"O Plano Perfeito" (Inside Man)
"O Plano Perfeito" (Inside Man)
Shelton Jackson Lee, de nascimento, Spike Lee de vitória, sobre o mundo dos fenômenos.
Lançado em 2006, “O Plano Perfeito” não teve indicação e/ou nomeação nem para o Globo de Ouro, um prêmio que geralmente contempla os que não caem na rede da Academia. Fica a pergunta...
Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, por ordem de aparição na abertura dos créditos.
Se houvesse um prêmio para o Carisma em Ação essa trinca, que dispensa adjetivos, arrebatava de tudo quanto é lado, por que os personagens que representam só se destacam pelo carisma. Fica a pergunta: é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?
Clive Owen, por exemplo, passa 70 por cento do filme usando uma máscara. O carisma vem pela voz.
Jodie, como a zeladora bem sucedida dos bastidores, aquela que trafega pelos poderes como uma espécie de eminência parda, tem o porte e a fala de quem realiza, mas tomou rasteiras sutis tanto do mascarado Owen como do tira com a carreira abalada, Denzel Washington. A maneira de como eles vendem o peixe, eis o fascínio de uma história de assalto sem seqüelas e com quintas intenções.
Spike é filho de músico de jazz, nasceu sabendo que aquele fraseado não arrebatou corações pela força do volume mas somente pela sutileza do meios tons.
“O Plano Perfeito” é o filme dos personagens perfeitos, ainda que sem grandes aspirações – nenhum deles visa descobrir a vacina da gripe dos porcos, cada um quer defender o seu, mas em cada comportamento fica o extrato da velocidade das mudanças – 2006 para 2009, cifra mínima e mesmo assim, basta uma revisada e depois um rápido olhar sobre o presente fantasioso ou a dura realidade para tirar as próprias conclusões.
Toda a situação da trama, reféns, negociações com a polícia e tudo mais foi apenas, atente bem, para que os comparsas tivessem o tempo necessário para “fazer” para ele uma privada. No meio do filme eles olham para o buraco que cavaram e dizem: “this is a nice shit whole”. Artigo necessário para que o entre aspas Robin Hood urbano sobrevivesse durante uma semana, pois ele falava pra quem quisesse ouvir que iria sair do banco pela porta da frente.
Spike é cineasta engajado, todo mundo sabe disso, vem de uma safra rara cuja virtude é dar voz aos esquecidos, de 77 para cá concretizou 36 produções entre cinema e TV, teve prêmios e nomeações, frivolidade inexiste no dicionário dele, assim como inexiste em “Inside Man” pérolas sem brilho e sem endereço.
Já o brilho de Spike fica por conta da sua fibra. Visto como polêmico (é o que acontece com quem se torna Luz no Fim do Túnel), fica difícil apostar que ele tenha investidores de peso no colete, assim como fica difícil sugerir que o orçamento de “Inside...” tenha sofrido restrições, mas quem pode afirmar? E fica a pergunta.
Willem Dafoe e Christopher Plummer, esses você conhece e também não devem nada na conta do carisma, que se estende para a dúzia e meia de coadjuvantes que vao tonificando o espetáculo.
Roteiro nos trinque de Russell Gewirtz, cujo segundo filme é o recente “Righteous Kill”, com Al Pacino e Robert De Niro.
Pra quem gosta de história da carochinha com pimenta, não vai se decepcionar com um enredo onde ninguém se machuca, os prepotentes tomam um susto, os Dom Quixotes tem sua vez e a antiga lei do “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão” entra em vigor, de quebra com a assinatura de Shelton Jackson Lee, mais conhecido como Spike Lee.