta... (Sai rindo. Câmera no mordomo. Escandalizado e suspirando forte. Música de fundo dá uma transição do dia para a noite. Corta).

CENA.6

Interna. Noite. Quarto de Yolanda. Câmera dá uma geral no quarto de Yolanda e mostra que a mesma está dormindo e o Jorge está inquieto querendo sair do quarto, sem que a Yolanda perceba.

JORGE

(Em “OFF”). Eu preciso sair sem ser visto pela Yolanda... (Olha pra ver se ela está dormindo mesmo e sai de mansinho. Câmera passa imediatamente para o quarto de Laura, que também está inquieta. Câmera mostra em um dos corredores, a presença do mordomo, observando todos os acontecimentos. Jorge bate levemente á porta. Laura abre a porta e Jorge se joga em seus braços aos beijos).

LAURA

(Preocupada). Você é louco, Jorge! Veio mesmo! A Yolanda pode acordar...

JORGE

Acorda nada! Do jeito que eu a deixei, só amanhã é que a gente tem notícia da Yolanda... Eu tava que não me agüentava mais... Tô morrendo de vontade de colocar em prática o nosso passado... Mostra-me de novo aquilo que você me mostrou logo cedo, mostra... Por favor,... (Laura desce um seio. Jorge morde o lábio e faz menção que vai cair de boca no seio de Laura. Corta).

CENA.7

Interna. Noite. Quarto da residência de Ricardo onde está hospedado o Felipe. Fábio liga pra o quarto do Felipe. O telefone toca. Felipe atende.

FELIPE

Alô! Quê? Quem tá falando? (Transição). Pára de graça e fala logo! (Pausa. Transição). Claro que eu não tou conhecendo a voz... Se você pode vir aqui no meu quarto? Não sei nem quem está falando... Mas tudo bem pode vir... (Desliga o telefone. Felipe levanta e deixa a porta entre aberta. Câmera mostra alguém se aproximando. Felipe ver a sombra). Quem está aí... (Felipe levanta e abre a porta bruscamente). É você, Fábio?

FÁBIO

Preciso falar com você...

FELIPE

Não acha um pouco tarde pra gente se falar?

FÁBIO

Eu sei que é... Mas... Sabe o que é? Pelo amor de Deus, vai ficar aqui entre a gente!

FELIPE

Fala logo! Você tá me deixando nervoso!

FÁBIO

É que... Eu tô sentindo algo estranho por você... Sei lá... Você fala muito no Pedro e ultimamente eu tou percebendo que não estou gostando da idéia...

FELIPE

Idéia de que? Eu não tenho nada com o Pedro! Porque ele não quer... O negócio dele é transar com mulher e viajar pelo exterior... Aliás ele só sabe fazer isso ultimamente...

FÁBIO

E então... Por que a gente não se dá uma chance e... (Faz menção que abraça o Felipe por trás E Fátima chega repentinamente. Câmera mostra o mordomo em canto escutando toda a conversa).

FÁTIMA

O que está acontecendo por aqui, Fábio...

FÁBIO

(Embaraçado). Hein? É... Eu estava aqui conversando umas coisas com Felipe e...

FÁTIMA

(Com ironia). Abraçando ele pelas costas... Sei... Vamos caia fora daqui, antes que eu espalhe pra todo mundo da casa, que você de garanhão não tem nada! Na verdade você é uma bichinha enrustida... (Fábio sai nervoso). Muito bem, Garotão... Resta você...

FELIPE

Dona Fátima não tem nada a ver! A gente não tava fazendo nada demais... Só tava conversando e...

FÁTIMA

Mas eu não estou lhe acusando de nada! E também a vida é sua... Eu não tenho nada a ver com isso... Agora... Deixe-me lhe fazer uma pergunta indecente... (Pausa). Você é virgem, Felipe?

FELIPE

(Sem graça). Por que a pergunta?

FÁTIMA

Só me responda se é ou não é...

FELIPE

(Envergonhando). Sou...

FÁTIMA

(Feliz). Nossa senhora... Eu nunca transei com um rapaz virgem... Eu me habilito a tirar sua virgindade, Felipe... Não posso negar a minha tara por você desde o primeiro momento que eu te vi... (Se aproxima do Felipe se insinuando e o mesmo tenta se afastar).

