Sombras de Goya
Feliz do pais que tem um Goya. A Espanha não forneceu ao mundo grandes nomes no humanismo. Por outro lado, abundam os Fernão Cortez, os Francisco Pizarro, os Torquemadas. Com certeza as condições históricas providenciaram tal fervor católico, visto ter a país sido forjado das lutas com os mouros muçulmanos, que ali foram barrados e tiveram que retroceder para a África. Mas ficaram as influencias na cultura junto das práticas da inquisição.
Mas se não há filósofos, há grandes pintores, Goya, Velásquez, Picasso, Dali, grandes cineastas, como Buñuel, Saura, grandes arquitetos, como Gaudí. E, é claro, Miguel de Cervantes.
Como disse Julio Bressane, o guru do cinema udigrudi (corruptela de underground) no Brasil, através do Bandido da Luz Vermelha, “quem não pode lutar, sacaneia”, e tais nobres artistas espanmhóis o que fizeram ao longo da obra senão sacanear, em face dos inquisitores, dos ditadores, e do preconceito?
Assim foi Goya, pintor oficial da corte, tinha que controlar o seu pincel para retratar sem grandes deformações a rainha que era feia, o rei que era ridículo, os infantes que pareciam uns animaizinhos obesos, mas não conseguia evitar que as medalhas de condecoração não ficassem parecidas com aranhas fixadas ao peito de tais personagens. Toda a corte o procurava para retratos cujo preço era definido pela dificuldade nos detalhes, caso aparecessem as mãos, o preço subia. E o contratou um certo padre, Lorenzo, figura de proa da Inquisição Espanhola, enquanto a sua musa Inês era presa pela inquisição e torturada para confessar-se judaizante.
Há muitas críticas do filme que consideram o filme ruim pois Goya seria um personagem secundário e desnecessário a trama. Que Natalie Portman é “careteira”, e estaria bem como Inês, mas fraca como a sua filha de 14 anos. Que Javier Barden consegue salvar o seu personagem, o padre Lorenzo, que apresenta caráter contraditório ao longo do filme, mas, cá entre nós, espera-se muito de Milos Forman, de Jean-Louis Carriére, o roteirista de Buñuel, e se espera muito mais de Goya. E o filme apresenta, na realidade, o ambiente em que Goya viveu e teve que trabalhar, e é realmente espantoso que homens como ele puderam produzir tanto em um mundo tão preconceituoso e imerso na ignorância e no misticismo mais tacanho. E, apesar do filme ter decepcionado a crítica é, ainda, um grande filme muito acima da média que usualmente é exibida, produção de época muito bem cuidada, figurinos excelentes, atores sensacionais.
E para que afirma que há pouco Goya no filme, o diretor, ironicamente, recheia os créditos finais com obras de Goya por mais de 15 minutos, enquanto soam os acordes de música típica espanhola e ninguém consegue despregar os olhos da tela. Excelente.
A sinopse do filme é:
» Sinopse: Nos primeiros anos do século XIX, em meio ao radicalismo da Inquisição e à iminente invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão, o gênio artístico do pintor espanhol Francisco Goya é reconhecido na corte do Rei Carlos IV. Inés, a jovem modelo e musa do pintor, é presa sob a falsa acusação de heresia. Nem as intervenções do influente Frei Lorenzo, também retratado por Goya, conseguem evitar que ela seja brutalmente torturada nos porões da Igreja. Estes personagens e os horrores da guerra, com os seus fantasmas, alimentam a pintura de Goya, testemunha atormentada de uma época turbulenta.
Sombras de Goya (Goya's Ghosts)
Elenco: Natalie Portman, Javier Bardem, Stellan Skarsgård, Randy Quaid, Balbino Acosta, Wael Al Moubayed, Simón Andreu.
FilmesEstreia: 28 de Dezembro de 2007