Uma visão cinematográfica sobre a Educação
Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)
O filme “Sociedade dos poetas mortos”, dirigido por Peter Weir, com Robin Willians, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Kurtwood Smith, é, sem dúvida, um dos filmes mais citados quando se fala em cinematografia sobre Educação. O diretor Peter Weir, sob a aparência de uma produção industrial bem produzida, com excelentes atores, boas doses de humor e certo melodrama para cativar o espectador, constrói um filme bem subversivo, refletindo sobre a educação mecânica e prática que, em certas instituições de ensino é, até hoje, praticada.
Quando o carismático professor de inglês, John Keating, chega num colégio para rapazes, seus métodos de ensino, pouco convencionais, transformam a rotina do currículo tradicional. Afinal, em nossa sociedade – até aqui mesmo em Divinópolis – Brasil - estamos acostumados a um ensino que se limita a repetir fórmulas gastas e, de fato, não mexe com a imaginação, às vezes, do nosso educando.
Em geral, tanto os professores quanto os alunos, sob os olhares da direção dos educandários, estão acostumados ao tradicional e, quando numa sala de aula aparece um(a) professor(a) que inova e, para tanto, invoca toda a força da vida, causa espanto. É assim que, com humor e sabedoria, o Prof. Keating inspira seus alunos a seguirem seus próprios sonhos, quebrando convenções e instigando-os a viverem vidas extraordinárias (carpe diem), contrariando, às vezes, a vontade de seus pais.
A escola includente que queremos é a do Prof. Keating que, ao invés de ensinar repetições sem sentido, ensina seus alunos a pensar por conta própria, ensinar a aprender a ler e reler e interpretar o que está a nossa frente, sem auxilio de manuais. O professor verdadeiro é aquele que está sempre disposto a analisar o sentido da vida, partindo do reconhecimento do seu aluno como ser único, inigualável.
É assim que o Prof. Keating age e propõe que seus alunos reaprendam os “velhos” sentidos do mundo oculto, mas que, de maneira gloriosa, a literatura guarda e, para tanto, ele manda seus alunos lerem uma página de crítica de um livro. Essa crítica estava cheia de conceitos matemáticos para analisar obras-de-arte, como se as obras-de-arte fossem ou sejam apenas um tratado científico. E elas, acreditem, ultrapassam e muito qualquer tratado científico, porque falam do que sentimos e guardam tesouros preciosos que você precisa descobrir.
Para desespero da instituição, o Prof. Keating manda os alunos arrancarem a folha do livro e, depois, se prepararem para sentir a poesia. Sim, porque a poesia é para ser sentida como a vida também o é. Querer colocar a vida numa estante e catalogá-la como um cientista faz é tirar do ser humano o esplendor da própria vida que, queiramos ou não, é o correr riscos, com ou sem medos. Fernando Pessoa, refletindo diz: “A vida dói quanto mais se goza quanto mais se inventa”.
Isso assusta mesmo todos os educadores, porque não podemos dar conta de toda a plenitude da vida, porque fica difícil amarrar os educandos dentro dos moldes que a sociedade impõe. No entanto, carpe diem (curta o dia, porque vamos morrer) é um mal ou um bem necessário. Muitos estudam somente para agradar os pais – não há mal algum nisso, desde que, além de agradar os pais, estejam também sendo agradados. Quantas histórias já ouvimos de pessoas que estudaram e terminaram um curso de Medicina para, depois, ir trabalhar numa fazenda ou em qualquer outro trabalho.
O filme “Sociedade dos poetas mortos” retrata a face da pedagogia tradicional que, durante muito tempo exerceu domínio em nosso país. Nesse tempo, as pessoas agiam (ou agem) por mandos, sem a capacidade de criar algo novo. E nós, professores e alunos, devemos ter a coragem para sonhar. Afinal, voltando em Fernando Pessoa “Sem a loucura, o que é o homem, mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?”
Divinópolis, 2004