“O Traidor” (Traitor)
“O Traidor” (Traitor)
Das pérolas inócuas do cinema de festim, pode-se deduzir que todo restaurante especializado em pratos do oriente médio, tão logo encerre suas atividades, cede as instalações para que terroristas conspirem à meia voz.
Se um décimo das bombas que Hollywood rabisca nos roteiros fosse real, não estaríamos – você e eu – travando esta tão interessante simbiose.
Outro mistério do cinema de festim: extrair o melhor de um ator.
Donald Frank Cheadle, ou, Don Cheadle para o fãs, interpreta o ex-integrante do que os gringos chamam de “blackops”, filho de um sudanês e de uma afro-americana, infiltrado no seio de radicais. Seu personagem é perfeito, e se o filme tivesse mais 20 minutos bem aproveitados, daria a densidade que convence.
América, terrorismo, islamismo, fé, ética, etc., são os temperos da trama, bons de conteúdo mas jogados ao sabor do comércio varejista. Faltou um pouco de sutileza da parte dos roteiristas, cujo nome Steve Martin, figura ao lado de Jeffrey Nachmanoff, este último diretor do evento. Estamos falando do ator e produtor Steve Martin, e não de um homônimo. Os ganchos do roteiro são muito bons, mas terminam que nem água na areia.
Para o historiador Fabre d‘Olivet, a raça negra dominou e escravizou a raça branca durante longo período, há muito tempo atrás, sendo o Sudão, uma das culturas mais antigas do planeta. Curioso destino do agente infiltrado Don Cheadle, mãe e amante atestam que sua fé é sua força, e de que ele não é um assassino. O mundo dos extremistas orientais o vê como um ídolo, e o dos ocidentais como um perigo a ser combatido.
Guy Pearce, representante das patentes reconhecidas, está no encalço do pseudo terrorista. O personagem de Pierce, apesar de agente do FBI, se doutorou em cultura árabe e é neto e bisneto de pastores anglicanos. Fazendo uma rápida tradução: entre uma explosão e outra emergem, como bolhas de sabão, pérolas teológicas e filosóficas.
Jeffrey Nachmanoff dirigiu “O Dia Depois de Amanhã”.
Don Cheadle tem luz própria e seu CV atesta essa afirmação: “Coisas Para Fazer em Denver Quando Você Está Morto”
“O Diabo Veste Azul”, “Onze Homens e um Segredo” (a trilogia), “Hotel Ruanda”, “Crash”, entre vários.
Para os que acabam de chegar no mundo cinematográfico e nunca ouviram falar de Cheadle, ou dos filmes acima, ganham o bônus de ver um ótimo ator, talvez numa de suas melhores performances, numa trama mediana,. Enquanto cinema de qualidade, impossível comparar “O Traidor” com “Crash”, mas o protagonista não só ajoelha para rezar, como aumenta o mistério sobre o cinema de festim: lapidar ainda mais um diamante lapidado.