FELIPE

(Se saindo). Tenha calma, Fátima...

FÁTIMA

(Ofegante). Reaja, minha criança... Reaja... Relaxe que você consegue... (Se afasta).

FELIPE

(Agoniado). Por favor, Fátima... Me deixa! Não faz isso...

FÁTIMA

Isso mesmo! Pede! Implora, que eu gosto...

FELIPE

(Sai explosivamente). Porra, Fátima... Não enche, cacete! Te olha no espelho, caramba! Será que eu tenho que ser direto e objetivo? Eu gosto de homem! Não insiste! (Câmera enquadra Felipe, encarando a Fátima de olhos arregalados. Câmera em Fátima boquiaberta com a declaração de Felipe. Corta).

CENA.8

Interna. Noite. Quarto da residência de Ricardo, onde está hospedada a Yolanda e o Jorge. Yolanda acorda repentinamente e percebe a ausência de Jorge e sai a sua procura. Câmera focaliza mais uma vez o mordomo marcando presença ás escondidas. Yolanda sai em direção de vários quartos. Yolanda observa pelo buraco da fechadura Jorge transando com Laura e sai desesperada e encontra pelo corredor o André. E diz que quer que ele a leve para algum lugar. Yolanda trai Jorge com a mesma moeda.

ANDRÉ

Algum problema aí, Yolanda?

YOLANDA

(Se assusta). Hein? Que susto, André... Estou com um problema... Mas... Resolvível... Já era de se esperar...

ANDRÉ

Não estou entendo onde você quer chegar...

YOLANDA

Quem poderia estar aí dentro com aquela cadela da Laura?

ANDRÉ

(Espantado). O Jorge tá aí? Lamento... Desculpa! Que falta de respeito com uma dama...

YOLANDA

Só lamento por ele... Nasceu pobre e vai morrer pobre... Ele quer assim... (Transição com ódio). Ele não perde por esperar, André!

ANDRÉ

O que você pretende fazer?

YOLANDA

(Puxa a André e o beija na boca). Pagar com a mesma moeda...

ANDRÉ

Nossa senhora... Que raiva você ficou dele! Mas também ele procurou... Eu jamais trocaria você pela Laura... Eu sempre tive uma queda por mulheres mais velhas, entende?

YOLANDA

Mesmo? Então por favor,... Queira me acompanhar até os meus aposentos... Vamos unir o útil ao agradável... (Os dois saem. Câmera passa imediatamente para o quarto de Yolanda. André começa a se despir e Yolanda o observa com tesão). Casa, comida, roupa e dois mil por mês... O que me diz da proposta...

ANDRÉ

(ri com a brincadeira e a beija ardentemente a jogando em cima da cama. Câmera mostra taks de vários momentos íntimos dos personagens. Corta).

CENA. 9

Interna. Noite. Quarto da residência de Ricardo, onde está hospedada a Médica. Pedro se despede da médica e sai. A médica fecha a porta. O mordomo chama a campainha do quarto. O mordomo consegue pegar o exame. A médica cai na emboscada do mordomo.

PEDRO

Vamos manter o nosso segredo em segredo! É só conseguir o que eu quero... E vou me mandar dessa casa pra sempre! Vou morrer bem longe daqui, mas cheio de grana... (Transição). Bico calado! (Beija a médica e sai. A médica fecha a porta. Transição pensativa. Em “OFF”). MEU DEUS! ME DÁ UMA LUZ! EU NÃO SEI O QUE FAZER... (A campainha toca. A médica abre a porta. O Mordomo vira o olhinho).

MÉDICA

(Espantada). O senhor? Aconteceu alguma coisa com o Ricardo?

MORDOMO

Não se preocupe! Tá tudo bem com o seu Ricardo... Desculpe lhe incomodar a esta hora, mas, eu tenho um assunto muito urgente pra conversar...

MÉDICA

Parece preocupado... Vamos... Entre! (O Mordomo entra). Pois não?

