“Quem quer ser um milionário?” (Slumdog Millionaire)

“Quem quer ser um milionário?” (Slumdog Millionaire)

Adjetivos concernentes ao filme: colorido, inteligente, dolorido, profundamente inteligente.

A cor resulta da ambientação: Índia.

A inteligência vem de dois lados. Lado A, boa lição de história sobre a Índia contemporânea. Lado B, a lição é dada através de um jogo de perguntas e respostas, respostas essas que o jovem Jamal não hesita em responder. Ele sabe tudo de cor. Sabe, não por ser um intelectual, um erudito, um estudioso. Pelo contrário. O titulo original revela metade do personagem. “Slum” significa favela, cortiço.

Se você juntar com o substantivo “dog” vai imaginar o status social dele.

Jamal sabe as respostas, pois aprendeu de um tal jeito que ninguém poderia esquecer, inda que, trafegando no senso das coisas estabelecidas, seria melhor esquecer. Porém...

Como por encanto Jamal consegue participar do Quiz Show televisivo que dá nome ao filme em português, responde tudo em cima da pinta para contragosto das autoridades, que não admitem um favelado com tal saber.

A inteligência fica também ao encargo da montagem das perguntas e como os fatos justificam as respostas. A ironia da existência de um programa de TV como esse, contrastando com a miséria mostrada através da infância de Jamal já é velha conhecida nossa, em termos de ironia, mas em termos de miséria nos lembra aquele Terceiro Mundo dos cadernos ilustrados de ginásio. Um tipo de paisagem de um hipotético Terceiro Mundo, jamais no nosso mundo. Aquilo não pode ser verdade...

Roteiro de Simon Beaufoy, baseado na obra “Q&A”, de Vikas Swarup.

Música nota mil de A.R. Rahman

Direção de Danny Boyle com co-direção de Loveleen Tandan.

Foram necessárias 9 pessoas para representarem a trinca de personagens Jamal – Samir (o irmão) – Ladika (o grande amor de Jamal). Três para cada etapa da vida: infância, adolescência e maioridade.

Algumas cenas, isso poso te dizer de cátedra, são osso duro de roer.

Primeiro, pelo que representam, segundo porque te pegam literalmente de surpresa. Em “Quem quer ser...” não há um vilão maquiavélico com planos venenosos, há a miséria de um Terceiro Mundo com “T” maiúsculo e a crueza da trajetória da trinca.

De novo a inteligência de roteiro e edição, da direção, competindo para que o filme se mova com bastante agilidade e lhe revele que, ainda por cima, e por incrível que pareça, estamos falando de uma história de amor.

Teve 10 indicações da Academia Californiana (faturou 8 estatuetas)

e levou 4 Globos de Ouro.

Enquanto espectador, fica um parabéns repleto de admiração (mesmo que simbólico), para A. M. Khedekar e Rubina Ali, as crianças que interpretaram Jamal e Ladika.

Eles se conhecem num vagão de trem, debaixo de uma bruta chuva. Haviam acabado de perder as famílias graças ao conflitos fratricidas/religiosos. Não havia o que fazer senão rezar para que aquele trem se movesse. Os dois se olham.

Será um amor para a vida inteira.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 09/06/2009
Reeditado em 05/04/2013
Código do texto: T1640276
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