Morangos Silvestres

Juro que nunca mais verei os Morangos Silvestres.

Prefiro manter na memória todo o encanto que o grande filme de Ingmar Bergman me proporcionou, do que arriscar-me a constatar que o filme envelheceu e perdeu a graça. Da mesma forma como não quero mais ver a garota por quem eu era apaixonado aos dezoito anos e que hoje deve ser uma velha.

Mas recordar é muito bom. E é exatamente esse o assunto do filme, as memórias familiares da infância em contraste com a realidade do presente.

No filme, feito em 1957, vemos o jovem Bergman, que havia iniciado a carreira em 1949, no domínio completo da arte cinematográfica, contando a história do Dr. Borg, aos 79 anos, relembrando cenas importantes de sua vida como se as visse, numas mistura fascinante de tempos, uma influência talvez do teatro que Bergman tanto ama, com suas cenas em dois tempo apresentadas quase que simultaneamente com efeitos de iluminação. Assim, o velho dr. Borg, após ter sonhado com a sua própria morte, passa a ver a sua amada da juventude, uma outra cena de traição de sua mulher, ou o seu pai distante, pescando. Tal técnica será aprimorada magistralmente em outro filme premiado da década de 80, “Fanny e Alexandre”, que também merece ser visto.

Sinopse. No caminho da Universidade de Lund, onde receberá um prêmio pelos 50 anos de carreira, o professor de medicina Isak Borg (interpretado magistralmente pelo cineasta Victor Sjöström) relembra os principais momentos de sua vida, temendo a morte que se aproxima. Ao lado de Umberto D., de Vittorio De Sica, e Viver, de Akira Kurosawa, Morangos Silvestres é um dos mais belos filmes sobre a velhice.

Ficha técnica:

Morangos Silvestres

(Smultronstället, 1957)

Direção: Ingmar Bergman

Roteiro: Ingmar Bergman (escrito por)

Gênero: Drama

Origem: Suécia

Duração: 91 minutos

Tipo: Longa

Elenco :

- Ator/Atriz - Personagem

- Gunnar Björnstrand -Dr. Evald Borg

- Bibi Andersson -Sara

- Victor Sjöström -Dr. Isak Borg

- Ingrid Thulin –Marianne Borg

- Gunnar Sjöberg Sten Alman / O Examinador

- Jullan Kindahl -Agda

- Folke Sundquist -Anders

A LONGA VIAGEM DE VOLTA. ( para meu pai)

Demorei a perceber

Que a longa viagem de volta

Já terminou,

Na verdade, nem começou.

Demorei a me livrar dos afazeres

Que não tem começo nem fim

E que servem para acordar,

Para entorpecer.

Imaginava o fim da viagem

Como se chegasse na casa da infância,

E que me sentisse seguro,

Como naquele filme

- Morangos silvestres -

Em que se vê o pai pescando,

De longe, muito de longe,

E se o teu pai está pescando,

Na certa estás seguro,

Porque o pai tem todas as explicações

E elas satisfazem,

Mesmo que sejam absurdos completos de pai.

Demorei a perceber

Que o pai também era humano,

E também precisava de explicações.

E que a viagem

Se não é viagem de volta

É viagem pra frente,

Ou talvez nem seja viagem.

Demorei, sim demorei,

Demorei tanto que hoje eu sou o pai

E preciso encontrar explicações para os meus filhos.

Jacques Levin

Publicado no Recanto das Letras em 13/08/2006

Código do texto: T215474

Filmografia:

1945 - "Crise"

1946 - "Chove sobre nosso amor".

1947 - "Um Barco para a Índia"

1947 - "Música na Noite"

1948 - "Porto e "Prisão"

1949 - "Sede de Paixões"

1949 - "Rumo à Alegria"

1950 - "Isto Não Aconteceria Aqui"

1951 - "Juventude"

1952 - "Quando as Mulheres Esperam"

1952 - "Mônica e o Desejo"

1953 - "Noite de circo"

1954 - "Uma lição de amor"

1955 - "Sonhos de Mulheres" e "Sorrisos de uma noite de amor"

1956 - "O Sétimo Selo".

1957 - "Morangos Selvagens"

1957 - O sr. Sleeman está chegando (TV)

1958 - O Veneziano (TV)

1958 - "No limiar da vida" e "O rosto"

1958 - Rabinos (TV)

1959 - "A fonte da donzela"

1960 - "O olho do diabo"

1960 - A Tempestade (TV)

1961 - "Através de um espelho"

1962 - "Luz de Inverno"

1963 - "O silêncio"

1963 - "Uma Comédia do Sonho" (TV)

1964 - "Para não falar de todas essas mulheres"

1965 - "Don Juan"

1966 - "Quando Duas Mulheres Pecam"

1968 - A Hora do Lobo, "Vergonha" e "Daniel" (episódio do longa "Stimulantia")

1969 - "O rito" (TV), "Paixão de Ana" e "FArö - Documentário 1969" (TV)

1971 - "A Hora do Amor"

1972 - "Gritos e sussurros"

1973 - "Cenas de um Casamento"

1974 - "A flauta mágica" (TV)

1974 - O Misantropo (TV)

1975 - "Face a face"

1977 - "O ovo da serpente"

1978 - "Sonata de outono"

1979 - Farö Documentário - 1979 (TV)

1980 - "Da vida das marionetes"

1983 - "Fanny e Alexander"

1983 - "Hustruskolan" (TV)

1984 - "Depois do Ensaio" (TV)

1984 - "O Rosto de Karin"

1986 - "A filmagem de Fanny e Alexander" (TV)

1986 - "A Dupla Feliz" (TV)

1992 - "O marquês de Sade" (TV)

1993 - "Backanterna" (TV)

1995 - "O Último Soluço" (TV)

1997 - "Na Presença de um Palhaço" (TV)

2000 - "Bildmakarna" (TV)

2003 - "Saraband"