“Dúvida” (Doubt)
“Dúvida” (Doubt)
Viola Davis, atriz afro americana nascida na Carolina do Sul em 1965, confere ao espetáculo o acerto milimétrico que salta à vista.
Numa tarde nublada ela dará uma volta a pé com a Irmã Merryl Streep. A Irmã encasquetou que o padre Phillip Seymour Hoffman estava tendo uma relação inapropriada com o filho de Viola. Esta não contém as lágrimas mas não perde a pose. Alega que são suposições, e que o menino leva surras homéricas do pai. Tudo que ela deseja, enquanto mãe, é que o menino permaneça na escola por mais alguns meses. Então vai receber o diploma, ir para outra escola e daí para a universidade. Livre do pai. Viola diz à Irmã Streep que Deus fez cada um de um jeito.
A questão central do filme deixará dúvidas nos que assistirem. Afinal, o padre molestou ou não o garoto? A conversa entre as duas sobe uma oitava na questão. Ao passo que a Irmã Streep está escandalizada, a mãe do menino cogita o seu futuro e bem estar. A interpretação desse ponto de vista lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2009.
“Eu dediquei “Dúvida” para as freiras das várias ramificações católicas, que devotaram suas vidas para servir em hospitais, escolas e asilos. Apesar de terem sido encaradas como perniciosas ou então tendo sido ridicularizadas, quem entre nós foi tão generoso?”
Dedicatória de John Patrick Shanley, autor da peça “Dúvida”. Não satisfeito, roteirizou e dirigiu o filme. Sua primeira experiência nessas veias. John Patrick escreve como dirige e dirige como escreve – para letrado algum colocar defeito.
A gangorra da dúvida tem os dois titãs citados acima: Merryl Streep e Phillip Seymour Hoffman. Ambos saboreiam para nós, e através do nosso paladar, a riqueza de um texto bem elaborado.
Filme a moda antiga. Vai se movendo com nuances, nas coisas que dizemos pequenas quando na verdade são essenciais.
Desconheço o teor dos sermões de 1964 – época que o filme aborda - mas não hesito em dizer que hoje não chegamos sequer a resvalar no conteúdo proposto pelo padre Phillip.
Qualquer letrado com cerebelo não hesitaria em pagar – nem que fosse meia entrada – para assistir um desses sermões. E orar.
Pois estamos andando para trás.