VALE A PENA SONHAR

Vale a pena sonhar de Stela Grisotti e Rudi Böhm é um filme necessário. A vida de Apolônio de Carvalho reacende o idealismo em ações. Um utopista que apreendeu a realidade como algo a ser transformado. Um homem de palavras e ações que viveu intensamente o seu século como um protagonista, um sujeito atuante, um exemplo a ser seguido por todos os que ainda não abandonaram os sonhos.

“Eu nunca fui praticamente um militante. Eu fui uma coisa um pouco diferente. Eu sempre fui um visionário. Eu fantasiava as verdades, as realidades...”

Oficial do Exército, estimulado com o convívio com a esquerda militar e marcado pela leitura de O homem medíocre de José Ingenieros, Apolônio de Carvalho engajou-se na Aliança Libertadora Nacional no combate à ditadura de Vargas. Em 1935, foi preso e expulso do Exército. Aproximou-se da teoria marxista e entrou para o PCB – Partido Comunista Brasileiro.

Após sua libertação, dando curso ao sentido de solidariedade tão presente em sua família, partiu para a Espanha e juntou-se às brigadas internacionais na Guerra Civil Espanhola. Depois se engajou na Resistência Francesa e combateu o nazismo alemão na França.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, Cândido Portinari o reaproxima do Partido Comunista Brasileiro e Apolônio volta ao Brasil casado e com dois filhos. O Partido Comunista Brasileiro é novamente colocado na clandestinidade e os anos se passam em mudanças, nomes falsos, contatos rastreados... Um caleidoscópio de realidades. O Golpe de 1964 e a incapacidade do partido comunista de criar uma resistência precipitam a ruptura em massa com o PCB e a criação do PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. No início da década de 70, Apolônio e seus dois filhos são presos e torturados. Libertado em troca de um embaixador alemão, parte para o exílio em Argel.

Apolônio nunca perdeu a vontade de lutar por seus ideais. Quando retornou ao Brasil, com a conquista da anistia, novamente se engajou nas lutas sociais e participou da criação do Partido dos Trabalhadores, do qual foi dirigente até 1987.

Muitas são as decepções, os sonhos interrompidos ou alterados definitivamente... A derrota na Espanha, o reconhecimento dos crimes cometidos sob a direção de Stalin, o desmoronamento do império soviético... Mas Apolônio é um vitorioso que passa pela vida sem perder a capacidade de sonhar e lutar pela realização dos seus ideais.

Apolônio faleceu em setembro de 2005 e deixou sua vida marcada na história de lutas por um mundo em que a solidariedade e a justiça atravessam as fronteiras e alicerçam os projetos no mais vasto humanismo.

“Quem passa pela vida e não tem um horizonte definido, não tem um ideal pelo qual possa lutar e queira lutar está sujeito à pecha de mediocridade porque não vive, passa apenas pela vida.”

Assistir ao filme Vale a pena sonhar obriga a releitura do livro de Ingenieros, O homem medíocre, e inspira a reflexão e a construção de um sujeito contemporâneo munido de sonhos para prosseguir a luta pelos ideais que surgem renovados nos horizontes cotidianos.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 22/05/2006
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