MORDOMO

Vou ser rápido! Por favor... Passe-me o verdadeiro resultado do exame do seu Ricardo...

MÉDICA

(Espantada). Mas do o senhor está falando?

MORDOMO

(Tenso com ar de loucura). Não se faça de desentendida! A casa caiu nas suas costas e na do Pedro! É melhor me entregar, antes que eu tenha que tomar uma atitude mais drástica! Vai ser melhor pra você... Lhe prometo que nada vai lhe acontecer...

MÉDICA

(Chora). Eu não tive culpa! Ele me pressionou! Pra não morrer eu tive que fazer... Ele é que está com os dias contados...

MORDOMO

Eu sei tudo! Não precisa querer me explicar nada! Me passe o exame! (A médica entrega o exame verdadeiro para o mordomo).

MÉDICA

(Preocupada). O Pedro vai me matar!

MORDOMO

Não se preocupe! Não vai acontecer nada com a senhora! Eu lhe prometo! Muito obrigado! O seu Ricardo não merece essa sacanagem... (Sai. Câmera na Médica pensativa. A luz vai diminuindo gradativamente até totalmente escuro. Dá uma transição da noite para o dia. Corta).

CENA.10

Interna. Dia. Cozinha da casa de Ricardo. Todos tomaram conta da cozinha de Ricardo. Um fritando ovos, outro coloca o café na garrafa. Outros sentam á mesa uns falando com os outros. Ricardo fica sério olhando para todos e o mordomo do seu lado corre o olhar de um lado para o outro e vira o olhinho. Fátima pensa que é com ela e se esconde embaixo da mesa. André come exageradamente e fala de boca cheia. A médica fica calada e nervosa.

ANDRÉ

O que foi? Desmaiou? (Vai levantar a Fátima e bate com a cabeça dela na quina da mesa. Câmera no mordomo virando o olhinho).

FÁTIMA

(Com dor). Aiii... (Com o mordomo). Se continuar virando esses olhos pra mim, eu vou jogar essa xícara de café quente na sua cara!

MÉDICA

Sem violência! (Laura troca olhares com o Jorge e Incomoda a Yolanda. Câmera coloca em perfil na Laura com Jorge e que enquadra a Yolanda no centro, com expressão de que está furiosa). Já basta o país com tamanha falta de amor! (Yolanda levanta e dá um murro na mesa).

YOLANDA

Chega!

MÉDICA

(Toma o maior susto. Em tom alto e nervosa). O que foi? Que susto! Eu falei alguma coisa demais?

RICARDO

(Sério e calmo). Algum problema Yolanda?

YOLANDA

(Com raiva). Sim, Ricardo... Existe um problema sim... Eu não posso aceitar o que estou vendo... Eu tou “P” da vida, Ricardo... E lhe digo uma coisa... (Com a Laura). Não quebrei a cara de certa cadela em consideração a você!

FÁBIO

Nem com a gente a mulher tem consideração... (Faz menção que vai levantar, mas, Ricardo o impede).

RICARDO

Ninguém sai daqui, Fábio...

YOLANDA

Acho bom mesmo!

LAURA

(Com deboche). E essa cadela, que a senhora está se referindo... Por acaso sou eu?

ANDRÉ

(Bota a mão no Rosto). Nossa senhora!

YOLANDA

Se a carapuça coube na sua cabeça, pode usá-la sem medo de ser feliz...

RICARDO

(Aponta para o mordomo). Vá pegar água açucarada pra todo mundo... O ambiente precisa se acalmar...

LAURA

O problema é que essa perua fica ciscando aí! Acusando os outros sem ter certeza de nada!

YOLANDA

Falo com convicção que você veio do quinto dos infernos pra infernizar a minha vida com a do meu futuro marido... (Laura dá uma gostosa gargalhada).

LAURA

(Irônica). Engraçado! Ele mesmo falou que era apenas um estagiário de sua empresa! Te olha no espelho, Yolanda! Eu vou lhe denunciar por apologia a pedofilia, hein?

YOLANDA

(Aos berros). Vaca! (Começa a confusão entre as duas. Música sobe e todos tentam separá-las).

