“Perigo em Bangkok” (Bangkok Dangerous)
“Perigo em Bangkok” (Bangkok Dangerous)
Sabe quanto custa um anti-inflamatório em Bangkok? 210 baths.
Para o caso de. Afinal, nunca se sabe.
Cartazes gigantes no metrô já anunciam o novo filme de Nicolas Cage, um troço com números e a humanidade estaria em perigo.
“Perigo em...” é do ano passado, mas ninguém vai chorar por isso.
Seu nome verdadeiro é Nicolas Coppola. Esclarecendo o parentesco – sobrinho de Francis Ford Coppola. Grande Cineasta. Óbvio que, no meio, apontaram o dedo para Nicolas e disseram: também, com esse sobrenome, você consegue qualquer papel. Nicolas escolheu Cage como sobrenome de guerra. Inspirou-se em John Cage. Grande Artista.
Mais e mais a moda do cinema industrial tece apologias à carreira do assassino de aluguel. Não se espantem os decanos se, do jeito que estão rugindo os tambores, a Faculdade Urimonduba de Letras instituir o curso. Será dois palitos para que outras universidades copiem, oferecendo a mesma cátedra pela metade do preço e metade do tempo. O texto introdutório de “Perigo em...” servirá para os slides show das apresentações dos formandos.
Os decanos familiarizados com Nicolas Cage sabem que ele surpreende, mesmo quando a película parece desalinhada. Nicolas enfatiza não ter freqüentado nenhum curso para formação de atores. Apenas assistia seus ídolos. De Niro foi uma inspiração. Boa fonte, boa receita.
A embarcação inicialmente batizada de Nicolas Coppola avistou mil portos, alguns temerosos, para se tornar um astro que atrai o público. Dos filmes muito bons – “Peggy Sue” e “Um Homem de Família”, aos muito bons difíceis de engolir - “Despedida em Las Vegas” e “8mm”, ao duvidoso “Homem do Tempo”, cada hora ele cria uma máscara sobre seus traços fisionômicos, sendo sua voz a única coisa que pode remeter ao “interpretar a si mesmo”. As nuances da máscara se transformam com a facilidade de quem sabe o que faz.
Em Bangkok, cidade suja, densa e corrupta (palavras dele, provavelmente escritas no roteiro), e na competente direção dos The Pang Brothes - Oxide e Danny Pang , ele vai realizar o último serviço.
Acho que isso já deixou de ser um clichê para se tornar uma patologia, tal qual o bebum e o último gole.
Nos primeiros 5 minutos Cage elucida aos futuros estudantes as 4 regras básicas do assassino de aluguel, e ainda dá uma aula prática de como se descartar de um ajudante. Essa aula é especial para aqueles que tem saudades dos tempos em que ofereciam pessoas semi mortas, de tanto serem espancadas, tendo no corpo atados bolos, pães e frutas, em oferenda à Deuses de ética questionável. Quanta bobagem e quanto talento não se coloca à serviço do cinema industrial. O pior é que com isso dissemina-se conceitos para mentes que estão em formação.
No filme “O Ultimato Bourne”, Robert Ludlun mostra que a passagem do adolescente para o adulto, naquele microcosmo, ocorre quando Matt Damon, simplesmente por matar, provando assim que está apto a integrar o time dos assassinos de aluguel do estado, mata um pobre infeliz amarrado numa cadeira, que ainda por cima ele nunca viu mais gordo. Ian Fleming glamurizou o estilo com seu 007 e a “licença para matar”. Daí pra frente, o tempo e a intensidade do modismo se encarregaram de nos dar a incógnita - será que o termo assassino mudará de sentido, como aconteceu com a palavra tirano, na antiga Lídia? Em 3 gerações os lídios viram tirano – aquele que governa sozinho, transformar-se em tirano – opressor.
Bangkok Dangerous, enquanto filme, não suscita tantas digressões, exceto pelo fato de engrossar o caldo do morticínio mui legal e ter como ator principal um cara que se reinventa até na pele de um vidente.
Cage chega na cidade e já coloca na sua mira o próximo ajudante que será descartado. Mas..., a relação dele com esse nativo será a nota que dinamiza a estupidez do trabalho de um sociopata, mesmo que sob os holofotes da sétima arte.
A vírgula final: como termina esse filme, quando exibido no cinema?
Isso porque, no DVD, no item “extras”, há apenas uma coisa: um final alternativo.