MORDOMO

(Grita dando um basta e todos ficam em silêncio). Parem com essa gritaria! Calem a boca! (Dá um murro na mesa). Isso aqui tá mais parecendo um hospício... Ainda bem que já tomei meu remédio pros nervos, se não, vocês iam ver... (Vira o olhinho. Todos riem. Transição aos berros). Sem algazarras... Eu tenho muita coisa a revelar... Primeiramente bom dia dona Yolanda! Como passou a noite depois de ter matado suas vontades com o André depois que o seu futuro marido andou transando com a cadela que a senhora mesma falou...

RICARDO

(Com o mordomo). O que é isso? Eu não estou lhe conhecendo...

MORDOMO

Vai me conhecer muito mais quando o senhor souber que alguém... (Olha para a Fátima). Andou querendo tirar a virgindade de um rapaz, depois de ser pego sendo abraçado por trás por outro rapaz... Estou errado, dona Fátima? A senhora nunca desconfiou que o Felipe nunca escondeu o seu atrativo por homens. Agora só não sabia que o Fábio também gostava da fruta.

RICARDO

(Dando um basta). Chega! Eu não quero ouvir mais! Me arrependi de ter convidado os meus amigos entre “aspas”, para comunicar a minha morte bem próxima... (Faz menção que vai se levantar da mesa).

MORDOMO

Hum... Acha que bomba maior o senhor não vai querer ouvir, seu Ricardo?

PEDRO

Quer saber? Isso aqui tá havendo muito fofoca e eu... Não vou fazer do meu ouvido pinico... Vou sair...

MORDOMO

Antes de falar pro seu Ricardo sobre esse exame, Pedro? (Expõe o exame).

PEDRO

(De olhos arregalados). Que exames?

RICARDO

Que exames são estes?

MORDOMO

Veja com seus próprios olhos... (Ricardo lê e muda de expressão).

RICARDO

(Sério). Mas o que é isso, aqui? O que? Você teve coragem de forjar isso, Pedro? Como você me explica uma coisa dessas? Eu não posso acreditar no que está aqui em minhas mãos... Você tem explicação pra uma sacanagem dessa?

PEDRO

Não vejo tanto problema assim... Quem tá a beira da morte não sou eu mesmo?

RICARDO

(Aos berros. Decepcionado). Por acaso você pensou em mim? Eu não acho que eu fui um dos piores irmãos que pelo menos eu considero! Eu acho que eu lhe considero, sim... Você esquece que a tua família te abandonou logo quando criança... (Pedro chora). É com lágrimas de crocodilo que quer dar uma de Madalena arrependida?

PEDRO

(Chorando). Me perdoa... Eu sou um inútil mesmo!

RICARDO

É a minha fortuna que você quer? Por que não me falou antes que era isso que você queria?

PEDRO

Porque eu sou incapaz que de ter o seu sucesso... Isso é o que mais me doe... Eu sou um jogado no mundo... Não mereço viver...

RICARDO

Não se sinta assim...

PEDRO

Eu não mereço estar do seu lado, Ricardo... O que fiz foi feio... Meu lugar é atrás das grades... Pode chamar a polícia, eu confesso tudo que fiz... Eu só quero que você me perdoe, só isso...

RICARDO

(Os dois abraçados). Eu te perdoou, meu irmão... Eu te perdoou... E pode ficar certo de uma coisa... O seu lugar não é atrás das grades não... É do meu lado, sim... Eu jamais iria te abandonar... Agora que eu estou sabendo de sua doença, pode ficar certo que nem que eu tenha que dar todo o meu império pra salvar a sua vida, isso eu farei... Saiba de uma coisa de uma vez por todas... (Chorando). Eu te amo, meu irmão... Eu te amo muito...

PEDRO

Eu também te amo... (Os dois se abraçam e todos aplaudem acompanhados de uma música. Todos se abraçam fazendo as pazes. A luz vai diminuindo gradativamente até ficar totalmente escuro, chegando assim, o fim do curta. AMISTOSOS DO ANFITRIÃO.

(FIM).

CURTA: AMISTOSOS DO ANFITRIÃO

TEXTO: Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/06/2009
Reeditado em 28/06/2009
Código do texto: T1671551
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